O Principezinho
Enviado: quarta fev 11, 2004 1:43 am
«- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu o principezinho com delicadeza. Mas ao voltar-se não viu ninguém.
- Estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira.
- Quem és tu?, disse o principezinho. És bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Anda brincar comigo, propôs-lhe o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Ah! perdão, disse o principezinho.
Mas depois de ter reflectido, acrescentou:
- Que significa cativar?
(...)
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás único para mim. Serei para ti única no mundo...
(...)
- Levo uma vida monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os homens são iguais. Por isso me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o Sol iluminasse a minha vida. Distinguirei, de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus hão-de atrair-me para fora da toca, como uma música.
E depois, olha! Vês adiante os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E é triste. Mas os teus cabelos são da cor do oiro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso. Como o trigo é doirado, fará lembrar-me de ti. E hei-de amar o barulho do vento através do trigo...
A raposa calou-se e olhou muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me, por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer muitas coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. mas como não
existem mercadores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.»
Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
- Bom dia, respondeu o principezinho com delicadeza. Mas ao voltar-se não viu ninguém.
- Estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira.
- Quem és tu?, disse o principezinho. És bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Anda brincar comigo, propôs-lhe o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Ah! perdão, disse o principezinho.
Mas depois de ter reflectido, acrescentou:
- Que significa cativar?
(...)
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás único para mim. Serei para ti única no mundo...
(...)
- Levo uma vida monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os homens são iguais. Por isso me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o Sol iluminasse a minha vida. Distinguirei, de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus hão-de atrair-me para fora da toca, como uma música.
E depois, olha! Vês adiante os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E é triste. Mas os teus cabelos são da cor do oiro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso. Como o trigo é doirado, fará lembrar-me de ti. E hei-de amar o barulho do vento através do trigo...
A raposa calou-se e olhou muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me, por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer muitas coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. mas como não
existem mercadores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.»
Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho