Não posso evitar uma homenagem ao meu Tomás!
O Tomás era coelhinho anão albino, de pêlo branco, orelhas cinzentas e olhos vermelhos.
Encontrei-o à venda no mercado de S. Pedro de Sintra, e por parecer tão mansinho e fofo comprei-o na hora. Lembro-me que nos primeiros minutos ele não foi muito à bola comigo. Preferiu o meu namorado que tinha umas mãos maiores e mais quentinhas!
Rapidamente, nesse mesmo dia, conquistou os meus pais e o seu lugar lá por casa e nos corações de toda a gente! A minha mãe derreteu-se mal viu aquela bola de pelo pequenina. O meu pai armou-se em duro, mas tal pose foi-se automaticamente abaixo, mal ele pegou no coelhinho e este adormeceu nas suas mãos.
Em menos de nada tornou-se no menino da casa. A sua felicidade para nós era fundamental, e por isso estava fora de cogitação prendê-lo numa gaiola.
Sempre andou à solta, e era muito asseado, pois fazia as necessidades numa caixinha com areia.
Ao início, moravámos num apartamento portanto era na cozinha que ele tinha a sua caminha, a sua caixinha e brinquedos.
Desde cedo que o habituei a ir comigo para todo o lado. Todo o lado mesmo! Se saía para tomar café ele ia comigo, e levava-o muito frequentemente para a faculdade.
Guardada comigo ia uma caixinha de sapatos com palha onde ele podia dormir enquanto as aulas decorriam, (ele ficava aos meus pés), e por vezes lá ia cheirar os sapatos dos professores e dar uma voltinha pela sala! Era muito engraçado!
Também levava um brinquedo, um tupperware com ração e uma garrafa de água, e era tudo o que precisávamos! Era mimado por todos, até as senhoras do bar lhe preparavam uns quadradinhos de fruta!
Nos transportes públicos também se portava lindamente! Adorava andar de comboio! Sentáva-se quietinho no meu colo e ficáva hipnotizado pela paisagem que passava pelas janelas.
Pouco tempo depois mudámos para uma casa com jardim, o que lhe fez as delícias! Em primeiro, porque havia uma pequena arrecadação ao lado da garagem que preparámos para ser o quartinho dele, e só o fechávamos lá dentro quando íamos dormir.
Em segundo, porque aquele sacaninha adorava dar umas corridinhas pela relva, dormir debaixo das hortênsias e debicar as flores.
Odiava tomar banho. De tão pequeno que era, nem precisava da banheira, o lavatório tinha espaço suficiente!

Mas adorava que o secasse com o secador e o escovasse.
Dava muitos beijinhos, mas só na cara. E adormecia durante horas se o pegássemos ao colo como um bébé e o embalássemos.
O seu brinquedo favorito era uma pequena bola de futebol fofinha que veio num happy meal, e ele tanto corria com ela como a usava como namorada insuflável !
Era muito especial e meiguinho, e tudo parecia perfeito até ele adoecer.
De um momento para o outro deixou de mexer as perninhas de trás. Corremos tudo o que era vet, mas ninguém apresentou soluções nem pareciam existir pistas sobre qual seria o problema.
Lembro-me de dizerem que seria necessária uma biópsia para determinar o mesmo, mas que o risco era demasiado elevado e ele poderia morrer com a anestesia.
Teimoso como era, arrastava-se pelo chão. Se o prendêssemos arranjava maneira de se soltar, arrancava as ligaduras... Em pouco tempo as perninhas ficaram muito feridas e nada que fizèssemos ou nenhum remédio parecia ter efeito. Nunca me senti tão frustada e impotente!
Só os mimos, os momentos em que dávamos beijinhos um ao outro o pareciam acalmar e diminuir a dor.
O desespero foi total quando ele só comia da nossa mão, e mesmo assim tínhamos que o convencer pois ele virava a carinha para o outro lado.
A última vez que ele foi ao hospital veterinário já não voltou. Antes de ele ir abracei-o muito, e beijei-o ainda mais, ao que ele correspondeu com tanta sofreguidão como eu, como se assim fosse possível armazenar aqueles momentos para o futuro.
Quando os meus pais me ligaram depois de saírem do vet e disseram "já está", chorámos os três compulsivamente. Foi muito duro aquela perda e a sensação de ter falhado na promessa de proteger aquele menino.
Ainda hoje, quando passaram 3/4 anos desde que o perdemos, qualquer um de nós ainda pára quando vê um coelhinho parecido com o Tomás.
Vai parecer rídiculo mas até olhamos com carinho para as coisas que ele roeu.
Desculpem o texto tão longo, mas o Tomás foi (e é) muito importante para mim. Tenho tantas saudades!
ulisseia