«Tartaruga que viveu 30 anos sem o mar superou desafio de atravessar o Atlântico
31.08.2010
Helena Geraldes
A Calantha esteve mais de 30 anos sem o mar, num tanque do Aquário Vasco da Gama, em Lisboa. Desde que foi devolvida ao oceano, no ano passado, esta tartaruga nadou 10.600 quilómetros, em linha recta, e conseguiu atravessar o Atlântico, numa das maiores migrações conhecidas.
A Calantha, fêmea da espécie tartaruga-comum (Caretta caretta), chegou a 30 de Agosto às praias das ilhas britânicas Turcos e Caicos, nas Caraíbas. Foi uma viagem que durou 332 dias, num mar que não via há mais de 30 anos.
“Sabemos que está saudável, que foi capaz de se defender [durante a travessia do oceano] e que soube reencontrar o seu rumo. Não se perdeu no meio do mar”, contou ao PÚBLICO Élio Vicente, biólogo marinho e director de Ciência e Educação do Zoomarine.
Hoje está nas Caraíbas, numa zona que serve de alimentação, reprodução e postura para muitas tartarugas de espécies diferentes.
Mas para que esta viagem fosse possível, a Calantha passou por cerca de cinco anos de recuperação, no Porto d’Abrigo, Centro de Reabilitação de Espécies Marinhas do Zoomarine. Para esquecer os mais de 30 anos que viveu numa piscina pequena, rodeada de pessoas todos os dias. Quando chegou ao centro de reabilitação, a 13 de Outubro de 2005, a tartaruga pesava 115 quilos.
“Primeiro ensinámos-lhes que os humanos não são amigos”, enumerou o biólogo marinho. Depois, a Calantha reaprendeu a capturar o seu alimento, especialmente caranguejos e peixes. “Como tinha perdido as técnicas de captura de presas, ensinámos-lhe a identificar o alimento e a ir buscá-lo”. Por fim, “foi essencial pô-la a nadar e a mergulhar o mais possível, para exercitar a sua musculatura”.
A 30 de Setembro do ano passado, o Zoomarine, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) e a Marinha Portuguesa devolveram a Calantha ao mar. Pesava, então, 128,5 quilos.
Desde então tem sido seguida atentamente, graças aos dados de satélite disponibilizados por um transmissor colocado com uma resina especial na sua carapaça.
“Não sabíamos para onde iria. Podia ir até à Florida, Brasil ou África, por exemplo. Esta é a primeira vez que uma tartaruga que viveu tanto tempo em cativeiro voltou ao mar”, contou. Ainda assim, “esta é uma das maiores migrações [de tartarugas] de que temos conhecimento”.
Para Élio Vicente, seria um prémio que a “nossa Calantha fosse vista numa praia a fazer um ninho”. Esta tartaruga está em plena fase de reprodutiva. Não se sabe ao certo a sua idade mas, segundo os primeiros registos no Aquário Vasco da Gama, datando de 1974, terá pelo menos 40 anos. As tartarugas têm uma longevidade média de 60 a 70 anos.
O biólogo garante que não se coloca a questão de a Calantha ser, ou não, rejeitada pelas outras tartarugas. “Durante a maior parte do ano, à excepção da altura da reprodução, as tartarugas não interagem, não há laços sociais. Apenas partilham o espaço”.
Agora, a questão em aberto é se a viagem da Calantha chegou ao fim ou se esta é apenas uma etapa, para repor as energias gastas durante a longa viagem. “Ela pode ainda seguir para o Mar das Caraíbas, para as Bahamas, Brasil ou Golfo do México”. Dentro de, mais ou menos, uma semana, a Calantha dará a saber a sua decisão.
A espécie Caretta caretta tem uma vasta distribuição em todos os oceanos mas está classificada como Em Perigo, no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, especialmente por causa das ameaças às praias de nidificação, como a captura de ovos e a urbanização intensiva. Nas águas portuguesas ocorrem maioritariamente juvenis e a maior ameaça é a captura acidental por artes de pesca.»
in http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1453695
A tartaruga Calantha
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«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke
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É, a história da Calantha é muito bonita. Regressar à sua vida normal depois de mais de 30 anos num aquário e ainda manter a «programação» para fazer uma viagem tão grande sem se perder.
Também achei curioso o que disseram acerca de a terem ensinado a deixar de confiar nos humanos.
