A caridade paga imposto

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
AHAHAH
Membro Júnior
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terça nov 13, 2012 2:19 pm

E esses pobres eram gratos, ou não?

Se eu vier a precisar também serei grato se me alimentarem mas enquanto não acontecer (nunca se sabe), continuarei a ajudar as associações "criminosas".
colette
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terça nov 13, 2012 2:55 pm

Se eram gratos ou não, não sei nem me interessa, já que o que se dava era de boa vontade e não era para agradecer, mesmo vindo de alguem que pouco mais tinha.
Acho que faz muito bem em contribuir. É porque pode.
Quanto a mim, como tenho cá em casa muito onde exercer a minha "caridade" é aí que ela começa: cá em casa.
Claro que nunca se sabe. Mas eu continuo a não contribuir dada a cambada de oportunistas que grassa por este país.
Ainda hoje, pela fresquinha, recebi um telefonema de uma "associação" de protecção a crianças a pedinchar contribuições. Se já não dou ao vivo, imagine-se se o faria pelo telefone.
<p>Au d&eacute;but, Dieu cr&eacute;a l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>
Floripes3
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terça nov 13, 2012 3:41 pm

Poizé, Colette. O que a sua mãe fazia, faziam-no muitas, incluindo a minha, todas à sua maneira e à maneira da época em que viveram, quando os pobrezinhos deviam ser limpinhos e honestos, não roubar, não pedir nada que não devessem, serem sempre agradecidos e veneradores, e por aí fora.

A mendicidade é uma actividade antiga, sempre lucrativa e sempre bem organizada - lembra-se das Guildas medievais? E lembra-se, há poucos anos, dos mendigos da Baixa que pedinchavam com criancinhas ao colo, que depois se veio a saber serem alugadas a outros miseráveis iguais a eles?

A literatura também está cheia de descrições e estudos mais ou menos psicológico-sociais da mendicidade e seus actores. Tal como o imaginário popular, que sempre falou por entre dentes dos mendigos ricos, que quando morriam deixavam enxergões cheios de notas e prédios de rendimento.

Mas os tempos mudaram, e hoje, na era da globalização, o lucrativo negócio (há quem lhe chame indústria) mudou de mãos. Hoje já não há, pelo menos que se saiba, mendigos organizados, nem guildas, nem nada do género. A mendicidade mudou de mãos e de nome, agora chama-se caridade, ou, numa perversão habilidosa porque a palavra "caridade" está um tanto desacreditada, solidariedade. E os seus lucros também mudaram de mãos e de recipientes.

E é disso que este tópico tenta tratar...
Última edição por Floripes3 em terça nov 13, 2012 3:42 pm, editado 1 vez no total.
<p>Ol&aacute;, eu sou a... Floripes3 que j&aacute; foi 2. &nbsp;:mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a v&iacute;tima. O sil&ecirc;ncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p>&nbsp;"Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
Arguida2
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terça nov 13, 2012 3:41 pm

Por acaso nós também tivémos durante anos a fio um "sem-abrigo" que ía pedir comida lá a casa.

De início timidamente e, nos últimos tempos, já se dava ao "luxo" de dizer o que queria comer do género: Quero uma sandes de fiambre com manteiga, um copo de leite e por aí fora. Geralmente para além do que comia, ainda lhe dávamos "farnel". :wink:

Segundo soubémos era doente do Júlio de Matos e andava por aí. :roll: :roll:

O Zé a meu ver de maluco não tinha nada pois tinha uma conversa perfeitamente normal.

Um dia ía eu apanhar o metro e deparei-me com o Zé a pedir sentado no chão com uma perna debaixo do rabo e tapado com um pano a fingir-se de "amputado". :twisted: :twisted:

Fiquei mesmo piúrça com ele e preguei-lhe uma descasca por estar ali a enganar as pessoas.

Nunca mais o vi ... deve ter tido vergonha de lá voltar a casa a pedir.
Arguida2
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terça nov 13, 2012 3:45 pm

Lembro-me também de andar pela Av. de Roma um toxicodependente que tinha uma vida miserável e que passou um inverno abrigado nas escadas de serviço do nosso prédio.

