CARÁCTER E INSTINTOS NO CÃO DE GUARDA - A MINHA OPINIÃO (I)

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zeca2
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sexta nov 25, 2011 5:36 pm

CARÁCTER E INSTINTOS NO CÃO DE GUARDA – A MINHA OPINIÃO (1ª parte)
Para evitar ferir susceptibilidades, começo por avisar os leitores de que não sou nenhum expert na matéria. .. A minha formação reside noutra área do conhecimento. É dessa formação que vivo, e o que me move em relação aos cães é apenas o prazer e não uma forma de ganhar uns trocos extra. A relação entre o homem e o cão desde sempre me interessou e nela tenho aplicado bastante do meu tempo livre, única e exclusivamente para minha satisfação, sem objectivos de afirmação pessoal.
O treino de um cão de guarda facilita enormemente a convivência entre cão e dono e permite-nos utilizar as suas potencialidades em nosso proveito. O que aqui escrevo resulta da informação que tenho recolhido ao longo dos anos e de várias fontes, bem como da minha experiência pessoal, que não é vasta – resume-se apenas aos meus cães e a alguns outros de amigos com quem tenho compartido esta actividade.
Treinar um cão de guarda implica, antes do mais, o conhecimento o mais completo possível do carácter do cão. E importa aqui desmistificar a ideia de que o famoso teste de Campbell nos dá a ideia exacta desse carácter. Na verdade, o que esse teste nos dá é uma noção bastante fiável do temperamento de um cão. Ora, é asneira confundir-se temperamento com carácter: temperamento é o conjunto de características instintivas com que o cão nasce; carácter é o resultado da influência ambiental sobre o temperamento de um cão. Métodos de treino inadequados ou outras experiências traumáticas podem transformar um cachorro de temperamento forte num juvenil medroso.
Daí que seja fundamental avaliar o carácter de um cão antes de com ele interagir, sob pena de estarmos a aplicar técnicas desadequadas aos seus níveis instintivos.
1. Instintos
Segundo Hemingway, “instinto é o conhecimento inconsciente do comportamento ancestral”. Os instintos são inatos e não têm a ver com a aprendizagem, e relacionados com eles aparecem uma série de comportamentos instintivos que poderemos utilizar para o treino.
O principal instinto é o instinto de sobrevivência. É comum a todos os cães e pode traduzir-se em modelos de comportamento variados. Activa-se ante qualquer possível adversidade e pode despoletar respostas variadas, como o comportamento de fuga, de defesa ou de evitação.
Outro instinto importante é o instinto de caça. Na prática relaciona-se com o instinto de sobrevivência, já que para sobreviver é preciso caçar. Activa-se por estímulos internos (fome) e por estímulos externos (presa em movimento). Este instinto é esgotável – saciado o apetite, o predador cessa o comportamento de caça.
2. Carácter
Quando se procura estabelecer um programa de trabalho coerente e eficaz, é importante conhecer o carácter de um cão. Isso faz-se através da determinação o mais exacta possível da sua carga instintiva, ou seja,o grau de desenvolvimento de cada um dos instintos á abordados anteriormente.
Isso consegue-se através da observação da intensidade dos drives ou comportamentos dependentes dependentes de cada instinto. Os drives mais importantes no que se refere ao trabalho de protecção são a presa e a defesa.
O drive de presa é um comportamento associado ao instinto de caça. É activado pelo movimento de uma presa em fuga. É, por exemplo, o drive de presa que faz com que os cães persigam bolas, churros, bicicletas e até carros. O cão que morde por presa apresenta geralmente uma mordida tranquila e cheia. Não há qualquer tipo de temor numa mordida em presa, uma vez que o cão se sente superior.
O drive de defesa , por outro lado, relaciona-se com o instinto de sobrevivência e é despoletado ante a presença de uma ameaça. O cão que morde por defesa está em stress, não retira da actividade qualquer prazer, defende apenas a sua integridade. A sua mordida é variável, por forma a infringir ao oponente o maior número de ferimentos possível.
Numa escala de 1 a 5, o cão ideal seria o que apresentasse o nível 5 em presa e nível 5 em defesa – seria o cão com níveis instintivos altos e perfeitamente equilibrados.
Outro aspecto importante a considerar, para além deste, é a dureza, ou seja, a capacidade de suportar estímulos aversivos sem perda de atitude.
Na avaliação do cão, convém ainda ter em conta que os vários instintos têm um processo de amadurecimento próprio. A defesa atinge a sua plenitude bastante mais tarde do que a presa, que se manifesta desde muito tenra idade.

