«José Cláudio já tinha avisado que um dia o iam matar, por atrapalhar os madeireiros que devastam a Amazónia. E terça-feira foi morto a tiro, com a mulher.
Um cortejo de cinco mil pessoas seguiu ontem o funeral de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados na terça-feira, quando viajavam de moto perto de casa, em Nova Ipixuna, Sudeste do Pará, Amazónia.
Dois pistoleiros alvejaram-nos com tiros de revólver e espingarda e depois cortaram uma das orelhas de José Cláudio, presumivelmente para entregar a quem os contratara, como prova.
O crime aconteceu horas antes de ser aprovado no Congresso Brasileiro um novo Código Florestal que amnistia desmatadores da floresta e reduz a área protegida. E está a ser comparado, em termos simbólicos, às mortes do seringueiro Chico Mendes, em 1988, ou da missionária Dorothy Stang, em 2005. "É algo que nos comove a todos", disse a ambientalista Marina Silva, ex-candidata à presidência: "O José Cláudio e sua esposa foram assassinados covardemente."
Presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (aquelas que colhem da natureza sem a prejudicar), José Cláudio era das vozes mais activas na defesa da floresta.
Ele e a mulher, representando 300 famílias juntas num projecto ecológico, interditavam estradas para forçar os camiões madeireiros a parar, anotavam as placas e denunciavam-nos ao IBAMA (protecção do ambiente) e ao Ministério Público. O casal já tinha escapado a uma emboscada em 2010.
Em Novembro, num espantoso depoimento para a série de palestras TED, José Cláudio conta como começou a colher castanha-do-pará aos sete anos e a partir daí viveu sempre da floresta: de fazer geleia de cupuaçu (uma fruta amazónica), cestos de cipó ou artesanato de madeira caída naturalmente, além da castanha.
De pé em cima do palco, mulato grisalho, de boina, jeans e T-shirt, José Cláudio explicou à plateia como em 1997 a região dele tinha 85 por cento de floresta nativa e com a chegada das madeireiras passou para pouco mais de 20 por cento, "um desastre" para quem vive da floresta.
Mais: como as madeireiras significam risco de morte violenta. "Vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito, por isso eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Porque eu vou para cima, denuncio os madeireiros, denuncio os carvoeiros, e por isso eles acham que eu não posso existir. A mesma coisa que fizeram no Acre com o Chico Mendes querem fazer comigo, a mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês e daqui a um mês vocês podem saber a notícia de que eu desapareci. Me perguntam: "Tem medo?" Tenho. Sou ser humano. Mas o medo não empata de eu ficar calado. Enquanto eu tiver força para andar, estarei denunciando todos aqueles que prejudicam a floresta. Essas árvores que tem na Amazónia são as minhas irmãs."
Violência crescente
Esse depoimento é a crónica de um assassinato anunciado. Não passou um mês, passaram seis, e José Cláudio morreu mesmo à bala, sem que nada tivesse sido feito para combater a impunidade dos madeireiros e proteger quem protege a floresta.
Pelo contrário: o número de trabalhadores rurais assassinados aumentou 30 por cento em 2010 (segundo um relatório recente da Comissão Pastoral da Terra) e só uma percentagem mínima dos assassinos é identificada (um em cada 17, de acordo com contas da revista Carta Capital).
Ao condenar o assassinato de terça-feira, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse que este crime "escancara a deficiência do Estado brasileiro em defender os filhos da terra que lutam em favor da vida", lembrando que, desde 2001, José Cláudio era ameaçado de morte. Estava numa lista de 58 pessoas marcadas para morrer.
Entre missionários, bispos, padres, irmãs e leigos, a CNBB regista muitas denúncias de pessoas ameaçadas no Pará, sobretudo no Sudeste do estado, uma espécie de faroeste.
Nas mãos de Dilma
Terça-feira à tarde, quando os deputados brasileiros foram informados do crime durante a votação do novo Código Florestal, a bancada "ruralista" vaiou o anúncio. Os "ruralistas" representam o lobby da agro-indústria no Congresso.
