Marggo, o estalão americano tem umas nuances que diferem um pouco do estalão da FCI, pois eles adaptaram-no ao estado dos boxers americanos... O AKC é um organismo quase independente nestas coisas, eu pessoalmente não concordo muito, pois se o estalão é dito internacional não deveria ser alterado só porque estamos na América!
E depois os cães americanos só tem em vista a beleza, nunca o trabalho, e o que tenho retido do que falo com criadores americanos é que eles estão muito desleixados a nível de saúde (demais)... e o que acontece é que cerca de 60% dos boxers americanos(EUA, Canadá e América do Sul) neste momento sofrem de problemas cardiovasculares...
No que respeita ao estalão, bem, o estalão tem de ser respeitado por um lado, mas temos de ver que as raças vão evoluindo ao longo dos anos, senão neste momento teríamos boxers como existiam nos anos 30 (andam por aí muitos exemplares que parece que não passaram dessa época, principalmente os que provém de cruzamentos não seleccionados, pois as falhas vem ao de cima...)... Pelo que podemos reter é que, por exemplo, hoje em dia pegamos num macho com 8 anos, e a maior parte deles são obsoletos face aos machos actuais, não deixando de ser bonitos, obviamente... depois temos as "lendas"... boxers que se dizem quase perfeitos e que marcam, pelas suas qualidades de reprodução, as gerações vindouras... para exemplificar, com a "ascensão" do Teck dell Colle dell Infinito muita coisa mudou a nível quer de qualidade de criação, quer de ideal de boxer!
Uma evolução, que tem também dado muita polémica, é a cabeça... Uma coisa tem de ser referida e SEMPRE SEMPRE respeitada, as proporções da cabeça de um boxer, independentemente das tendências que possam vir a surgir, tem de se reger pelo cubo, ou seja, tem de apresentar sempre inserção correcta num cubo, sendo tão alta e larga como comprida, e o focinho por si também tem de apresentar quase tanto de altura como largura e comprimento. o problema aqui é que os criadores (seleccionadores) buscam, dentro da variedade normal dentro do estalão, variedade essa perfeitamente aceitável, um ideal que lhes pareça mais bonito, e nem todos tem o mesmo gosto...
Pegando neste "gosto pessoal", relembro que por exemplo os italianos preferem, de uma forma geral, uma cabeça mais estilizada e elegante, a fugir para a altura, mas nunca deixando de parecer imponente, e por isso larga, e respeitam sempre a forma cúbica do focinho... Se formos a pegar na dita "cabeça alemã" apercebemo-nos que preferem cabeças um pouco mais "pesadas", não tão altas, mas bastante mais largas com um maxilar pronunciado, tudo naquelas cabeças tende para a potência de maxilar, sem o focinho ser demasiado curto... Temos todavia criadores que apreciam mais a hipertipicidade de focinho, em que a cabeça pode ou não ser de um estilo marcado, sendo por isso uma cabeça "normal", mas apresentando um focinho demasiado curto, com excessivo prognatismo e maxilar muito subido... temos um bonito exemplo desta cabeça, o famoso Sherpa des Jardins de Passiflore...
Hoje em dia os juízes, e mesmo os criadores, andam a fugir todos para esta hipertipicidade, em que as características do boxer, como o nome do termo indica, tendem para o exagero, ou seja, demasiado fortes, peito demasiado descido, corpo demasiado curto, tamanho exagerado, focinho demasiado curto, cabeça mais pesada... O que se põe em causa aqui é se isso pode ser feito livremente ou se as pessoas devem ter mais cuidado na selecção dos cães... Pessoalmente acho que os valores superiores do estalão, no que respeita ao tamanho, estão ajustados, e que as pessoas deveriam buscar, quando tem uma femea grande (como é o meu caso), um macho mediano ou mais baixo para cruzar, pois nós temos boxers e não dogues alemães! A alterar seria talvez o valor inferior pois hoje em dia verifica-se que não há, ou quase não há, fêmeas e machos que apresentem os valores minimos, quanto mais a tolerância abaixo disso... em suma, devemos alterar no estalão os aspectos que hoje em dia se tornaram ridiculos visto não existirem cães que apresentem essas características... se TODOS os machos, por exemplo, atingem valores minimos de altura de 59cm, porque existir um estalão que compreende machos com altura de 57cm, ainda pra mais com 2 ou 3 cm de tolerância para baixo??? Todas as características que hoje já não fazem sentido, é justo e correcto que sejam rectificadas...
Felizmente ou infelizmente chegámos a um momento de homogeneidade em ringue nos boxer, ou seja, praticamente todos os exemplares encontram-se dentro do estalão ou compreendem as chamadas tolerâncias (todos os cães, mesmo o mais bonito de todos, apresenta defeitos e exageros/falhas, mas há que avaliar não o cão aos bocadinhos mas sim o que esses mesmo defeitos provocam no conjunto, temos sempre de avaliar o cão como um todo e não só a cabeça, o peito, o comprimento, etc,etc)... digo infelizmente porque algumas homogeneidades apresentam-se "deturpadas"... eu que ando a "focinhar" nestas coisas há uns anos, pois tenho pretensão, se o sucesso me bafejar

, vir um dia a ser juíza desta raça (mas não fiquem já com esperanças que eu não lambo botas a ninguém nem deixo que mas lambam, sou má como as cobras!