E o facto de termos centros de excelência destes no nosso país. Nem tudo é mau...
Aqui vai mais uma história relacionada, da mesma fonte:
«Johnny vai ter que esperar
Mas nem todas as tartarugas marinhas tiveram a mesma "sorte" desta viajante. Johnny, que também está no Zoomarine, é uma delas. É uma tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii), a mais ameaçada de extinção das sete espécies de tartarugas marinhas que existem. Não pode regressar a casa por causa da maré negra no golfo do México, ainda que, numa população ameaçada, um único indivíduo possa fazer a diferença no aumento da população.
Johnny deu à costa da Holanda a 21 de Novembro de 2008. Foi, então, levado para o Zoo de Roterdão onde chegou com pouco mais de dois quilos. No Verão de 2009, foi transferido para o Zoomarine por causa das águas mais quentes e pela experiência da instituição neste tipo de acções.
Hoje, está bem de saúde, com 17,3 quilos e pronto para ser libertado. Mas, explicou Élio Vicente, "a devolução não podia ser feita nas nossas águas por a espécie não ter aqui a sua distribuição natural". Estima-se que 95 por cento dos animais desta espécie nasçam numa única praia do golfo do México.
"Como as tartarugas tendem a dirigir-se para as praias onde nasceram, e existem fortíssimas probabilidades de Johnny ter nascido no golfo do México, não o poderemos libertar enquanto aquele ecossistema estiver contaminado." A contaminação ocorreu com a explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, a 20 de Abril, acrescentou Élio Vicente. "A devolução tem vindo a ser adiada sine die."
Como o espaço no Zoomarine é limitado e a prioridade é dada aos animais doentes, a instituição já pediu às autoridades portuguesas e norte-americanas para ajudarem no processo de devolução de Johnny. "A Força Aérea portuguesa já se disponibilizou para o levar de Faro aos Açores. E esta semana entrámos em contacto com o NOAA [National Oceanic and Atmospheric Administration] para que trate do transporte para um centro nos Estados Unidos que o receba e que o mantenha até ser seguro libertá-lo."
Para já, Johnny continuará longe de casa.»
Também achei curioso o que disseram acerca de a terem ensinado a deixar de confiar nos humanos.
E o facto de termos centros de excelência destes no nosso país. Nem tudo é mau...
Aqui vai mais uma história relacionada, da mesma fonte:
«Johnny vai ter que esperar
Mas nem todas as tartarugas marinhas tiveram a mesma "sorte" desta viajante. Johnny, que também está no Zoomarine, é uma delas. É uma tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii), a mais ameaçada de extinção das sete espécies de tartarugas marinhas que existem. Não pode regressar a casa por causa da maré negra no golfo do México, ainda que, numa população ameaçada, um único indivíduo possa fazer a diferença no aumento da população.
Johnny deu à costa da Holanda a 21 de Novembro de 2008. Foi, então, levado para o Zoo de Roterdão onde chegou com pouco mais de dois quilos. No Verão de 2009, foi transferido para o Zoomarine por causa das águas mais quentes e pela experiência da instituição neste tipo de acções.
Hoje, está bem de saúde, com 17,3 quilos e pronto para ser libertado. Mas, explicou Élio Vicente, "a devolução não podia ser feita nas nossas águas por a espécie não ter aqui a sua distribuição natural". Estima-se que 95 por cento dos animais desta espécie nasçam numa única praia do golfo do México.
"Como as tartarugas tendem a dirigir-se para as praias onde nasceram, e existem fortíssimas probabilidades de Johnny ter nascido no golfo do México, não o poderemos libertar enquanto aquele ecossistema estiver contaminado." A contaminação ocorreu com a explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, a 20 de Abril, acrescentou Élio Vicente. "A devolução tem vindo a ser adiada sine die."
Como o espaço no Zoomarine é limitado e a prioridade é dada aos animais doentes, a instituição já pediu às autoridades portuguesas e norte-americanas para ajudarem no processo de devolução de Johnny. "A Força Aérea portuguesa já se disponibilizou para o levar de Faro aos Açores. E esta semana entrámos em contacto com o NOAA [National Oceanic and Atmospheric Administration] para que trate do transporte para um centro nos Estados Unidos que o receba e que o mantenha até ser seguro libertá-lo."
Para já, Johnny continuará longe de casa.»
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke