Querido Pai,
Faz hoje dois meses que partiu e ainda não consigo aceitar o seu "desaparecimento".
Tento viver o meu dia-a-dia pensando que o Pai está cá e, quando caio em mim, desato num pranto.
Nunca pensei que fosse tão difícil, tão doloroso. Os pensamentos sucedem-se, revivo os nossos momentos, a sua doença ... é um turbilhão de emoções.
Continuamos sem resposta aos nossos pedidos para nos serem facultados os exames do seu 2º internamento. Precisamos deles para sabermos a verdade, para conseguirmos fazer o nosso luto.
O processo já está na Entidade Reguladora de Saúde e está a ser analisado. Ontem seguiu uma carta (a 3ª) mas esta assinada por mim para o Director do Hospital e, desta vez, educadamente ameacei. Vamos lá a ver se surte efeito.
Fui aconselhada a ir também para o Ministério Público e assim o irei fazer. Não posso deixar que a "culpa morra solteira" e que os compadrios prevaleçam. Por si e ... por todos nós.
As burocracias para tratar das coisas são terríveis e infelizmente neste seu Portugal não existe uniformização de procedimentos. Cada cabeça sua sentença ... ou seja, à tuga. Tenho-me passado um bocado pois não tenho paciência nem feitio para tanta falta de brio profissional, de ética ... enfim.
Nem sei o que é melhor se ... a parte civil das burocracias se a parte militar. Passei-me com uma situação e escrevi uma carta para o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. A Mãe só me dizia: Se o teu Pai te puder ver, de certeza que há-de estar orgulhoso de ti. Assim o espero pois, o Pai ensinou-me a não "comer e calar" e a não aceitar como respostas "é assim porque sempre foi assim". Mas que m*** é esta?
O Bi brevemente irá juntar-se a si. Sei que irá tomar conta dele como tomou aqui na terra. Está muito velhotinho e, a cada dia que passa, as forças vão-lhe faltando.
Paizinho, este ano tem estado a ser terrível ... não sei onde ir buscar forças para continuar em frente. Desejava poder dormir e acordar daqui a muito tempo. Gostava que este "pesadelo" não passasse disso mesmo ... um pesadelo. Gostava de poder acordar e saber que o tinha aqui comigo. Que lhe podia dar um beijo, uma festa, um abraço.
Sinto tanto a sua falta meu querido Paizinho ...