


Tive o prazer de assistir a parte do treino deste Pastor Alemão... e é fantástico a relação dono cão... só visto...
zeca2 Escreveu:Boa tarde a todos.
Como isto tem andado um bocado parado, depois das sucessivas intervenções da moderação, resolvo introduzir para debate a questão da cor do PA como parâmetro de avaliação.
Em avaliações aqui feitas por experts da raça a cães apresentados por foristas ou a exemplares reconhecidos internacionalmente, é frequente ver elogios ou críticas relativamente à cor de tais exemplares. Frases como a que abri o tópico - "uma cor fabulosa" - ou equivalentes servem normalmente para significar uma qualidade extra de um cão, sendo que "cor fabulosa" significa quase sempre que o manto é muito preto e o castanho é bem afogueado.
Este critério deixa desde logo de parte todos os PAs que não sejam negros e castanhos, e, porque é um critério generalizado nas linhas de beleza, sempre me deixou com a pulga atrás da orelha...
Mais ainda quando se pratica todo o tipo de habilidades no sentido de dotar os exemplares de uma pelagem de tal tipo, ou seja, da tal "cor fabulosa", mascarando muitas vezes a sua cor original...
Eu penso que todos os critérios essenciais à avaliação de um PA se encontram definidos no standard da raça. E que esses critérios visam avaliar da funcionalidade dos exemplares - o carácter, que é essencial para um cão de trabalho e polivalente; a morfologia, fundamental para que o cão expresse em movimento toda a sua plenitude.
O que eu não consigo entender é o que a côr pode ter a ver com a funcionalidade do cão... e ainda mais sabendo que o próprio estalão prescreve uma série de cores e tonalidades sem estabelecer qualquer hierarquia entre elas.
Será que ao enaltecer de tal forma o negro/vermelhinho estaremos a avaliar os exemplares como se fossem de uma raça de trabalho (como, apesar de tudo, ainda são)?
Que os entendedores da raça me elucidem sobre o assunto, se para tal tiverem disposição...
JC
zeca2 Escreveu:Gostaria aqui de deixar mais algumas achegas no sentido de explicitar bem o que penso relativamente a este assunto:
1. Como disse o Vítor o negro-fogo tem pouco a ver com a pigmentação. Na verdade esta (ou a sua falta) avalia-se melhor pela cor das mucosas, pela existência de manchas brancas nas patas, bem como por outros caracteres aqui citados no post anterior.
2. A questão do negro-fogo tem mais a ver com conceitos estéticos (portanto subjectivos) do que com a conformidade ao standard. Este é, no meu entender, suficientemente concreto para permitir uma avaliação objectiva.
3. No que diz respeito à cor o standard estipula quais as cores permitidas e aceites, sem estabelecer qual delas é preferível (exceptuando o branco, cujas manchas são desaconselhadas).
4. Posto isto, faz-me espécie que, quando se fala num cão, venha invariàvelmente o argumento da côr, sobretudo quando ela é "fabulosa" (entenda-se por "fabulosa" negro-fogo intenso...)
Ora, não havendo limitações no estalão quanto à côr, penso que é um erro relevar desta forma essa característica quando se avalia um cão...
De tal forma se atribui importância ao negro-fogo, que se utilizam truques para aproximar artificialmente dessa côr os exemplares - cápsulas de caroteno, permanganatos de vária ordem, etc.
A beleza, numa raça de trabalho, é funcional. O PA ideal é um cão belo porque a sua estrutura faz dele uma autêntica máquina polivalente de trabalho. A cor nada pode acrescentar a isto, a não ser torná-lo um mero cão "bonito"... Pelas intervenções que tenho ouvido de criadores de beleza, parece-me que se sobrevaloriza a côr e essa sobrevalorização nada traz de positivo à raça.
JC
zeca2 Escreveu:Não me alongarei sobre as diferenças de carácter entre as duas linhas do PA, sobre as quais teno tido oportunidade de expressar aqui a minha opinião pessoal. Menos ainda sobre os truques sobre provas de trabalho que, compradas ou não, não reflectem o valor dos exemplares que as ostentam. Tudo o que o Arrebelo aqui disse sobre o assunto é uma verdade que salta aos olhos, desde os comandos simples de obediência às mordidas falhadas, bem como os famosos "dias maus" que os cães têm sempre que são obrigados ao teste de coragem...
Incomoda-me muito mais, isso sim, a posição que o Diogo manifestou sobre o tema da côr, mais a mais vinda de um criador que pretende lançar-se com qualidade nesta actividade que tem de ser responsável acima de tudo. Por isso me vou deter um pouco mais sobre a sua argumentação, apresentando os meus pontos de vista que não pretendo impôr a ninguém, mas de que não prescindo.