Bibliografia: H. Raiser, “Der Hund”; A.Menchero, “Manual de Adiestramiento Canino”; A. Pozuelos, “Huta”; G. d’Avinon, “Noções Básicas de Adestramento Canino”; artigos vários dos autores citados e de Ed Frawley.
daktari
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sábado nov 26, 2011 1:43 am

zeca2 Escreveu:CARÁCTER E INSTINTOS NO CÃO DE GUARDA – A MINHA OPINIÃO (1ª parte)
Para evitar ferir susceptibilidades, começo por avisar os leitores de que não sou nenhum expert na matéria. .. A minha formação reside noutra área do conhecimento. É dessa formação que vivo, e o que me move em relação aos cães é apenas o prazer e não uma forma de ganhar uns trocos extra. A relação entre o homem e o cão desde sempre me interessou e nela tenho aplicado bastante do meu tempo livre, única e exclusivamente para minha satisfação, sem objectivos de afirmação pessoal.
O treino de um cão de guarda facilita enormemente a convivência entre cão e dono e permite-nos utilizar as suas potencialidades em nosso proveito. O que aqui escrevo resulta da informação que tenho recolhido ao longo dos anos e de várias fontes, bem como da minha experiência pessoal, que não é vasta – resume-se apenas aos meus cães e a alguns outros de amigos com quem tenho compartido esta actividade.
Treinar um cão de guarda implica, antes do mais, o conhecimento o mais completo possível do carácter do cão. E importa aqui desmistificar a ideia de que o famoso teste de Campbell nos dá a ideia exacta desse carácter. Na verdade, o que esse teste nos dá é uma noção bastante fiável do temperamento de um cão. Ora, é asneira confundir-se temperamento com carácter: temperamento é o conjunto de características instintivas com que o cão nasce; carácter é o resultado da influência ambiental sobre o temperamento de um cão. Métodos de treino inadequados ou outras experiências traumáticas podem transformar um cachorro de temperamento forte num juvenil medroso.
Daí que seja fundamental avaliar o carácter de um cão antes de com ele interagir, sob pena de estarmos a aplicar técnicas desadequadas aos seus níveis instintivos.
1. Instintos
Segundo Hemingway, “instinto é o conhecimento inconsciente do comportamento ancestral”. Os instintos são inatos e não têm a ver com a aprendizagem, e relacionados com eles aparecem uma série de comportamentos instintivos que poderemos utilizar para o treino.
O principal instinto é o instinto de sobrevivência. É comum a todos os cães e pode traduzir-se em modelos de comportamento variados. Activa-se ante qualquer possível adversidade e pode despoletar respostas variadas, como o comportamento de fuga, de defesa ou de evitação.
Outro instinto importante é o instinto de caça. Na prática relaciona-se com o instinto de sobrevivência, já que para sobreviver é preciso caçar. Activa-se por estímulos internos (fome) e por estímulos externos (presa em movimento). Este instinto é esgotável – saciado o apetite, o predador cessa o comportamento de caça.
2. Carácter
Quando se procura estabelecer um programa de trabalho coerente e eficaz, é importante conhecer o carácter de um cão. Isso faz-se através da determinação o mais exacta possível da sua carga instintiva, ou seja,o grau de desenvolvimento de cada um dos instintos á abordados anteriormente.
Isso consegue-se através da observação da intensidade dos drives ou comportamentos dependentes dependentes de cada instinto. Os drives mais importantes no que se refere ao trabalho de protecção são a presa e a defesa.
O drive de presa é um comportamento associado ao instinto de caça. É activado pelo movimento de uma presa em fuga. É, por exemplo, o drive de presa que faz com que os cães persigam bolas, churros, bicicletas e até carros. O cão que morde por presa apresenta geralmente uma mordida tranquila e cheia. Não há qualquer tipo de temor numa mordida em presa, uma vez que o cão se sente superior.
O drive de defesa , por outro lado, relaciona-se com o instinto de sobrevivência e é despoletado ante a presença de uma ameaça. O cão que morde por defesa está em stress, não retira da actividade qualquer prazer, defende apenas a sua integridade. A sua mordida é variável, por forma a infringir ao oponente o maior número de ferimentos possível.
Numa escala de 1 a 5, o cão ideal seria o que apresentasse o nível 5 em presa e nível 5 em defesa – seria o cão com níveis instintivos altos e perfeitamente equilibrados.
Outro aspecto importante a considerar, para além deste, é a dureza, ou seja, a capacidade de suportar estímulos aversivos sem perda de atitude.
Na avaliação do cão, convém ainda ter em conta que os vários instintos têm um processo de amadurecimento próprio. A defesa atinge a sua plenitude bastante mais tarde do que a presa, que se manifesta desde muito tenra idade.

