Tradutores da treta.

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
Netherwing
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segunda mai 23, 2011 12:15 pm

dinodane Escreveu:
cpontos Escreveu:
Netherwing Escreveu:A esmagadora maioria desses "tradutores" não tem formaçao universitária... as empresas pedem apenas o 12ºano.
Efectuei uma espécie de ''estudo de mercado'' e a conclusão a que cheguei foi que as empresas não contratam sem licenciatura. Na altura entrei em contacto com 10 empresas de tradução e foi a informação que me deram, todas sem excepção. Este 'estudo' que fiz foi meramente por curiosidade, pois gostaria mesmo de obter a formação superior na área, como acho que deve ser. Ou se calhar hoje em dia já não vale a pena, pois uma licenciatura nem sequer é sinónimo de se saber escrever PORTUGUÊS em condições. Deixou de ser prova de boa educação (no sentido académico) e excelência, infelizmente.
Verdade cpontos.
not true. é para despachar candidatos. ;)
An ye harm none, do what ye will
cpontos
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segunda mai 23, 2011 12:29 pm

Mas, nesse caso, porquê? Eu admito que sou ingénua, mas é muito fácil para mim entender que só contratem licenciados, pois é um emprego que carece de certos conhecimentos técnicos e uma sólida cultura geral.

Se eu me estava a candidatar, demostrando espírito de iniciativa, porquê despacharem-me? Mais valia dizerem a verdade e aceitar a minha candidatura, pois só se traduziria em contratação se bem o entendessem...

Não percebi...

E tenho feito pesquisas em sites de emprego, filtrando pela área, e solicitam sempre frequência universitária... É que eu concordo quando se diz que não é por se fazer traduções que se é Tradutor. Traduções faço eu em casa, por gozo, de obras literárias que lá tenho em inglês ou espanhol. Serve-me de consolo, de entretém e de treino. Faço exercícios de tradução através da TV, quando vejo os Simpsons e penso para comigo ''eu traduziria de outra forma...'' Mas sei que para ser uma profissional, tenho de frequentar a Universidae e ganhar esse conhecimento específico. Ou melhor, pensava eu... :oops:
Tassebem
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segunda mai 23, 2011 12:34 pm

cpontos, não sei o que pedem agora. No tempo em que fiz tradução e legendagem, comecei a trabalhar para a RTP. Não era exigida licenciatura (e bem; já não era a licenciatura que aferia a qualidade, e muito menos agora), mas faziam-se provas presenciais, de tradução e de capacidade para o chamado «apanhar de ouvido», pois havia muitos programas que vinham sem o guião ou com guiões incompletos. Depois a RTP fazia formação para este tipo particular de tradução, uma vez que o ensino ainda não disponibilizava cursos nesta área.

Na altura, dava imenso trabalho traduzir um filme, um documentário ou um episódio de uma série. Para terem uma ideia, era necessário deslocarmo-nos pelo menos duas vezes às instalações da RTP, uma para visionar o filme ou episódio e dividir as legendas, outra para ir inserir as legendas (se fosse documentário, entregava-se à parte a tradução da voz off). Era necessário marcar salas com antecedência, pois muitas vezes não havia vagas, e as maquinetas estavam frequentemente avariadas. Cheguei a sair de lá muitas vezes à meia-noite, hora a que os seguranças fechavam as instalações, e voltar logo de manhã cedo para terminar a legendagem, se tivesse a sorte de ter sala livre. A tradução e construção das legendas era feita em casa, num programa arcaico e complicadíssimo. Tudo isto por tuta e meia.

Com a concorrência, quando surgiram as outras televisões, o preço pago aos tradutores aumentou um bocadinho. Mas logo começaram a surgir como cogumelos os gabinetes de tradução, oferecendo cada um deles preços mais baixos às televisões, e o preço pago aos tradutores baixou novamente.

Foi quando deixei de trabalhar nesta área, porque, além disso, era-nos praticamente exigido que estivéssemos sempre disponíveis para os prazos mais impossíveis, como se fôssemos trabalhadores do quadro, quando nem sequer avençados éramos.

Quanto à outra questão, a da licenciatura, se tivermos em conta o nível de conhecimentos com que um número bastante considerável de jovens saem das faculdades (que não podem fazer milagres), não me admira nada que haja licenciados a fazerem péssimas traduções e até a darem erros de ortografia em português que fervem. Mas a culpa não é deles.
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke
LuluB
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segunda mai 23, 2011 2:03 pm

Nunca fiz tradução de legendas nem para a televisão ou o cinema, o meu campo foi sempre o chamado literário. Mas tenho uma familiar que trabalha num estação de televisão que me contava coisas verdadeiramente vergonhosas do que faziam aos tradutores. Das quais a mais ligeira era o tempo que levavam a pagar a miséria que ajustavam pagar, para não falar de quando pagavam...

Ser tradutor não é pêra-doce nem trabalho para qualquer um, digam os habituais malidecentes o que disserem. Para além da tal cultura geral que aqui já se referiu - e que não se compra em pastilhas na farmácia, leva muitos anos a adquirir e é preciso ter um espírito muito curioso e gosto por saber e aprender -, também são precisas muitas outras coisas. Entre elas, resistência física para aguentar as muitas horas de trabalho que a tarefa pede - não há muitas costas que aguentem doze horas seguidas, ou mais, de trabalho ao computador (hoje, porque nos tempos pré-informática, em que se tinha de batucar tudo na máquina de escrever, nem vos digo como era), não há olhos que não se cansem de andar a pesquisar na Net ou em velhos alfarrábios termos especializados, equivalências de frases idiomáticas, peculiaridades sintácticas ou gramaticais, não há cabeça que aguente a constante escolha entre uma palavra e cinco outras adoptáveis, etc., etc.

