Do seu post resultam algumas confusões, quer sobre o conceito de carácter do PA, quer sobretudo sobre as minhas afirmaçoes a esse respeito. Vejamos:
CARÁTER E TEMPERAMENTO: Temperamento forte, carácter incorruptível, firmeza de nervos, atenção, fidelidade, coragem e alto espírito de luta são característicos marcantes da raça; todavia, embora não dado a amizade imediatas e indiscriminadas, quando em companhia de seu condutor deverá permitir a aproximação calma de estranhos, denotando confiança e perfeita controle nervoso mas, quando exigido, ardente e alerta, capaz e desejoso de servir com toda a força de seu carácter e temperamento.
Esta é a descrição constante no estalão sobre o que deve ser o carácter de um Pastor Alemão. Como em relação à côr e à morfologia, acho que o estalão é que nos estabelece os padrões por que nos devemos orientar na avaliação dos exemplares.
É pois partindo do estalão que vou comentar e rebater algumas afirmações do Vítor.
[/quote]Pessoalmente acho que o hiper-tipo do carácter elevado ao rubro tal como alguns adeptos do trabalho parecem preferir possa também ser perigoso para a raça! Fazer do pastor alemão um cão em grande parte parecido a um crocodilo que se lhe possa assemelhar não me parece ser aqui uma também ela uma boa politica
não devemos esquecer que o Pastor Alemão foi na sua origem e é na sua essência um cão de Pastor,
Hipertipos são sempre desaconselhados, seja em carácter, seja em morfologia. No entanto procurar que um cão tenha um desempenho contundente em situações de conflito não me parece ser transformá-lo num crocodilo... entre outras coisas porque um crocodilo não tem qualquer controle, e um PA sem controle pouco fará no mundo do trabalho. Lembro ao Vítor que em provas de trabalho o cão deve morder à ordem e largar à ordem, sem o que será desclassificado em prova. O controle é fundamental e um cão que tenha um eficaz potencial de agressão não significa que não possa perfeitamente conviver em sociedade.
Repare que o próprio estalão preconiza : "embora não dado a amizade imediatas e indiscriminadas, quando em companhia de seu condutor deverá permitir a aproximação calma de estranhos". Exemplo disto é o exercício de SchH "platz em distracção", que serve para aferir do controle do cão inclsive em situações de isolamento...
Na vida real, um bom PA deve ser contundente e agressivo nas funções de guarda do seu território, e absolutamente controlado. Fora do território, deve ser inofensivo excepto quando provocado, o que não significa que se tenha de prestar a manipulações de qualquer um...
E já agora quantas pessoas iram querer deixar passear livremente junto dos seus filhos ainda pequenos e menores sabendo estes então possuírem num pastor alemão um verdadeiro crocodilo pronto a atacar e a morder tudo e todos
Exactamente, um cão de Pastor, e o "de" significa muita coisa: que não tem como função principal o pastoreio, embora a possa desempenhar, mas a guarda e protecção de rebanhos e pastor, o que implica que tenha "firmeza de nervos, atenção, fidelidade, coragem e alto espírito de luta". Ora, não é possível ter um alto espírito de luta sem possuir excelentes instintos de presa e de defesa...
Ninguém deve deixar crianças a brincar com cães sem supervisão de um adulto, seja o cão de que raça fôr. As crianças são imprevisíveis e podem de um momento para o outro "tirar do sério" qualquer cão com as suas brincadeiras... isso é uma imprudência criminosa que nunca deve ser permitida! No entanto, e com conhecimento de causa, posso dizer-lhe que normalmente cães com excelente temperamento se mostram extremamente pacientes e tolerantes para com crianças da sua "família humana".
Lá diz o estalão:"carácter incorruptível, firmeza de nervos". Falarmos de um cão com potencial de agressão e espírito de luta não é a mesma coisa que falarmos de cães desiquilibrados e inseguros, essas, sim, características indesejáveis...
Para finalizar, acho que o Vitor interpretou mal as minhas afirmações - eu apenas procuro num PA que ele tenha um temperamento de acordo com o estalão, independentemente de ser de linhas de trabalho ou não.
Sei que nas linhas de beleza ainda há exemplares de temperamento correcto. Aliás, foi colocado aqui há uns tempos um vídeo de uma prova de RCI de um PA de beleza, se não estou em erro um exemplar da SocPort, cujo desempenho foi digno e adequado ao que se pretende da raça (peço desculpa de não me lembrar do nome do cão).
Mas o que eu digo é que, fruto de critérios de selecção errados, os genes responsáveis por nervosismo e taras a ele associadas estão demasiado espalhados nestas linhas, e, dado o cruzamento de linhas, há um risco efectivo de vermos esses genes patentes em cães que são oriundos por parte de um progenitor de linhas de comportamento fiável, como a linha Mutz, mas onde entram, por parte do outro progenitor, linhas pouco fiáveis quanto a carácter.
Este é um tema que dá pano para mangas, onde há muitas confusões acerca da própria definição de carácter, e por agora fico-me por aqui, na certeza que é da discussão dos vários de pontos de vista que podem surgir soluções para um maior equilíbrio nesta nobre raça.