Bibliografia: H. Raiser, “Der Hund”; A.Menchero, “Manual de Adiestramiento Canino”; A. Pozuelos, “Huta”; G. d’Avinon, “Noções Básicas de Adestramento Canino”; artigos vários dos autores citados e de Ed Frawley.





Aqui até posso concordar em grande parte com o que nos transcreveu a partir das suas fontes de informação e de inspiração no entanto tudo isto não explica em que se baseia a selecção dos criadores de trabalho que lhes garanta a tal diferença que você diz existir e que nos criadores de beleza a mesma falha, e que faz com que os criadores de trabalho não sejam bem como os de beleza.
No que nos transcreve aqui não explica como seleccionam os seus cachorros para o trabalho, assim como quais são os critérios a terem-se em conta.
A selecção é baseada nos instintos = temperamento = testes de Campbell
Ou então é baseada no carácter = temperamento + influencia do meio ambiente = treino e sociabilização = Informação adquirida.
Ou será que é baseado numa outra situaçao qualquer?
Enquanto e como criador de beleza eu pessoalmente baseio a minha selecção nos testes de Campbell escolhendo e dando sempre preferência aos que revelam os melhores instintos logo o melhor temperamento isto tudo sem descurar a boa conformidade morfológica como é obvio visto eu ser um criador dito de beleza.
Aquilo que eu considero ser na verdade a verdadeira essência do carácter do cachorro é o que é inato por não ter sido influenciado pelo meio ambiente ou forjado pelos treinos!
Visto que os treinos e os adquiridos do meio ambiente não serem possíveis de se transmitirem com e através da reprodução as futuras gerações vindouras na minha opinião a única boa selecção é por isso a que se baseia nos testes de Campbell.
Já agora pode-se saber qual é que você acha ser a utilizada dos criadores de trabalho que faça com que estes não sejam bem iguais a minha pessoa!?
Sabendo eu que possui um cão da linha de trabalho gostaria eu também aqui de o ver relatar o que o levou a si a escolher esse mesmo para si e porque não escolheu um outro irmão da ninhada por exemplo!
<p>Vindo do passado, galopando no presente a caminho do futuro. Criando Pastor Alem&atilde;o - Fazendo Amigos. </p>
<p>Cumprimentos </p>
<p>Vitor Oliveira</p>
zeca2
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Registado: quinta nov 26, 2009 4:02 pm

sábado jan 28, 2012 12:45 pm

2ª parte


6. Seleccionando o cão de guarda
Do atrás exposto resulta lógico que, na selecção de um cão de guarda, temos de esperar o desenvolvimento do seu instinto de defesa que, salvo indivíduos excepcionais, raramente será suficientemente indicativo antes dos 10/12 meses de idade. Fiar-nos no teste de Campbell, de aplicação por volta das 7 semanas de vida, não nos dá exactamente a imagem do carácter do cão, como é óbvio. Por outro lado, há muitos criadores que não fazem a aplicação desse teste, muito menos os que guardam registos dos mesmos, e ainda menos os que os transmitem aos novos proprietários.

A transmissibilidade dos instintos de que o cão é portador não parece nesta fase um aspecto fundamental, a não ser que se trate de criadores em busca de padreadores para as suas linhas (e que realmente se interessem por este aspecto, coisa não muito frequente em certas linhas).
Acresce ainda que fiar-nos exclusivamente no teste de Campbell menosprezando o carácter demonstrado por uma futura progenitora em idades mais avançadas poderá ter consequências negativas para os cachorros por ela criados: com efeito, o carácter de um cão resulta do somatório do seu temperamento com as experiências aprendidas. Assim, uma fêmea de carácter débil, apesar de uma genética apropriada, irá transmitir à sua descendência, por aprendizagem na fase de imprinting, as suas debilidades comportamentais.

Resta-nos pois, uma observação atenta de cada exemplar, avaliando exaustivamente o equilíbrio entre os dois drives já referidos. Poderíamos, quer quanto a presa quer quanto a defesa, utilizar uma escala como esta: 1- Inexistente ou muito baixo; 2-baixo; 3- médio; 4- alto; 5 – muito alto.