Primeira discordância:
Sendo o PA um cão de trabalho, basta conhecer o estalão para verificar que a descrição morfológica nele prescrita está orientada para a funcionalidade, ou seja, para o trabalho: angulaçoes, comprimentos e inclinações de garupa ou húmeros, pelo e subpelo,são valorizados não por uma qualquer beleza puramente estética, mas sobretudo porque se reflectem positivamente na fluidez do movimento, na propusão traseira ou no abarque de terreno, bemcomo na resistência às variações climáticas.torna-se obvio quando questionado que a cor desde que dentro da tal "série de cores e tonalidades" inscritas no estalão não estárá um juiz no seu perfeito juizo a avaliar um exemplar quanto ao trabalho.
A côr, como disse o próprio Diogo,em nada influencia estas características, logo não deveria ser um critério importante para a classificação de exemplares. Poderá ser um factor de desempate entre exemplares qualitativamente equivalentes, em que o juiz faça valer os seus gostos pessoais. Mas nunca um critério determinante à partida, como infelizmente se vai verificando.
Mas o que se trata de observar numa monográfica não tem (ou não devia ter) a ver com a vistosidade do animal, mas com a sua funcionalidade... O negro-fogo é uma questão de moda absolutamente subjectiva, conforme o Diogo acha "bonito" o negro-fogo, eu posso achar "bonito" o totalmente preto e o Arrebelo o cinza ou o preto-cinza. É perigoso submeter a avaliação de um cão a critérios pouco ou nada objectivos resultantes de modas injustificaveis como o foram a seu tempo as sobreangulações traseiras ou a garupas demasiado inclinadas, que tanto mal fizeram à raça e que levaram a SV a alterar os critérios quanto a estes aspectos. Tal como o tamanho (outra moda...) contra o qual a SV começa tardiamente a combater, invertendo tendências que deixou desenvolver quando deveria ter sido firme desde o início...quer queiramos quer nãoe que mais no chamará a atenção é claro que será um animal com bastante negro e fogo. Ainda não observámos 90% do animal e já nos chamou a atenção devido a este tipo de manto.o cão mais vistoso
Embora esta frase esteja também bastante confusa,penso que o Diogo quis dizer que numa ninhada escolhe os cachorros com que fica baseado mais na côr do que na estrutura e carácter. Se assim foi, permita-me dizer-lhe que o que está a fazer é um crime contra o PA como cão de trabalho,e mais ainda nas linhas de beleza, onde o carácter forte não é, como todos sabemos, coisa frequente.e muitas vezes, aquando a criação de uma ninhada surgir um exemplar com um manto que nos porá em questão a escolha do animal que ficará conosco em prol de outro com uma estrutura ou carácter mais aliciante.
É evidente que a decisão é sempre do criador, mas se entra num debate sobre o tema tem de sujeitar-se a críticas fundamentadas e sobretudo justificar as suas opções,e o que o Diogo acaba por dizer é que escolhe não os cachorros com melhor temperamento nem os mais correctos anatomicamente, mas sobretudo os que têm "melhor côr" - melhor côr para si, porque para outros, como disse, poderá não ser o tal vermelhinho que tanto o encanta...Se isto é errado ou não cabe-me a mim e aos restantes criadores (caso tenham situações idênticas) e claro aos juízes que nos guiam nesta "direcção" não duvidosa. Eu dentro do conhecimento adquirido (quer errado para muitos ou não) , penso saber qual a escolha indicada para o que é visto neste momento a raça.
Como aficionado ao PA desde os tempos em que qualquer PA era um verdadeiro cão de guarda disposto a defender a sua matilha humana com a própria vida, custa-me ver alguém que se inicia na criação desta nobre raça tão preocupado com a " escolha indicada para o que é visto neste momento a raça.". Desculpe a franqueza, mas gosto de dizer claramente o que penso, embora sem intuito de ofender.
Stephanitz alertava já para o perigo que as exposições morfológicas poderiam representar para a raça. E dizia "escolhei os mais belos de entre os que melhor trabalhem". Cem anos volvidos, é triste verificar que acabou por ter razão antes de tempo, e que as sucessivas modas ditadas pelos juizes alemães (e quem são eles?) continuam a estragar, com a cumplicidade de alguns,a raça que ele criou para ser polivalente, funcional e corajosa.
Há-de vir o dia em que os gurus da raça acharão mais bonito ver os cães a desfilar nas monográficas de lacinhos cor de rosa, tudo em nome de tornar os cães mais "vistosos". Possivelmente o Diogo marchará orgulhosamente atrás dos seus exemplares assim empapelados. Eu nessa altura deixarei de ter pastores alemães.
JC
zeca2 Escreveu:Estimado Diogo, uma qualidade lhe reconheço desde já: o amigo diz claraente ao que vem e o que lhe interessa e não procura mascarar essa visão parcial do PA com desculpas esfarrapadas...
