Esta é daquelas datas que não se comemoram mas que são precisas ser lembradas pois ainda hoje se sente os seus efeitos. Quando cada vez mais se consume mais energia no mundo, creio que é necessário investir-se mais nas energias amigas do ambiente e pôr um travão aos gastos desmedidos


Chernobyl vinte anos depois:
"Uma explosão com a força de 200 bombas como a de Hiroxima e um incêndio que demorou 10 dias a apagar indiciaram o maior acidente nuclear de sempre. Em 1986, Chernobyl acordou para um drama que ainda faz vítimas.
O JANEIRO recorda um dos dias que mudaram o mundo...
Carla Teixeira
Foi há precisamente 20 anos, às primeiras horas da madrugada de 26 de Abril de 1986, que os trabalhadores do quarto reactor da Central Nuclear Vladimir Lenin, em Chernobyl, na actual Ucrânia (então pertencente à União Soviética), receberam de Moscovo instruções especiais para a realização de uma experiência. No dia anterior, o reactor tinha sido programado para ser desligado no âmbito de uma manutenção de rotina, tendo então sido decidido que essa seria a oportunidade ideal para testar a capacidade do gerador para a produção de energia a fim de manter operacionais os sistemas de segurança (nomeadamente as bombas de água), em caso de falha energética externa. Antes de a experiência ter início, por volta da 1h30, terão sido desactivados todos os módulos de segurança. A energia para as bombas de água foi cortada, levando à diminuição do fluxo, por inércia do gerador da turbina, que foi desconectada do reactor, aumentando o nível de vapor do seu núcleo, levando à gradual formação de bolhas de vapor nas linhas de resfriamento. Segundo informações disponíveis relativas ao desenvolvimento da experiência, em nenhum momento a situação instável do reactor se reflectiu no painel de controlo, pelo que nenhum dos operadores estaria ciente do perigo que corriam. Os acontecimentos que se seguiram não puderam contudo ser controlados, e uma catastrófica explosão de vapor resultou na deflagração de um incêndio, numa série de explosões adicionais e num derretimento nuclear que destruiu totalmente a cobertura de blindagem de mais de mil toneladas.
Como uma chaleira sem água que é esquecida no lume, a área em torno do reactor atingiu temperaturas na ordem dos dois mil graus celsius, as varetas do combustível derreteram e o vaso de pressão em grafite entrou então em combustão. A fissão nuclear libertou para a atmosfera milhares de substâncias radioactivas, numa nuvem potencialmente letal que, podendo ser vista a largos quilómetros de distância, cobriu toda a Escandinávia e grande parte da Europa até à Escócia, assombrando todo o hemisfério Norte. Foram necessárias 36 horas para que as autoridades concluíssem e anunciassem os planos de evacuação da unidade, e o combate às chamas levou 10 dias, durante os quais foram atirados para a atmosfera níveis de radioactividade equivalentes aos de 200 bombas como a que foi lançada pelos Estados Unidos em Hiroxima.
A combinação de procedimentos violados, falhas conceptuais de desenho, quebra nas comunicações e a falta de processos de segurança apropriados conduziram ao pior acidente nuclear de sempre, em que 31 pessoas morreram instantaneamente, entre operários da central e bombeiros que tentavam apagar o fogo, estimando-se que, desde 1986, tenham morrido mais de 2.500 pessoas das zonas circundantes, e que milhares sofram ainda de problemas de saúde causados pelas altas radiações produzidas durante o acidente.
O encerramento da central de Chernobyl só foi possível em 2000, depois do acordo alcançado, cinco anos antes, com o grupo dos sete países mais industrializados do mundo, que contribuíram com uma verba superior a sete mil milhões de dólares para o encerramento da unidade e para alavancar vários programas de assistência. Decorridos 20 sobre o acidente, o nível de radioactividade junto ao reactor 4 mantém-se ainda 40 vezes superior ao normal, o que leva a que, por todo o mundo, haja ainda campanhas de alerta para as consequências da catástrofe...
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Causas
Teorias contrárias
Culpa humana ou deficiência do projecto são as duas teorias oficiais apontadas para explicar o acidente de 1986 em Chernobyl. São duas versões contraditórias que não satisfazem os especialistas que se debruçaram sobre o estudo das causas do maior acidente nuclear de sempre. A primeira foi publicada volvidos apenas quatro meses sobre a explosão, e atribuiu a culpa em exclusivo aos operadores da central nuclear, que não estariam informados sobre determinados problemas e limitações do reactor, já que, de acordo com o cientista Anatoli Dyatlov, o projectista do reactor sabia que o aparelho poderia tornar-se perigoso em determinadas condições – em virtude do seu coeficiente a vazio perigosamente elevado e da existência de um defeito nas hastes de controlo –, mas terá omitido essa informação de forma intencional.
Regras violadasÀ luz desta teoria, os operadores terão sido descuidados e violado procedimentos, em parte porque ignoravam os defeitos de projecto, mas outras medidas irregulares, como a comunicação ineficiente entre os operadores responsáveis pela experiência em curso e as equipas de segurança, terão também contribuído para o acidente, já que muitos dos sistemas de protecção do reactor terão sido desligados, ao contrário do que estipulavam os guias técnicos. Segundo o relatório da Comissão do Governo divulgado em Agosto de 1986, os operadores terão removido 204 das 211 hastes de controlo do núcleo do reactor, quando o guia proibia a sua laboração com menos de 15 hastes na zona de núcleo. A segunda teoria, publicada em 1991, considerou que o acidente se deveu exclusivamente a defeitos no projecto do reactor, em concreto nas hastes de controlo." In Primeiro de Janeiro