Assim, cães médios em presa e defesa poderão desempenhar um papel digno, seja em trabalho desportivo ou como cães de guarda; cães com baixo instinto de defesa nunca serão fiáveis como cães de guarda, podendo no entanto, com adequado treino, obter resultados mínimos em trabalho desportivo, o que, diga-se de passagem, é uma forma de mascarar as suas insuficiências. Nunca serão cães de guarda fiáveis.
7. A verdadeira ética – o respeito pelo cão
No mundo do trabalho, os guias do binómio trabalham diariamente os seus cães, conhecem perfeitamente as várias manifestações do seu carácter e sobretudo interessa-lhes o seu potencial de progressão, pelo que a insuficiência de drives leva a que sejam postos de lado em termos de trabalho desportivo e, por acréscimo de razão, em termos de reprodução, caso se trate de afixos de trabalho.

No mundo da “beleza” as coisas não se passam desta maneira, até porque, normalmente, os criadores não trabalham os seus cães, necessitando apenas dos títulos de trabalho para cumprir normativas ditadas pelos clubes em termos de autorização para criar, e também como estratégia de marketing para melhor venderem os seus cachorros. O normal é enviarem os exemplares para fazer as provas em regime de internato junto de treinadores. Interessa-lhes acima de tudo que os cães ostentem o título de RCI e verdadeiramente não se preocupam em que tal título traduza uma realidade substancial.

Por outro lado, profissionais do treino que recebem entre dois e três mil euros por cada prova que fazem comum cão, interessa-lhes sobretudo:

- que os cães façam a prova, mesmo que para tal seja preciso submetê-los a níveis de stress insuportáveis;
- que a façam no mínimo tempo possível, a fim de mais edo poderem receber os respectivos honorários.

Desta triste realidade resultam cães forçados ao limite, mais inseguros do que antes de ser titulados, cães que “fazem” as provas de trabalho em 2/3 meses e que em situação real não sabem fazer um simples fuss ou quebram perante a mínima ameaça do figurante. Mas como ostentam a prova de trabalho, continuarão a reproduzir (sobretudo se forem bonitos), transmitindo às respectivas descendências as suas inseguranças, sejam elas adquiridas ou genéticas.

Minimizar esta triste realidade exige por parte de criadores e treinadores uma correcta avaliação das potencialidades de cada cão, assumindo o comportamento ético de não forçar um cão a atingir objectivos para os quais não está capacitado, mesmo que seja à custa de perder um bonito reprodutor ou os lucros de um programa de treino.

Ao fim e ao cabo, o “melhoramento da raça” anda nas bocas de toda a gente, o “amor pela raça” é cartão de visita de todo o bicho careta. Pessoalmente, penso que estes apregoados conceitos não podem nunca dispensar o amor por cada cão, individualmente considerado. Respeitar cada cão, não lhe exigindo mais do que ele pode dar, é a melhor forma de respeitar a raça na sua globalidade.
fontedasbicas
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Registado: terça set 20, 2005 10:08 am

domingo jan 29, 2012 5:53 pm

Boas...

Para o amigo JC Sousa...

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<p>Cumprimentos </p>
<p><strong>Ant&oacute;nio Pato</strong></p>
LFBM
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terça jul 31, 2012 10:16 pm

zeca2 Escreveu:2ª parte



diariamente os seus cães, conhecem perfeitamente as várias manifestações do seu carácter e sobretudo interessa-lhes o seu potencial de progressão, pelo que a insuficiência de drives leva a que sejam postos de lado em termos de trabalho desportivo e, por acréscimo de razão, em termos de reprodução, caso se trate de afixos de trabalho.

No mundo da “beleza” as coisas não se passam desta maneira, até porque, normalmente, os criadores não trabalham os seus cães, necessitando apenas dos títulos de trabalho para cumprir normativas ditadas pelos clubes em termos de autorização para criar, e também como estratégia de marketing para melhor venderem os seus cachorros. O normal é enviarem os exemplares para fazer as provas em regime de internato junto de treinadores. Interessa-lhes acima de tudo que os cães ostentem o título de RCI e verdadeiramente não se preocupam em que tal título traduza uma realidade substancial.

Por outro lado, profissionais do treino que recebem entre dois e três mil euros por cada prova que fazem comum cão, interessa-lhes sobretudo:

- que os cães façam a prova, mesmo que para tal seja preciso submetê-los a níveis de stress insuportáveis;
- que a façam no mínimo tempo possível, a fim de mais edo poderem receber os respectivos honorários.