Era bom que a tradução fosse só encher chouriços, substituindo umas palavras por outras, era...
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
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cpontos
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segunda mai 23, 2011 2:12 pm

Ai LuluB, o segundo parágrafo fez-me sorrir... É que são estas descrições que me fazem o coraçãozinho enternecer. Tradução é isso mesmo! É dedicação, é pesquisar termos coloquiais, é contextualizar determinada frase na época/país/conjuntura política em que foi proferida... Bolas, é uma profissão tão interessante, já merecia melhor opinião, não é?
Netherwing
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segunda mai 23, 2011 2:36 pm

cpontos Escreveu:Ai LuluB, o segundo parágrafo fez-me sorrir... É que são estas descrições que me fazem o coraçãozinho enternecer. Tradução é isso mesmo! É dedicação, é pesquisar termos coloquiais, é contextualizar determinada frase na época/país/conjuntura política em que foi proferida... Bolas, é uma profissão tão interessante, já merecia melhor opinião, não é?
pronto... derreteu-me o gelo todo! :)


Força nisso cpontos... se gosta da coisa, força! de verdade :)

bons e maus profissionais sempre há-de haver em todas as areas.... é certo como o destino.
A vocação é meio caminho andado... boa sorte. :)
An&nbsp;ye harm none, do what ye will
LuluB
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segunda mai 23, 2011 3:03 pm

cpontos Escreveu:Ai LuluB, o segundo parágrafo fez-me sorrir... É que são estas descrições que me fazem o coraçãozinho enternecer. Tradução é isso mesmo! É dedicação, é pesquisar termos coloquiais, é contextualizar determinada frase na época/país/conjuntura política em que foi proferida... Bolas, é uma profissão tão interessante, já merecia melhor opinião, não é?
:D Exacto, cpontos. E quando fazemos trabalho asseado é um consolo tão grande...

Quanto à opinião, olhe, são como as cerejas, estas comem-se até rebentarmos, as outras debitam-se em cascata, quase sempre sem se saber do que se fala, o que interessa é mostrar que se tem uma. :lol: Ou mais!

E não tema em utilizar termos hoje em desuso pelo falante de rua: é só uma questão de riqueza de vocabulário, que também se vai adquirindo.

Por exemplo: se alguma vez tiver de traduzir uma obra sobre estilos arquitectónicos, vai aprender imensos termos: caixotões, esbarros, cartelas, aduelas, platibandas, a diferença que há entre tecto e telhado...

Se lhe derem um livro sobre cavalos, vai encontrar imensas palavras que não usa todos os dias. Se lhe derem um sobre moda, idem, idem. Se tiver de traduzir um livro de receitas, vai ver o que é bom, terá de aprender a cozinhar para saber o que vai traduzir!

Se lhe derem um James Joyce para traduzir, então... upa, upa! Mesmo que seja para ser publicado em edição de bolso pela Europa-América! :lol: :lol: :lol:
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dinodane
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segunda mai 23, 2011 3:08 pm

é uma coisa que ADORO fazer e tenho muita pena de não o poder fazer profissionalmente.

"A inveja é a arma do incompetente" Anónimo

LuluB
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segunda mai 23, 2011 3:13 pm

dinodane Escreveu:é uma coisa que ADORO fazer e tenho muita pena de não o poder fazer profissionalmente.
Mas pode ir começando já a abrir caminho, Dinodane. Contacte editoras para lhe arranjarem uma tradução com prazo alargado que possa fazer em regime pós-laboral. Toda a vida houve tradutores a trabalharem assim, e bem.
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cpontos
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segunda mai 23, 2011 3:15 pm

LuluB, vou tentar essa abordagem. Quem sabe não haverá uma oportunidade à espreita? :wink:
Tassebem
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segunda mai 23, 2011 3:18 pm

Quem sabe, cpontos? Muito boa sorte! :)
&laquo;Ningu&eacute;m cometeu maior erro do que aquele que nada fez, s&oacute; porque podia fazer muito pouco.&raquo; Edmund Burke
cpontos
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segunda mai 23, 2011 3:28 pm

Obrigada pela força, pessoal! :D
LuluB
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segunda mai 23, 2011 3:50 pm

Nem mais, cpontos! :D O que é preciso é começar!

Já agora, mais uma dica: não perca tempo a enviar cartas, mails, ou currículos: nas editoras recebem-nos às dezenas por semana e não lhes ligam nenhuma. Procure pessoalmente as pessoas que tratam desse sector, mesmo que não saiba o nome delas.

Boa sorte! :wink: :D
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Vandocasmm
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segunda mai 23, 2011 3:59 pm

Eu agora optei por ver séries com legendas em inglês...
cpontos
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segunda mai 23, 2011 4:10 pm

Também prefiro Vandocas, porque não sou muito boa de ouvido, a minha praia é mesmo os livros. E assim treino também, e evito as calinadas irritantes.

Também há algum tempo que só leio em inglês e espanhol, quer manuais técnicos quer obras literárias de diversos géneros. Recentemente estive em Inglaterra e só não trouxe mais livros porque não tinha malas, porque aqueles preços são absolutamente irresistíveis.
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