Face ao que surgiu sobre os porquinhos e os seus pedigrees e as questões levantadas... Fui informar-me um pouco mais antes de me pronunciar.

Não posso falar dos pedigrees dos outros porquinhos, mas dos meus posso

A minha manada é composta neste momento por por alguns porquinhos adquiridos cá, outros que vieram da Holanda, outros que vieram de Espanha e por ultimo os que chegaram do Canadá que a Buzio e eu importámos.
Dos nacionais e dos holandeses, não sei muito sobre eles... Excepto os que adquirimos a uma criadora que já mencionei anteriormente e pela qual tenho a maior admiração pelo seu trabalho e dedicação à criação de porquinhos de pêlo comprido.
Dos que trouxe de Espanha e assim comecei o meu programa de selfs, sei que vieram da Dinamarca e tenho cópias dos pedigrees dos avós. Os que chegaram do Canadá, também tenho os pedigrees originais de todos eles.
Contactei a criadora do Canadá e levantei-lhe algumas questões que ela me elucidou prontamente.
Assim, não posso falar dos porquinhos restantes, mas destes 18 que a Buzio e eu trouxemos do Canadá posso falar claramente dos pedigrees deles.
Estes papeis de registo que recebemos deles são emitidos pela criadora... Não têm qualquer entidade... No entanto, os porquinhos são numerados e alguns até têm uma etiqueta de identificação na orelha.
Quando perguntei à criadora a veracidade destes pedigrees... A sua resposta foi: "Um pedigree é tão honesto como a pessoa que o preenche", neste caso o criador.
Para mim esta resposta é muito satisfactória, pois importar porquinhos desta criadora não foi uma decisão tomada de animo leve... Em primeiro lugar, estive quase 8 meses em contacto com ela até ela concordar em mandar estes animais para fora do Canadá... Depois houve todo um processo de burocracias (autorizações da DGV), preparar o grupo que ia ser enviado, as caixas de transporte que foram feitas especialmente, o voo, certificados de saude e os tais pedigrees... Finalmente eles chegaram há quase 3 meses

Esta criadora inspira-me a maior confiança pois sei que há 10 anos que cria porquinhos para exposições, embora não os exiba neste momento... Mas outros criadores conceituados dos Estados Unidos e Canadá entram em exposições com muitos dos seus porquinhos. Depois há todos os factores relacionados com a saude e condições em que ela mantêm os animais que são muito importantes.
Então, como se processam os pedigrees e registos no Canadá e Estados Unidos?
Existe uma associação oficial que é a ACBA (American Cavy Breeder Association), que é a que rege o que eles chamam de "Standart Of Perfection"... Este livro (Standart) tem um grande detalhe sobre cada raça de porquinhos e qual a aparência que cada porquinho deve ter, quais os requesitos para que um porquinho possa ser exibido em exposição e quais os defeitos e desqualificações de cada raça e alguns tambem gerais. As faltas gerais são chamadas DQ's e impedem um porquinho de ser exibido. Exemplos disto são: dedos extra, unhas brancas em animais de cores solidas, rosetas em porquinhos self (como os americanos, os crowned (excepto a roseta da cabeça) e os dutch).
São consideradas faltas menos graves caracteristicas como distribuição de cor pouco acentuada ("poor patching") nos animais tricolores e "broken" assim como pêlo pouco espesso nos exemplares de pêlo comprido... Estes defeitos não são 100% desqualificativos, no entanto não são desejados para apresentação... Estes são os animais que a criadora que menciono vende como "pets" e não entrega pedigree. Sim, ela tambem os tem, ninguem está isento de ter alguns animais de menor qualidade ao criar... E isto é comum para todas as raças ou especies... O importante é que os criadores sejam honestos no seu juizo e que informem os compradores qual o destino que o animal pode ter (criação, pet ou exposição).
DQ's significam que um porquinho não pode ser exibido e faltas significam que é um porquinho "menos que perfeito" mas mesmo assim pode ser exibido.
Como já referi, um pedigree é tão honesto como o criador. Nos pedigrees dos EUA e do Canadá diz em rodapé "To the Best of My Knowledge", o que representa que o pedigree está correcto e verdadeiro quanto às linhas de sangue e arvore geneologica ali descrito e que o criador o preenche com o melhor conhecimento que possui (aqui é importante voltar a salientar a honestidade).
Cada criador deverá estar inscrito na ACBA e faz os seus proprios pedigrees que entrega no acto da venda do animal. A informação dos pedigrees deverá estar de acordo com o Standart. Menciona a raça e a cor, devem constar todos os criadores (ou caviários), o nome dos antepassados (assim como as suas caracteristicas), o numero da etiqueta da orelha ou tatuagem, assim como o peso e alguma marcas caracteristicas. Se houver GC (Grand Champions) no pedigree tambem é mencionado o número deles assim como quantas legs (assim se chamam aos prémios que são atribuidos em exposições) que os animais já ganharam.
Um porquinho puro é um animal que no seu pedigree tem apenas a raça... Ou seja, se é um texel toda a familia dele (até à 3ª. geração para trás tem de ser Texel também.
Quando um porquinho tem estes requisitos então pode ser registado por um "Registar"... Um Registar é uma pessoa credenciada pela ACBA, que tirou cursos e fez uma formação especifica para estar qualificada para esta tarefa.
São poucas as pessoas que nos Estados Unidos e no Canadá registam os seus animais sem ser durante as exposições, embora o Registar tambem se possa deslocar a casa do criador e registar os exemplares que são válidos para o efeito.
Além de examinar o animal, o Registar ira estudar o pedigree emitido pelo criador, ver todos os pesos, marcas, verificar se os animais todos são de criadores inscritos na ACBA, as cores, etiquetas de orelha, se não há DQ's e se não há mais nenhuma raça no pedigree senão aquela de que o animal é.
Se o porquinho em questão não tem DQ's e se está em conformidade com o "Standart of Perfection" e se o pedigree está correcto com o as informações dadas pelo croador, então o exemplar pode ser registado.
Assim, o Registar vai colocar uma etiqueta na outra orelha do porquinho... E o animal tem agora 2 "brincos"... Um do criador e outro da ACBA com o número de registo.
Se o animal for a exposições e ganhar 3 legs (que penso não estar em erro ao afirmar que numa exposição de cães seriam os CAC's), então é considerado um Grand Champion e recebe os respectivos certificados.
Esta criadora tem grande parte dos porquinhos registados, os que não estão que são os mais recentes, deve-se ao facto de neste momento ela apenas concorrer com os coelhos em exposições... Mas a sua manada em casa é quase toda registada ou filha de animais registados... também se dá o caso de serem os compradores mais tarde a registar os animais em exposições e apresentando o pedigree que o criador entregou.
Nos meus texels posso afirmar que não tenho nenhum que realmente seja um purebreed... Uma vez que as 3ª gerações anteriores têm alguma mistura de peruanos com o objectivo de melhorar a cor e tirar exemlares ruão. No entanto, aos poucos e sem recorrer a inbreeding, espero em parceria com a Buzio vir a criar uma linha pura de Texels.
Como já referi, segundo as normas da ACBA, para ser um "purebreed" os animais têm de ter 3 gerações anteriores de linhagem da mesma raça e estar de acordo com o "Standart of Perfection"... No entanto, no Reino Unido as normas são diferentes... Por exemplo, os porquinhos ingleses não usam etiquetas nas orelhas.
Nas exposições poem um autocolante para diferenciar os animais, mas como farão os criadores ingleses em casa? Talvez a Zohia possa ajudar nesta questão

