Pediram-me que traduzisse uma info postada pela JClarinos no outro tópico sobre o assunto no fórum Cães, reproduzo aqui a minha tradução para info complementar:
Recomendações para iniciar a alimentação em cru:
1 – Deve começar com 2 a 3% do peso estimado do seu cão em adulto. Dê mais carne se o animal estiver magro, um pouco menos se começar a ficar “anafadinho” no espaço de poucas semanas desde que iniciou a nova dieta.
Comece por pesar o cão e as refeições, á medida que se vai adaptando e ganhando hábito deixará de o fazer. Os cães de pequeno porte, cadelas grávidas, cachorros e cães de muita actividade podem exigir percentagens maiores (4 a 5% do peso) enquanto que a manutenção de cães de porte grande e gigante, com excesso de peso ou de pouca actividade pode exigir apenas 2% ou menos.
2 – Descarte a ração seca e a de lata, não há qualquer vantagem em misturar ambas as dietas. O seu cão colherá mais depressa os benefícios da dieta em cru se descartar de imediato a ração preparada. A alimentação natural da espécie que pressupõe o consumo de presas inteiras não inclui granulado, vegetais, cereais, lacticínios, frutas ou suplementos.
3 – Comece por dar 2 refeições por dia (3 para cachorros co menos de 6 meses ou cães de porte mini). Alimentar uma vez por dia até pode ser um bom plano para um cão, mas não é recomendável de início para que a introdução da nova dieta não cause distúrbios digestivos. Sirva a peça inteira, não parta em pedaços pequenos. Os cães tendem a rasgar a carne e a esmagar os ossos com as peças inteiras, coisa que não farão se partir em pedaços pequenos. É bom que o cão mastigue, é bom para o seu bem estar mental, físico e para a saúde dos dentes.
Se não mastigarem a comida, a digestão começa no estômago e não nas suas bocas. Engolir grandes bocados de carne ou osso pode não causar problemas. Se não “assentar” bem no estômago, o cão vai regurgitar os pedaços e tornar a consumi-los. Não tem problema, é assim que os cães funcionam.
4 – Inicialmente, forneça quantidades menores. A alimentação nova pode trazer distúrbios digestivos, especialmente quando se introduz subitamente uma grande quantidade da mesma. No entanto, muitos cães regulam-se a si mesmos ou aprendem a fazê-lo. Isso quer dizer que comerão o necessário, independentemente da quantidade que lhes forneça. Outros, pelo contrário comerão tudo o que lhes ponha à frente, portanto “conheça o seu cão” é um ditado que se aplica aqui. À medida que se vão adaptando pode ir servindo porções mais carnudas, porco, língua, coração de vaca, etc.
5 – Mantenha-se num tipo de carne durante uma semana ou duas. É necessário ver se o cão se está a ajustar bem antes de introduzir outras variedades de carne.
6 – Mude de carne gradualmente tal como o faria com a mudança de ração.
7 – A carne sem osso tende a produzir fezes mais soltas. É necessário haver uma certa quantidade de osso ou cartilagem para “firmar” as coisas. Contudo, verificará que a quantidade de fezes diminui muito: a alimentação raw é muito mais digerível portanto há muito menos desperdício. A frequência também diminuirá pelas mesmas razões. Demasiado osso faz com que as fezes saiam secas e se esfarelem.
8 – Recomenda-se galinha ou frango para começar por várias razões: é barato, fácil de arranjar, fácil de cortar em pedaços adaptados a cada tamanho de cão, é fácil retirar pelo e excesso de gordura, todos os cães pegarão e é bastante tenro. O melhor é começar com peças inteiras.
9 – Alguns cães poderão vomitar ou defecar pedaços de osso. Trata-se do período de adaptação portanto dará osso mas demasiado osso pode não ser digerido. Pode ser o modo do cão “dizer” que está a dar demasiado osso.
10 – Alguns cães poderão vomitar bílis quando introduzidos à nova dieta. Isso deve-se ao facto dos hábitos alimentarem terem sido muito alterados. Quando um cão se ajusta à raw, os seus sucos gástricos tornam-se mais ácidos para digerir melhor a carne e os ossos. Quando está à espera da sua porção, os sucos começam a ser segregados em antecipação à refeição. Se não lhe der nada, o cão poderá vomitar uma espuma amarelada. Também o podem fazer porque a digestão da carne crua é mais rápida que a digestão da ração, o estômago está vazio e pede uma nova refeição. Não há problema para o animal, é normal.
11. Muitos cães deixarão de beber a quantidade de água que costumavam consumir. É normal, a carne tem um teor de água muito maior que a ração seca. Com o granulado os cães são forçados a beber mais água.
12 – A diarreia verdadeira não são fezes soltas ou moles, são “explosões” de fezes líquidas incontroláveis. A diarreia verdadeira é causada por parasitas, doenças ou comida estragada ou mesmo por coisas ingeridas que não comida.
As fezes moles ocasionais vêm de se dar demasiada carne sem osso ou devido a introduzir novos tipo de carne ou vísceras e não é diarreia.
13 – A regra geral é: 80% de carne (músculo, gordura, pele), 10% de osso ou cartilagem consumível (nem todo o osso que é servido é consumido) e 10% de orgãos (5% fígado, restante a maior variedade que possa arranjar). Isto não é imutável, ajuste ao longo das semanas.
Se fornecer uma peça inteira, um animal inteiro (galinha, coelho, codorniz, pato...) o rácio entre osso e carne / orgãos será o perfeito para o cão. Todas as partes que ele possa comer serão apropriadas.
Na vida selvagem, os lobos levam dias a consumir uma presa inteira e cada lobo come partes diferentes da mesma. Se viverem tempos difíceis, toda a carcaça será consumida, incluindo pele, pêlo e até os ossos longos serão partidos para comerem o tutano e caçarão presas mais pequenas como coelhos, ratos e aves que consumirão inteiras. Se houverem muitas presas escolhem as partes melhores e deixam o resto.
Devido à variação de tamanho, idade, temperamento, experiência de vida e habilidade dental dos nossos cães um cão em particular será capaz de consumir, ou não, tudo, parte ou apenas uma parte do osso de um animal em particular. O interesse é oferecer peças que possam simular a experiência de comer uma presa inteira.
14 – Orgãos e vísceras: Não introduza muita variedade de início. Junte as moelas e o coração do frango, um pouco em cada refeição. O coração e a moela são orgãos mas devem ser considerados como carne limpa. O fígado pode ser partido em pedaços pequenos e dado em pequenas quantidades para não provocar fezes soltas.
Pode dar: fígado, coração, carne das bochechas e cabeça de vaca ou porco, patas, rabo, baço, lingual, rins, traqueia, pulmões, orgãos reprodutivos, esófago, tripas, timo e pancreas, orelha, cérebro, moelas, pescoços e patas de galinha, cabeças inteiras.
15 – Pode dar qualquer animal que esteja disponível e que não o leve à falência, galinha, peru, borrego, cabra, vaca, coelho, peixe, porco, etc. Noutras partes do mundo outras carnes haverão, caça, avestruz, codornizes, búfalo, enfim, a lista não tem fim.
16 – Se acha que deve dar suplementos dê óleo de peixe, em cápsulas ou líquido. Certifique-se que não contém óleo de soja ou de outras plantas. Siga a recomendação e posologia do fabricante.
No caso de certas doenças poderão ser necessários outros suplementos receitados pelo vet, mas isto é a excepção, a grande maioria dos cães passarão bem sem suplementos e vitaminas.