) apercebo-me, por exemplo, que muitos, mas mesmo muitos cães apresentam um mal que é considerado defeituoso... são vazios, ou seja, o focinho apresenta estreiteza face à cabeça, sendo o defeito minorizado pelo excessivo encurtamento, ou seja, um focinho curto disfarça (e em muitos casos bastante bem) o estreitamento do mesmo... e não estou a falar de cães razoáveis, nem de cães "excluídos", estou a falar de cães de topo que, fora este "petit problem" são magníficos, muitos deles sagrados campeões e óptimos reprodutores... E o que fazer neste caso? É aí que a criação racional e a selecção de exemplares toma forma e assume grande responsabilidade... pois por muito bom que seja o cão, se queremos "limpar" uma ninhada nossa deste problema, nunco devemos cruzar tal animal com um exemplar que apresenta o mesmo defeito, com o risco dos filhos virem com aspecto menos vistoso que qualquer um dos pais, mostrando notoriamente o defeito que era disfarçado nos seus progenitores... isto é um tiro no escuro pois ainda não temos a capacidade de "Deus" e não adivinhamos como vai ser a ninhada, mas o simples facto de se estudar o tipo de cruzamento já vai ajudar, e muito, uma evolução no bom sentido da raça...
Eu falei neste exemplo para mostrar mais claramente o que se deve, ou deveria, realizar no mundo da criação, mas em todos os aspectos isto é estudado, e digo mesmo em todos, daí um bom criador estar sempre em cima do acontecimento no que respeita a cruzamentos, machos, seus descendentes, características, etc... para não fazer "burrada" no dia em que decidir cruzar a sua cadela... pois o LOP e os títulos ganhos pelo cão não influenciam absolutamente NADA uma boa criação... um bom reprodutor não implica ser um coleccionador de títulos, e vice-versa... um bom reprodutor é aquele, macho ou fêmea (estas sempre postas de parte mas nunca nos podemos esquecer que o valor genético é 50-50, ou seja, ambas as partes contribuem igualmente para a criação), que cria descendência igual ou melhor que ele, com os defeitos minorizados e as qualidades magnificadas. Não digo que um bom reprodutor não tem filhos com defeitos, digo sim que um bom reprodutor apresenta pelo menos metade da sua ninhada com qualidades iguais ou superiores ao seu progenitor...
Esta questão é de maior importância quando nos debruçamos sobre oestalão da raça pois um sumo não se faz sem fruta, ou seja, os cães que por aí aparecem em ringues pela europa fora, e as prórpias alterações que temos visto ao longo dos tempos, resulta desta mesma situação acima descrita, pou seja, é uma questão de escolha de reprodutores para a criação, e se queremos estabelecer novos parâmetros no boxer, ou manter os antigos, devemos sempre pensar na problemática da criação seleccionada de forma correcta e racional... só assim podemos afirmar-nos como bons amantes da raça, pois preservamos as suas características!!!
O Pedro referiu um aspecto para mim também bastante importante no estalão, o "carácter" do boxer... ora bem, Pedro, naquilo que te referes a "nervos sólidos" tens de pensar que o boxer é um bichinho que, por muitas voltas que dermos à coisa e por muito que o tentemos moldar ao conceito do boxer actual (cão de companhia), o boxer é um animal rústico, possante, com um temperamento NATURALMENTE dominante face aos seus congéneres... Daí todos dizer-mos que o boxer é "teimoso"... Ele não é teimoso, ele gosta é de dominar, só que obviamente que ele, uma vez que identifica o seu dono como líder, não vai andar a desafiá-lo...
Um boxer, face a outro boxer, naturalmente que o seu temperamento NATURAL e dominante vem ao de cima, e disputa, pois está ali um rival nato e instintivo... agora os nervos sólidos não se podem aplicar aqui, ou podem, dependendo do ponto de vista... brincando um pouco com o termo, um boxer com nervos sólidos face a um "rival" nunca se vai rebaixar, é tenaz e poderoso o suficiente para entrar em disputa pela dominância, e daí devemos aplaudir bastante a solidez dos seus nervos

Agora se tivermos em vista a situação actual do boxer, que por meio da sociedade se tornou um cão "lulu", de compahnia, esquecendo as pessoas que o seu objectivo não é esse, caso contrário, estaria, tal como os dálmatas, no grupo 10... um cão com nervos sólidos seria como? Passivo? Teria "solidez" suficiente para lhe "passar ao lado" um companheiro de equipa?... Para mim um boxer com nervos sólidos nunca desiste, mostra tenacidade em tudo, no trabalho, na companhia com os donos, no enfrentamento com outros cães, sem recuar, hesitar ou "quebrar"... a menos que o líder o obrigue a tal, e é aí que, novamente, nós, os donos, temos o dever e a responsabilidade de actuar... um cão com nervos sólidos e devidamente educado, nem que seja um cão potencialmente perigoso, à ordem do dono deve imediatamente ceder e não partir para a disputa... claro que isto muitos pensarão "impossível"... mas um cão com nervos sólidos, e um dono igualmente "sólido", seja em nervos seja em atitude, fazem uma equipa perfeita para que tal resulte...
Acho que já me alonguei demais mas gosto de debater estas coisas
Espero que a minha opinião sirva para reflectir, e espero respostas
Ana