Volto a dizer que está no seu pleníssimo direito, cria como quer e com os critérios que entende e ninguém tem nada com isso. O que não significa que os seus pontos de vista não possam ser analisados e criticados, sempre dentro de um espírito construtivo e sem ofender, como é óbvio.
Se quer que lhe diga, não fui eu que invoquei aqui a dicotomia entre trabalho e beleza (seja lá isso o que fôr). Eu apenas disse que sendo o PA avaliado segundo o standard, e cabendo neste em pé de igualdade uma série de cores e combinações de cores, é errado valorizar ou classificar um exemplar relevando a sua côr.
Também disse que os parâmetros citados no estalão têm como objectivo dotar o PA de características funcionais, designadamente no que respeita ao movimento e rusticidade. Não negará tal facto...
Este tipo de avaliação não tem directamente a ver com o trabalho em si,antes procura que o PA mantenha características morfológicas que continuem a fazer dele um cão versátil, capaz de desempenhar as mais variadas tarefas com eficácia. E neste âmbito a côr vale zero - tirando o branco que está excluido oficialmente, por relações com o albinismo.
Uma vez que me coloca algumas questões, passo a responder-lhe:
Eu explico-lhe: o que se avalia numa monográfica é precisamente a funcionalidade. De forma definitiva, se o cão estiver feito. De forma prospectiva, se o não estiver - é por isso que não se diz que um cachorro é excelente mas prometedor...Ora numa monográfica explique-me como avalia a funcionalidade de um cachorro de 4 a 6 meses ? ou de um jovem de 12 a 18 meses ? ou mesmo de um jovem adulto de 18 a 24 meses ? Ou mesmo de um cão de trabalho
E como é feita essa avaliação? - partindo do princípio do que é um PA (trotador por natureza) e vendo de que forma a sua morfologia ser ve esse desígnio de trotador. Exemplificando - se um cão tem uma fraca angulação anterior ou um húmero recto e curto nunca poderá ser um bom trotador, pois nunca conseguirá abarcar muito terreno no trote; se um cão tem uma excelente angulação posterior podemos garantir que imprimirá ao trote um forte impulso de que este beneficiará; por outro lado uma garupa de inclinação e comprimento adequados assegurará a transmissão eficiente do impulso gerado pelo trem posterior.
Está bom de ver que uma morfologia conforme ao estalão dota o cão de qualidades que lhe permitem ser mais funcional. Sinceramente, não esperava que me colocasse uma questão tão óbvia.
Numa siegerschau sim, mas apenas na classe de trabalho, e os restantes não me parece que consiga avaliá-lo.
Pois aqui está mais uma demonstração que o Diogo sofre de uma grande confusão quanto à funcionalidade do PA, porque a prova de coragem, que jlgo ser ao que se refere,éapenas isso, um indicador de determinadas caracerísticas instintivas do cão. Mas a morfologia é também fundamental na funcionalidade, e isso pode ver-se sem ser nas classes de trabalho, como é óbvio...
Pois se a compreendi "até no seu mais profundo significado" deixe-me repetir as críticas que fiz anteriormente - se o Diogo prefere cachorros boitos e vermelhinhos a cachorros melhores morfológicamente e com melhor temperamento, está a prestar um péssimo serviço a raça e a contribuir activamente para uma realidade járeferida por outro forista - o de que cada vez mais gente troca o PA por raças mais utilitárias e que dão mais garantias de um comportamento adequado às necessidades.Quanto a essa citação está correctissima e bastante clara. Não vejo nenhuma confusão no que foi escrito, tal que o Sr José Carlos a compreendeu até no seu mais profundo significado, e nem foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Bem, pelo que li aqui sobre uma cadela sua na prova de coragem em Espanha, essa não estaria muito disposta a defendê-lo... mas lá está, é capaz de ter tido um daqueles famosos "dias maus"...posso afirmar-lhe que os meus animais são cães de guarda e também estão dispostos a defender a sua matilha.
É mais uma confusão da sua parte. Já aqui exprimi várias vezes que as linhas de trabalho sofrem de outras limitações. O ideal é que os criadores de cda linha tenham conceitos claros sobre o que é um pastor alemão e tentem atingir um equilíbrio em prol da raça, e isso implica carácter e morfologia, mas nunca côr, que é um mero conceito estético que comodisse poderá ser substituído mais tarde por lacinhos cor de rosa.Preocupe-se sim com o ramo do trabalho, pois não menosprezando-os é desse género que o Sr aprecia, e eu não o condeno por tal.
Já agora, nem o amigo me condena a mim nem eu a si, apenas critico formas de entender o PA,e do mesmo modo me sujeito a criticas dos outros.
