Poemas e poetas

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
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terça ago 24, 2010 7:09 pm

INTERPRETAÇÃO

Se me explico, então me implico:
A mim mesmo não me posso interpretar.
Mas quem suba sempre o seu próprio caminho,
A minha imagem leva a uma luz mais clara.

F. Nietzsche
<p>&nbsp;Sou respons&aacute;vel pelo que digo, n&atilde;o pelo que os outros entendem - By Ziggyma</p>
<p>Quer lutar comigo pela Net? For&ccedil;a... ESCREVA TUDO EM MAI&Uacute;SCULAS AT&Eacute; QUE ME CONSIGA MATAR!!!</p>
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nicasxi
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terça ago 24, 2010 7:11 pm

O poeta dos infortunios : Bocage

Sonho

De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:

Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
" Eu venho terminar tua agonia,
Morre , não penes mais, ó desgraçado"

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:
" Emprega noutro objecto teus rigores;
que esta vida infeliz está guardada
para vitima só de meus furores"
Dedico esta assinatura a quem lhe "acentar" a carapuça :
"Quem nasce lagartixa, nunca chega a jacaré, por muito que se inche .... " By , um amigo muito querido ...



"Dogs are better than human beings because they know but do not tell."
— Emily Dickinson

À espera que os frangos que o Terug, o Paulo Santos e o Zefe andam a virar, fiquem prontos.
... e já agora tambem das courgettes da LuMaria!;)
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terça ago 24, 2010 7:28 pm

MÃEZINHA DE PESSIMISTAS

Queixas-te que nada te sabe bem?
Continuas, Amigo, co'as mesmas manias?
Barafustas, cospes, injurias _
Paciência e coração se me não contêm.
Dou-te um conselho, Amigo: Vê se um dia
Consegues engolir um sapo bem gordinho,
De repente e sem olhar um instantinho!
Vais ver como te passa essa dispepsia!

F. Nietzsche
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terça ago 24, 2010 7:29 pm

A MINHA DUREZA

Por sobre cem degraus tenho que avançar,
Tenho que subir - e ouço-vos gritar:
«És duro! Acaso somos feitos de calhau?»
Por sobre cem degraus tenho que avançar,
E ninguémgosta de servir de degrau.

F. Nietzsche
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terça ago 24, 2010 7:29 pm

POEMA DO AMOR FÓSSIL

Quem de nós falará aos homens que hão de vir
quando o grande clarão encher de luz
e pasmo as nossas bocas?
E como?
Que língua entenderão eles?
Que símbolos, que sinais, que apagados murmúrios,
lhes falarão de nós,
desta fluida e versátil multidão,
destes seres que aparentam rosto humano
e como tal comovem,
mas que olhados do alto são lepra do planeta.
Que significará sofrer, amar, lutar,
quando as nossas misérias e tormentos
não forem mais do que pègadas fósseis?

Que palavras há-de o poeta reservar
para o coração de plástico dos homens que hão-de vir?
Que santo e senha entenderão?
Que de nós restará neles?
Que parecenças terão com estes hominídeos
que amaram a Natureza porque lhes era hostil
e suportaram o próximo porque não eram livres?
Que verbo deverá ficar gravado na pedra que o vento não corroa,
que lhes fale dos humilhados e dos ofendidos,
dos sonhadores e dos impotentes,
dos ansiosos, dos bêbados e dos ladrões,
desta ridícula, miserável e corrupta humanidade
que instala os arraiais da morte alegremente
num campo que foi verde e que não volta a sê-lo?
Amor?
Como será amor em língua cibernética?

António Gedeão
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terça ago 24, 2010 7:43 pm

MORTE AO MEIO DIA

No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra é para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Ruy Belo
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terça ago 24, 2010 8:12 pm

(Álvaro de Campos) 1934

O que há em mim é sobretude cansaço -
Nâo disto nem daquilo,
nem sequer de tudo ou de nada;
Cansaçoassim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos pr o suposto em alguém,
Essas coisa todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem náo queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada,ieto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
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Bingley
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terça ago 24, 2010 8:12 pm

drilldown1 Escreveu:Toada de Portalegre

...
José Régio

(Não está completo)
http://www.youtube.com/watch?v=lz4N3p71V0M
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terça ago 24, 2010 8:18 pm

Há um poeta brasuca que eu gosto muito, mas não tenho nada dele.
É Manuel Bandeira!
Se alguém tiver e quiser partilhar, agradeço.
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cockinhas
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terça ago 24, 2010 8:24 pm

E o mais sublime poema de amor de todos os tempos?

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Luís Vaz de Camões
nicasxi
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terça ago 24, 2010 8:28 pm

drilldown1 Escreveu:Há um poeta brasuca que eu gosto muito, mas não tenho nada dele.
É Manuel Bandeira!
Se alguém tiver e quiser partilhar, agradeço.

TRÊS IDADES
A vez primeira que te vi,
Era eu menino e tu menina.
Sorrias tanto... Havia em ti
Graça de instinto, airosa e fina.
Eras pequena, eras frnazina...

A ver-te, a rir numa gavota,
Meu coração entristeceu
Por que? Relembro, nota a nota,
Essa ária como eterneceu
O meu olhar cheio do teu.

Quando te vi segunda vez,
Já eras moça, e com que encanto
A adolescência em ti se fez!
Flor e botão... Sorrias tanto...
E o teu sorriso foi meu pranto...

Já eras moça... Eu, um menino...
Como contar-te o que passei?
Seguiste alegre o teu destino...
Em pobres versos te chorei
Teu caro nome abençoei.

Vejo-te agora. Oito anos faz,
Oito anos faz que não te via...
Quanta mudança o tempo traz
Em sua atroz monotonia!
Que é do teu riso de alegria?

Foi bem cruel o teu desgosto.
Essa tristeza é que diz...
Ele marcou sobre o teu rosto
A imperecível cicatriz:
És triste até quando sorris...

Porém teu vulto conservou
A mesma graça ingênua e fina...
A desventura te afeiçoou
À tua imagem de menina.
E estás delgada, estás franzina...
Dedico esta assinatura a quem lhe "acentar" a carapuça :
"Quem nasce lagartixa, nunca chega a jacaré, por muito que se inche .... " By , um amigo muito querido ...



"Dogs are better than human beings because they know but do not tell."
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... e já agora tambem das courgettes da LuMaria!;)
cockinhas
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terça ago 24, 2010 8:28 pm

drilldown1 Escreveu:Há um poeta brasuca que eu gosto muito, mas não tenho nada dele.
É Manuel Bandeira!
Se alguém tiver e quiser partilhar, agradeço.
Este, por exemplo?

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira
Bingley
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terça ago 24, 2010 8:36 pm

DO NOT GO GENTLE INTO THAT GOOD NIGHT

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rage at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

Dylan Thomas
chowista
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Registado: quinta jun 24, 2010 5:52 pm
Localização: *chow chow
*shar pei

terça ago 24, 2010 8:38 pm

Amigo
Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarca

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
cockinhas
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terça ago 24, 2010 8:44 pm

nicasxi Escreveu:Não sei de quem é. só conheço em canção , mas gosto muito...
http://www.youtube.com/watch?v=NVA5ifLis1E&translated=1

Acho que é um poema de Rafael Alberti, que dedicou uma imensidade de poemas a poetas andaluzes.
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