Segundo soubémos esse rapaz estava em medicina mas teve um esgotamento, aliado ao facto de se ter metido na droga e foi a desgraça dele. :cry: :cry:

Todos os dias lhe íamos levar comida e lembro-me perfeitamente de nesse Natal lhe termos oferecido uma ceia condigna para quem não tinha nada. :cry:

Ele não fazia mal a ninguém mas, o senhorio quando soube que ele pernoitava lá, exigiu que essa porta passasse a estar definitivamente fechada e perdemos-lhe o rasto. :cry:
Arguida2
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terça nov 13, 2012 3:52 pm

Quanto à solidariedade e as ditas instituições, peço desde já desculpa por estar a englobar todas no mesmo saco pois, eventualmente estarei a ser injusta mas ... desconfio muito das mesmas.

Há uns bons anos atrás tentei fazer voluntariado e, "inscrevi-me" em algumas sendo que, até hoje ... ninguém se dignou responder. :cry:

Quando lhes ligava, invariavelmente respondiam que não precisavam de voluntários e que me iriam colocar em lista de espera. :cry: :cry:

Um dos casos mais "gritantes" do que se passou nessa altura foi que a minha directora e eu nos inscrevemos para a Associação Sol e, depois de inúmeras peripécias, de "desencontros" vários, lá nos disseram que, não precisavam de nós pois queriam alguém a tempo inteiro. :o :o :o

Como???? A tempo inteiro???? Então como é que é? Nem 1 mês antes, a presidente desta Associação tinha estado na televisão a lamentar-se da escassez de voluntários. Disponibilizámo-nos para ao fim-de-semana (que era o tempo que tinhamos disponível) irmos para lá e dão-se ao luxo de recusar???

Outra foi a AMI ... ficámos sem resposta.

Enfim ... acho que todos gostam muito de se lamentar mas, quando chega a hora da verdade... parece que as necessidades afinal não são assim tantas. :twisted:
pesquebrados
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terça nov 13, 2012 4:14 pm

colette Escreveu:Pesquebrados, a minha mãe também tinha um pobre fixo que ia lá comer.
Também se sentava nas escadas a comer o prato de sopa de pôr a colher em pé mais um papo seco com chouriço. Ou umas fationas de pão alentejano já com vários dias de existência, mas sempre bom. Do copinho de vinho não me lembro mas, provavelmente, não falhava.
Fazia o impossível com o possível, ou vice-versa...
pesquebrados
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terça nov 13, 2012 4:19 pm

colette Escreveu:Se eram gratos ou não, não sei nem me interessa, já que o que se dava era de boa vontade e não era para agradecer, mesmo vindo de alguem que pouco mais tinha.
x 2...00

quando se pensa no agradecimento antes de dar um prato de sopa a quem tem fome, muita fome está tudo dito...
e desde que me lembre em 1964, 65, 66, 67...e seguintes havia muita fominha

há argumentos que de facto são duma tristeza imensa
Arguida2
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terça nov 13, 2012 4:21 pm

Há uns anos atrás fui dar roupa a uma Instituição de Solidariedade e dei um donativo.

Todos os anos passei a receber chamadas dessa Instituição a pedir ajuda, pedido esse a que sempre correspondi.

O ano passado esse "laço" quebrou-se definitivamente pois esta Instituição teve o desplante de mandar para minha casa, um tipo duma factura com o montante definido com a entidade, referência e prazo de pagamento. :o :o :o

Obviamente que fiquei lixada e após um telefonema para a dita cuja nada simpático da minha parte, pois não admito que mexam no meu bolso, acabou-se a ajuda. Lamento mas há situações que não posso deixar passar em branco. :evil:
Charlie3
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terça nov 13, 2012 4:47 pm

Bondage2010 Escreveu:
Bingley Escreveu:
Charlie3 Escreveu:eu contribuo directamente com as pessoas necessitadas e sempre em géneros :)
Os quais comprou nalgum lado, dando lucro a alguém e pagando o correspondente IVA. Exatamente a mesma coisa que acontece durante uma campanha do Banco Alimentar 8)
Com a diferença da certeza que chega ao destinatario...e dentro do prazo de validade...em vez de ficar em armazens alguns anos antes de ir para o lixo ou ir enquanto dentro da validade parar a casa de quem não precisa ;)
nem mais :)
MiCas2011
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terça nov 13, 2012 5:07 pm

Este tópico já me fez correr umas lágrimas pelo rosto... sou muito sensivel a estas coisas... e algumas das vossas histórias são muito identicas às minhas...