Também há a diferença dos nomes de raça: os Rex são chamados assim no Reino Unido mas nos Estados Unidos são Teddies (e ainda há muita controvérsia sobre se serão realmente a mesma raça). Mas os Shelties na Europa são os Silkies no Canadá.
Então como faremos os registos em Portugal, mesmo dos animais que sabemos as linhagens e temos pedigrees? Mas como podemos nós dizer que os porquinhos nacionais têm pedigree?
Para mim, na minha modesta opinão é que simplesmente não faremos! Não temos ninguém em Portugal que seja um "Registar" (infelizmente) e como tal não podemos registar os porquinhos.
Pela nossa parte (o Clã dos Ursos, Casa Buzio e Tribo dos Palhas) pretendemos num futuro muito próximo emitir uns certificados aos quais até podemos chamar pedigrees seguindo estas regras que mencionei:
- O Standart.
- O melhor conhecimento do criador.
- Um pedigree é tão honesto como o criador.
Posso dar alguns exemplos do que mencionei:
A Cacau, uma porquinha self chocolate, da qual tenho os pedigrees da familia:


Esta porquinha tem todos os requisitos do Standart, os pais e gerações anteriores também são reconhecidas... É uma pena que ela ou os bebés dela (cruzando com um macho com os mesmos padrões) não possam ser registados em Portugal... No entanto, não a faz de menor qualidade, pois não?
Os Shelties (Silkies) são outro exemplo... A Buzio adquiriu há uns meses este exemplar... O Dómino, um roan. Infelizmente, não sabemos nada da familia dele... Mas das caracteristicas que conhecemos e das ninhadas que o Dominó tem dado junto com outra sheltie, sabemos que é um animal com caracteristicas muito boas, aliás o Dominó é talvez o melhor porquinho sheltie macho de criação nacional que conheço (desculpa Joana, esta foto nem lhe faz a justiça que merece):

Um dos meus porquinhos Shelties com pedigree tem as mesmas caracteristicas que o Domino, da mesma forma cruzaria uma femea com um ou outro... Daria diferenças pela cor talvez e em alguns aspectos em que até considero o Dominó melhor:

Um dos meus casais de peruanos, com pedigree, dentro do Standart e com mais de 3 gerações de peruanos teve uma ninhada esta semana:
O Joshua (que está com o pêlo mastigado):

e a Ebony:

Pois é... mas os filhos em Portugal são tão peruanos como os que se vendem "na esquina"... E assim vamos nós em Portugal, devagar, devagarinho...
Acho que o projecto da CAPI é muito interessante e acima de tudo vai contribuir para o Porquinho-da-India em geral, como animal e não como raça! Rui e Verena, é um facto comum que as pessoas questionam os novos projectos e ideias... Mas a verdade é que foram vocês que tiveram a paciência, tempo, dedicação e iniciativa para começar este projecto e têm o meu maior respeito por isso.
Quanto às raças... Acho que todos temos ainda muito a aprender, a investir (e não me refiro a custos financeiros) e a partilhar tambem... Que sejamos honestos, aqueles que criam, e que usem o seu melhor conhecimento com os melhores fins e intenções... Não apenas nos porquinhos, mas em todos os animais que criamos.
Um abraço,
Rita