Lembram-se do Labrador que atacou a dona há tempos?
Enviado: segunda mai 01, 2006 2:27 pm
http://www.correiomanha.pt/noticiaImpri ... &id=183520Cara nova foi dada por suicida
Esta é a história de duas mulheres, ambas francesas, da mesma idade, 38 anos, e desesperadas ao ponto de tentarem o suicídio. Uma delas, Isabelle Dinoire – sobrevivente a uma dose excessiva de soporíferos, mas desfigurada pelo seu cão, que pretenderia acordá-la – saltou para as páginas dos jornais após receber o primeiro transplante facial. Quem lhe deu a nova cara foi uma mulher com um percurso semelhante ao dela, que, no entanto, concretizou o suicídio, por enforcamento.
Isabelle Dinoire, que recebeu a face de uma suicida,
O jornal inglês ‘The Sunday Times’, na edição de ontem, revela o passado trágico da mulher doadora da face de Isabelle Dinoire, que assumiu a tentativa de suicídio, negada antes pelos médicos.
Na primeira declaração pública após a cirurgia, Isabelle Dinoire disse estar “muito grata” à mulher que lhe doou a face, cujo nome não foi revelado, ao abrigo da lei francesa. Olivier Jardé, professor de Ética do Hospital Universitário de Amiens, disse apenas que se enforcara e chegou ao hospital de Lille em estado de morte cerebral. Foi a família que autorizou a remoção da cara da suicida para implantação na mulher que sobre- vivera, embora mutilada.
MÉDICO NÃO FALOU VERDADE
Isabelle Dinoire admitiu que há seis meses tentou matar-se. Foi quando estava inconsciente que o cão lhe abocanhou a cara, no que foi até agora, erradamente, descrito como um ataque. Mãe solteira de duas adolescentes e desempregada, a francesa contou que tomou uma dose excessiva de comprimidos para dormir, em Maio, na sua casa camarária, em Valenciennes. Recusou adiantar o que a levou a tentar o suicídio. “É segredo.” Uma amiga falou em desgosto amoroso.
O que Isabelle disse anteontem contradiz declarações anteriores do médico que realizou o transplante, Jean-Michel Dubernard. Na sexta-feira, o especialista negou a informação, veiculada por um jornal francês, sobre a tentativa de suicídio. Dubernard disse que a sua paciente só tomara um calmante após ter discutido com uma das filhas e que tinha acabado de acordar quando foi atacada, presumivelmente por ter tropeçado no cão, um labrador preto.
A tentativa de suicídio aproxima de modo espantoso Isabelle do estado de espírito da mulher que lhe doou o rosto, mas lança mais uma acha na fogueira ética ateada pelo primeiro transplante facial. Vozes críticas sublinham que só alguém com uma estrutura psicológica muito forte, ou seja, pouco vulnerável à depressão, será capaz de adaptar-se a tornar sua a cara de alguém que morreu, bem como a suportar a curiosidade mediática associada a uma cirurgia absolutamente pioneira.
SAÍDAS SÓ DE MÁSCARA
Isabelle gostou quando se viu ao espelho. “É impressionante. Eles devolveram-me a cara.” A que tinha antes do transplante, mutilada, assustava até as filhas adolescentes. Isabelle usava máscara para ir à rua, levando as pessoas a pensar que tinha medo de micróbios.
Sobre a sugestão de que estaria desesperado para fazer a operação antes dos médicos americanos, Dubernard afirmou apenas que decidira realizá-la quando Isabelle tirou a máscara e ele pôde ver-lhe a cara. “É sempre bom fazer progressos, não pelo progresso em si, mas pelo paciente.”
ISABELLE DIZ QUE FOI O CÃO QUE A SALVOU
Foi a própria Isabelle Dinoire a reconhecer que o seu cão – um labrador preto, até agora acusado de a ter atacado brutalmente e desfigurado – procurou reanimá-la quando ela se encontrava inconsciente, após ter tentado matar-se com comprimidos para induzir o sono.
Através do telefone, Isabelle disse a uma amiga e ao repórter do ‘The Sunday Times’ que o cão terá provavelmente começado a lamber-lhe a cara e depois a mordê-la, até que acordasse.
A recuperar de uma cirurgia que demorou 15 horas, a paciente – com uma voz descrita como “ciciante mas surpreendentemente forte” – afirmou estar muito triste com o facto de o animal ter sido condenado ao abate. Isabelle acredita que o cão, conseguindo acordá-la, lhe salvou a vida.
A francesa comprou, entretanto, outro cão – um cocker spaniel –, tratado pela mãe enquanto ela está hospitalizada. Isabelle está desejosa de voltar a casa, à companhia das filhas e do animal doméstico.
Operada entre domingo e as primeiras horas de segunda-feira da semana passada, Isabelle afirmou possuir já alguma elasticidade no rosto – consegue abrir e fechar a boca e compor expressões.
Mas, por enquanto, ainda não consegue sentir a cara ou qualquer sensação através dela. “Os médicos dizem que isso acontecerá apenas dentro de alguns meses.”
Isabel Ramos