Esta frase é vistosa, mas também há aqui algo que não acabei por entender, ainda por cima sem acordo ortográfico... Quer dizer que a raça tem evoluido para melhor? Considera então que o PA deve ser um cão funcional ou apenas um fofuxo vermelhinho e o resto logo se verá? E o homem já morreu há cem anos,mas já perdeu a validade da citação "escolhei os mais belos de entre os que melhor trabalhem"? E o Diogo acha que se deve fazer como? Escolher os mais belos de entre os que pior trabalhem? Ou dos médios? Ou nem sequer se preocupar com o trabalho, pois como, segundo reconhece, " pois quase nada sei acerca dessa matéria"...Stephanitz morreu há 100 anos , ora se o mundo estivesse dependente de tudo o que já foi necrosado, estávamos parados. Em tudo têm que haver uma evolução tal como na medicina na economia , no desporto, em nós etc..o Pastor Alemão têm vindo a evoluir, mesmo que não existisse mão humana ele estaria a evoluir naturalmente quer se queira quer não.
Ainda bem que o amigo não escreveu ao abrigo do acordo ortográfico... É que se mesmo assim apresenta conceitos algo difíceis de entender, imagine o que seria se o utilizasse...
zeca2 Escreveu:Embora a intervenção do Arrebelo se afaste um pouco do tema deste tópico, que é a excessiva influência do "vermelhinho" no julgamento de um PA, há duas passagens do seu post que eu gostaria de comentar.
O primeiro é em relação ao futuro dos malinois. Realmente o futuro desta raça terá a ver com a procura que ela tiver no mercado. Se fôr grande, estarão um bom par de euros em causa e não faltará por aí quem se dedique a "melhorar" a raça e a fazer "altas selecções". Quando começarem a aparecer sinais de perda generalizada das qualidades que a tornam eficientes cães de utilidade, por certo se estabelecerão "linhas de beleza" e "linhas de trabalho",isto é,de um lado estarão aqueles que procuram manter as qualidades que tornam a raça admirável, do outro ficarão os hipertipistas que só em teoria ligam ao carácter e cujos cães, por serem "mais vistosos", lhes renderão cada vez maiores proveitos económicos... a isto juntar-se-ão algumas "modas" e "tendências" ditadas ao arrepio do estalão por alguns cérebros iluminados, e a pouco e pouco transformar-se à esta nobre raça num conjunto de cães decorativos e pouco funcionais que nada tem a ver com o original.
Vejam que já existe essa realidade noutras raças de trabalho - já há,ao que parece, linhas de "beleza" e de trabalho no dogo argentino. Desconfiem desta dicotomia quando quiserem adquirir um cão.
No PA ( e essa é a segunda passagem que queria comentar) não exitiria em princípio nenhum mal em que alguém criasse pela côr. O efeito perverso é que, quando esta é uma "moda" apontada pelos gurus que dominam a SV e dependem do marketing para amealhar uns trocados extra, os seus seguidores tendem a "educar" os seus clientes para esta "moderna" forma de avaliar um PA, contribuindo deciivamente para a transformação do PA em mero cão de companhia.
A situação do PA neste momento é a de uma divisão marcada entre duas lnhas, cada uma com seus defeitos,mas irreconciliáveis. Quem quiser um PA pelos motivos que sempre se quiz - um excelente companheiro, um perfeito companheiro nobre e leal, um cão incorruptível capaz de defender com a própria vida o dono ou a sua propriedade, em que linhas deve procurar para correr menos riscos de ser vigarizado - beleza ou trabalho?
Já dizia Von Stephanitz: " Escolham de entre os mais bonitos o melhor",zeca2 Escreveu:Este artigo que o Vítor aqui nos trouxe confirma, no meu entender, que realmente a côr pouco tem a ver com a funcionalidade de um cão.
Aliás contém mesmo a resposta à pergunta que se faz : porque é que os cães cinza têm tendencialmente uma maior funcionalidade que os negros e castanhos? A resposta é simples - pelos critérios de selecção utilizados! Se os cinza são normalmente seleccionados pela capacidade de trabalho e os pretos afogueados por meras questões estéticas, parece-me lógico que, a la longue, se encontrem cães mais funcionais entre os cinzas e mais "bonitos" entre os negro-fogo. Mas isso não tem a ver com a cor, tem a ver com os critérios de selecção que foram aplicados durante décadas.
De modo que, se se pretendeu rebater alguma das minhas afirmações quanto à importância da côr na avaliação de um PA, não estou a ver como é que se conseguiu...
JC
zeca2 Escreveu:Não, o que ele disse foi: "escolhei os mais bonitos de entre os que melhor trabalhem"...Já dizia Von Stephanitz: " Escolham de entre os mais bonitos o melhor",