"No momento em que estão se discutindo retrocessos na legislação ambiental, colocando praticamente na clandestinidade aqueles que têm arriscado sua vida para proteger a lei, agora os que desrespeitam a lei e desrespeitam a vida estão tendo esse processo próximo de ser legalizado", foi o comentário de Marina Silva ao novo código, aprovado por larga maioria.
O texto ainda vai ao Senado e à Presidente. "Eu tenho a prerrogativa do veto", já disse Dilma Rousseff. "Se eu julgar que qualquer coisa prejudica o país, eu vetarei."
Nomeadamente a amnistia para desmatadores: "O desmatamento não pode ser amnistiado, não por alguma vingança, mas porque as pessoas têm que perceber que o meio ambiente é algo muito valioso que nós temos que preservar e que é possível preservar."
Dilma pediu à Polícia Federal para investigar o assassinato de José e Maria.»
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1496219
José e Maria foram assassinados por defenderem a floresta!!!
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- Localização: os meus e os que são meus temporariamente :)
E não são os 1ºs a serem assassinados.
O lucro vale mais do que a vida.
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eu as vezes tennho umas ideias do tipo; se uma pessoa fosse para a floresta e mata-se os madeireiros sem ninguem saber o que aconteceria?
ps: não pensem que tenho ideias homicidas regularmente
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Eu nem gosto de cobras, pá!
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Se matasse os madeireiros, era apenas igual aos que actualmente matam as pessoas que se lhes opõem. ´Já desejar que lhes caiam umas arvores em cima quando estiverem a cortá-las, acho que não faz maltekillaa Escreveu:eu as vezes tennho umas ideias do tipo; se uma pessoa fosse para a floresta e mata-se os madeireiros sem ninguem saber o que aconteceria?
ps: não pensem que tenho ideias homicidas regularmente

Além de que esses madeireiros que andam pelas florestas a cortar árvores não passam da carne para canhão das grandes empresas madeireiras, que a essas sim, é de desejar todo o mal que lhes possa acontecer.
<p>Olá, eu sou a Bronkas de outros fóruns e aqui já fui a LucNun.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.

tem móveis em casa?LuluB Escreveu:Além de que esses madeireiros que andam pelas florestas a cortar árvores não passam da carne para canhão das grandes empresas madeireiras, que a essas sim, é de desejar todo o mal que lhes possa acontecer.
«None are more hopelessly enslaved than those who falsely believe they are free»
Tenho, embora muito poucos, apenas os indispensáveis, e todos de serradura colada e pinho.Charlie2 Escreveu:tem móveis em casa?LuluB Escreveu:Além de que esses madeireiros que andam pelas florestas a cortar árvores não passam da carne para canhão das grandes empresas madeireiras, que a essas sim, é de desejar todo o mal que lhes possa acontecer.
Não é por aí, Charlie2. As madeiras provenientes dessas florestas são todas madeiras consideradas nobres, das quais se faz um enorme consumo de luxo.
De resto, e como deve saber, há muito que as organizações que defendem a floresta e sua conservação apelam para que se deixe de procurar artigos sumptuários feitos de madeiras nobres como uma das formas de acabar com a desflorestação desenfreada.
<p>Olá, eu sou a Bronkas de outros fóruns e aqui já fui a LucNun.
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bem visto.LuluB Escreveu:Tenho, embora muito poucos, apenas os indispensáveis, e todos de serradura colada e pinho.Charlie2 Escreveu:tem móveis em casa?LuluB Escreveu:Além de que esses madeireiros que andam pelas florestas a cortar árvores não passam da carne para canhão das grandes empresas madeireiras, que a essas sim, é de desejar todo o mal que lhes possa acontecer.
Não é por aí, Charlie2. As madeiras provenientes dessas florestas são todas madeiras consideradas nobres, das quais se faz um enorme consumo de luxo.
De resto, e como deve saber, há muito que as organizações que defendem a floresta e sua conservação apelam para que se deixe de procurar artigos sumptuários feitos de madeiras nobres como uma das formas de acabar com a desflorestação desenfreada.
«None are more hopelessly enslaved than those who falsely believe they are free»