Desta triste realidade resultam cães forçados ao limite, mais inseguros do que antes de ser titulados, cães que “fazem” as provas de trabalho em 2/3 meses e que em situação real não sabem fazer um simples fuss ou quebram perante a mínima ameaça do figurante. Mas como ostentam a prova de trabalho, continuarão a reproduzir (sobretudo se forem bonitos), transmitindo às respectivas descendências as suas inseguranças, sejam elas adquiridas ou genéticas.

Minimizar esta triste realidade exige por parte de criadores e treinadores uma correcta avaliação das potencialidades de cada cão, assumindo o comportamento ético de não forçar um cão a atingir objectivos para os quais não está capacitado, mesmo que seja à custa de perder um bonito reprodutor ou os lucros de um programa de treino.

Ao fim e ao cabo, o “melhoramento da raça” anda nas bocas de toda a gente, o “amor pela raça” é cartão de visita de todo o bicho careta. Pessoalmente, penso que estes apregoados conceitos não podem nunca dispensar o amor por cada cão, individualmente considerado. Respeitar cada cão, não lhe exigindo mais do que ele pode dar, é a melhor forma de respeitar a raça na sua globalidade.
Esta, de facto, é uma triste realidade. A obtenção de certificados RCI/Schutzund é um grande negócio para juizes, criadores, clubes de raça, e treinadores.
Estes certificados começaram por ser, há mais de 1 século, testes de temperamentos e drives para escolher os melhores exemplares. Contudo nas últimas dezenas de anos tornaram-se num mero negócio que visa apenas "fazer de conta que o cão é bom" sendo o treino feito de forma mecanizada e recorrendo a truques como certificar o cão no campo de treino a que o cão está habituado, usando o auxiliar que o cão conhece e que até é amigo, usando a mesma manga a que o cão está habituado, fazendo exatamente os mesmos gestos e movimentos, etc. Desta forma é possivel certificar um cão fraquinho que, caso fosse confrontado com uma situação não familiar reagiria de forma completamente diferente, e é,exatamente perante o inesperado, que se vê muita da qualidade de um cão que sendo realmente bom reagriá de forma identica independentemente do terreno, do individuo que ameaça, do clima , do dono estar perto ou longe, de estar no seu territorio ou num lugar desconhecido, dos barulhos familiares ou estranhos, etc,etc.etc.

É claro que um cão para obter o certificado tem que ter algumas qualidades como: energia, saude, alguns drives, alguma treinabilidade. Agora afirmar que estes cães são aptos e treinados em defesa e guarda é 100% falso e há muita gente que demonstra o cão a morder na manga do auxiliar habitual dentro do campo de treino habitual e reclama essa performance como prova das qualidades de guarda e defesa.

Treinar um cão em guarda e defesa implica:

- treinar um cão com drive de defesa alto; nervos de aço; drive de luta (a vontade de lutar com quem o desafia- o cão vê o ameaçador como um desafio a conquistar); ser um caõ sociavel (para ser um protector o cão tem que poder seguir o dono para todo o lado e poder estar perto de outras pessoas, receber visitas, etc. - o conceito do bom cão de guarda ser aquele que rosna e ladra a tudo que mexe é errada, na realidade esse é um cão com nervos fracos que esconde os seus medos através da agressividade)

- treinar o cão com atitudes ameaçadoras de pessoas que o caõ não conhece ou não se relaciona(após o treino inicial "a brincar" usando o drive de presa para que o cão aprenda os exercicios de forma divertida).

- Treinar com mangas/fatos ocultos para que o cão pense que está mesmo a morder no ameaçador e não apenas no material.

- Treinar com açaimos próprios ond eo cão tenta morder o ameaçador em vários pontos do corpo sem qualquer manga ou fato de proteção.

É claro que este tipo de treino exige muito bons cães, exige conhecimentos, e muito mais treino do que a simples "coreografia" combinada dos certificados de RCI onde toda a gente faz de conta que o cão está realmente a fazer um trabalho de defesa. Faz lembrar os exames de condução de antigamente em que toda a gente já estava combinada, as luvas já tinham sido pagas e o exame era um pro-forma, ninguem estava interessado em saber se o candidato sabia realmente conduzir.

No meio disto tudo quem perde é a raça e os compradores que compram gato por lebre.
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