Também a minha mãe dava sempre um prato de comida a um pedinte que nos batia à porta, todos os sábados... até que se deixou de ver!

Houve uma história idêntica, mas cujo fim me marcou muito: Havia uma mulher com uma criança que também vinha bater à porta e a quem a minha mãe dava pão, leite e por vezes uma caixinha com sopa. Dava também algumas roupas...
Um dia na rua encontrámos essa mulher a pedir esmola e ela veio pedir-nos, a minha mãe disse que dinheiro não dava, mas que lá fosse como de costume que lhe dava comer... e de repente a mulher vira-se para nós e diz: "ainda hás-de ver a tua filha no hospital dos tuberculosos... etc...etc..."

A minha mãe ficou :o :o lembro-me de a ver chorar e agarrar-me a mão com força e levar-me dali... não me recordo se voltamos a ver a tal mulher ou não...

Hoje de manhã, no café onde fui tomar o peq-almoço, que é o meu vicio... estava um mendigo encostado a uma coluna... esperando... nunca o tinha visto ali e fiquei curiosa... uma outra rapariga também olhava para ele e para mim... curiosas... até que o dono do café lhe deu um copo de galão e um pão e ele foi comer para a rua... olhei para a rapariga, ela tinha lágrimas nos olhos e eu... também!

Doi-me a alma quando vejo certas coisas, mas também não dou para instituições... dou directamente quando vejo e sinto que tenho que dar... :(
... Carolina Homenagem ao meu Tareco: http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopi ... highlight=
colette
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terça nov 13, 2012 5:18 pm

Ó Floripes, desculpe lá, mas este pobre a que me refiro de "limpinho" não tinha nada.
Se bem me recordo, tresandava. E qual era a admiração? Mesmo que quisesse, calculo que não tinha onde se lavar. Isto acontecia nos anos 50 do século 20. Urinóis havia com fartura, agora balneários só se fosse na Mitra.
E se bem se lembra, nessa época, mesmo nas famílias ditas "remediadas", banho era só uma vez por semana. Nos outros dias as lavagens eram às prestações.
<p>Au d&eacute;but, Dieu cr&eacute;a l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>
marianamar
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terça nov 13, 2012 10:23 pm

Também me lembro, quando era pequena, de uma cigana com uma filhota, que todas as semanas passava em casa da minha avó. Quando podia, a minha avó dava um pacote de leite e mais qualquer coisa (o pacote de leite era sagrado, por causa da menina). Quando não podia explicava, a senhora agradecia e voltava depois. Foi assim também que aprendi a dar, pois por vezes a minha avó incentiva-me a escolher, de entre os meus brinquedos, um para a menina levar. Ainda me lembro de um, que era um telefone em forma de hipopótamo com rodinhas :P

Hoje em dia se uma cigana nos bater à porta, não abrimos. É triste como as coisas mudaram. Foi criada para não ter preconceitos e durante muito tempo, não os tive. Agora os meus avós foram assaltados por uma família de ciganos, que se infiltrou na mercearia e por aí, na casa adjacente. Podiam ir assaltar quem não tivesse dificuldades...


A propósito, alguém conhece o Rotaty Club? O que têm a dizer?
Joie2
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terça nov 13, 2012 10:55 pm

Há muitos anos, o Rotary Club pagava os estudos a miúdos inteligentes, estudiosos e de famílias pobres (o Dr. Fernando Pádua foi um deles), para além de outras ajudas, solidariedade, caridade ou o que lhe queiram chamar. Conheci membros que já morreram pelo que actualmente não sei como está (mas também deve ser criticado como os BA).
marianamar
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terça nov 13, 2012 11:02 pm

Estou a perguntar porque fui convidada a participar, na parte dos jovens, o Rotaract. Mas estou um bocadinho céptica porque

a) além de mim só uma outra pessoa do grupo sabe o que são dificuldades, para as entender
b) pelo menos 50% do grupo é gente bem rica
c) parecem mais interessados em fazer festas e jantares que gestos de solidariedade directos

Vamos a ver... se vir que é só treta, adeuzinho.
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