Quanto a situçao dos caes da linha de trabalho terem mais caracter acho que se confunde um pouco o caracter com o fazer provas de trabalho,eu os que conheço e naõ são poucos pois costumo ir para um campo em espanha que ha alguns ,não terão assim tao bom caracter como se pensa apesar de a trabaharem serem maquinas,sera que é normal um cão quase nao ter dentes de tantas pedras roer ou sera normal roer o pelo todo ou sera normal tentar morder a tudo o que passa a frente deles isto sao algumas das situaçoes que os vejo fazer,por isso não concordo que serao caes de melhor caracter que os de beleza.
Ainda bem que o Miguel assume esta posição, uma vez que nos dá oportunidade de debater esta questão, que acho que é fundamental, e que é o afastamento cada vez maior entre as duas linhas.
Eu não nego que possa haver cães como os que o Miguel cita, no campo que frequenta e muito provavelmente noutros. Mas isso não justifica generalizações, e é necessário perguntarmo-nos por que é que tais casos acontecem.
Em minha opinião, a questão prende-se muitas vezes com o tipo de treino a que são submetidos, com o convívio diário com pessoas e outros cães e pessoas. Na minha opinião, um dos males de ambas as linhas é procurar-se a excelência competitiva.
Nas linhas de beleza isso levou a desvios, que agora vêm sendo corrigidos, como o exagero da inclinação da garupa e das angulações posteriores, tornando o cão capaz de realizar andamentos muito vistosos mas durante pouco tempo. Angulações exageradas criam tensões sobre as ancas que potenciam a falta de firmeza no trem posterior, aumentam as possibilidades de aparecimento da displasia, originam um passo em que os curvilhões se cruzam, entre outros. A inclinação excessiva da garupa está na base, segundo muitos observadores, do aparecimento da SCE. Tudo isto para conseguir mais uns furos acima nas classificações das monográficas, sem nos apercebermos que estamos a pôr em causa a funcionalidade do cão.
Nas linhas de trabalho, o que importa é conseguir uma pontuação o mais próxima possível dos 300 pontos, mesmo que isso signifique manter o cão fechado numa caixa só saindo para treinar e fazer as necessidades, potenciar ao máximo a instinto de defesa através de cargas excessivas, pressionar estupidamente o animal para conseguir um apport 2 segundos mais rápido... Um cão submetido a este tipo de treino não pode realmente ser um cão equilibrado, e as manias que observou devem-se normalmente a actuações deste tipo. Mas apesar de tudo, como o Miguel disse, eles continuam máquinas a trabalhar. Um cão de beleza o mais certo era partir-se...
Eu acho que a procura da excelência (e dos benefícios económicos que ela pressupõe...) faz os fanáticos de ambas as linhas incorrer com demasiada frequência neste tipo de erros, que só contribuem para afastar ainda mais os cães de trabalho dos de beleza.
Julgo que este é um problema deveras importante, e que valeria a pena que todos parássemos para pensar um pouco sobre ele e sobre as possíveis soluções. Se calhar, uma modificação da orgânica das competições... Se calhar, uma modificação dos critérios de criação em AMBAS as linhas... Se calhar, ponderando até que ponto, perdendo um pouco do que se conseguiu na estrutura ou no carácter, se conseguiria um PA mais equilibrado e duas linhas menos divergentes.
Para mim é claro que os critérios de selecção até agora seguidos estão na base do que temos no momento: cães seleccionados durante décadas pela dureza de temperamento têm logicamente que produzir cães com temperamentos fortes, embora com pobres estruturas, deixadas nesse tempo para um papel secundário; cães seleccionados no mesmo período prioritariamente pela anatomia, têm de dar, pela lógica, cães mais belos, mas em que ocorrem com demasiada frequência temperamentos débeis.
Esta discussão é complicada, e não espero que dela saiam soluções definitivas. Se servir para que se tome consciência de que o problema existe, já é muito bom. Ainda há, em ambas as linhas e apesar de tudo, cães equilibrados.
Cumprimentos
José Carlos