sábado nov 21, 2009 6:33 pm
Eu tenho 51 anos, nasci e fui criada, quase sempre em Lisboa, por uma avó nascida em Alhandra e com a quarta classe. Ela sempre me ensinou a não tratar as pessoas por você, embora eu a tratasse por tu a ela.
Nestas coisas das formas de tratamento, como disse lá mais para cima, a nossa língua é muito rica. Tudo depende do contexto familiar, da região, etc. No Norte é frequente as pessoas tratarem-se por você sem que isso seja desrespeitoso. Em Trás-os-Montes, que eu conheci bem, os filhos dirigiam-se assim à mãe: "Ó minha mãe, vocemecê (ou você) já foi dar milho às pitas?" E ela respondia: "Não, filhos, ide vós que eu ainda não tive vagar". É muito curioso. Depois, os palavrões são mais que muitos, e os pais utilizam-nos frequentemente, mas na casa que eu conheci os filhos tinham o cuidado de não os utilizar em frente aos pais...
Alguém já referiu atrás a forma de tratar os sogros (peço desculpa de não me lembrar quem). Precisamente, os meus sogros eram trasmontanos. Ao interpelar directamente a minha sogra, o "D. Marta" estava fora de questão; seria estranho para mim e ainda mais para ela. O "você" também estava excluído para mim, bem como o tratamento por "minha mãe". Adoptei, portanto, o "Tia Marta". Ainda hoje não sei se foi a saída mais correcta, mas foi a que na altura encontrei, funcionou e ainda hoje funciona.
Passando para o outro extremo do país, no Algarve, onde mora a minha filha, já verifiquei que o tratamento por você é comum, pelo que ela começa a ficar contaminada, mas eu nunca perco uma oportunidade de a emendar, porque tenho este hábito muito arreigado.
Quero eu com isto dizer que as nuances são mais que muitas.
Se outro forista me disser, "Você não entendeu o que eu quis dizer", para mim, soa logo com uma carga diferente de "A Tássebem não entendeu o que eu quis dizer". (Depois só o futuro da conversa eventualmente dirá se a pessoa me tratou por você com intenção ou sem intenção de ser mal-educada.)
Por outro lado, se eu colocar uma dúvida num tópico e perguntar aos outros foristas, "O que é que vocês acham?", já é completamente diferente.
Já no exemplo que a LuluB indicou, "Você pode dizer-me onde fica a rua X?", eu diria, "A senhora pode dizer-me onde fica a rua X?"
Quanto ao tratamento por tu, é quase a mesma coisa. Também tenho dificuldade em tratar quem não conheço bem por tu. Aqui no fórum, há foristas com quem tenho trocado mais posts ou mensagens e que, a dado passo, começam a tratar-me por tu. Não levo nada a mal, pois entendo isso como uma forma de significar maior proximidade, e até tento retribuir a forma de tratamento, embora às vezes lá me escape outra vez o tratamento mais impessoal. Ao que pude ver, no Felinus os foristas tratam-se geralmente por tu, penso eu que com o mesmo espírito de proximidade que advém de se estar ali por uma causa comum.
Mas concordo plenamente que, com o que se passa neste fórum, o "você" é uma questão de somenos. No entanto, ela surgiu noutro tópico e por isso peguei nesse mote.
Há realmente foristas que colocam uma grande carga de hostilidade e sobranceria nos seus posts, e isso é que seria bom que acabasse...
P.S. Fitinhas, não estou esquecida, OK?
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke