Já lhe perguntei como é que ela esperava que eu acabasse normalzinha

Obrigada LuluLuluB Escreveu:Para as nossas mães e todas as mães actuais:
Para Sempre
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento.
É veludo escondido na
pele enrugada, água pura,
ar puro, puro pensamento...
Mãe, na sua graça, é eternidade...
Carlos Drummond de Andrade
Obrigada, Tassebem.Tassebem Escreveu:Os Vampiros
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
in José Afonso: textos e canções, Assírio e Alvim, 1983
http://www.youtube.com/watch?v=8ur7ne3SWwc
Esta tem de ter música:LuluB Escreveu:E ainda outro poeta:
Jornada
Solo
Não fiques para trás, ó companheiro!
É de aço esta fúria que nos leva!
Para não te perderes no nevoeiro
Segue os nossos corações na treva.
Coro
Vozes ao alto, vozes ao alto!
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada
Ao sol desta canção.
Solo
Aqueles que se percam no caminho,
Que importa? Chegarão no nosso brado
Porque nenhum de nós anda sozinho
E até mortos vão a nosso lado.
Coro
Vozes ao alto, vozes ao alto!
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada
Ao sol desta canção.
José Gomes Ferreira, As Canções Heróicas, música de Fernando Lopes Graça
Não conhecia. Achei delicioso(s).BrownEye Escreveu:HISTÓRIA DE UNS BEIJOS
Ouvia gabar os beijos,
Dizer deles tanto bem,
Que me nasceram desejos
De provar alguns também.
Esta fruta não é rara,
Mas nem toda tem valor,
A melhor é muito cara
E a barata é sem sabor.
Colhi-os dos mais mimosos,
Provei três ; mas, por meu mal,
Ao princípio saborosos,
Amargaram-me afinal.
Um colhi eu de uma bela
Que era Rosa, sem ser flor,
Se tinha espinhos como ela,
Dela também tinha a cor.
Vi-a a dormir e furtei-lhe
Um beijo, que a acordou,
Eu gostei, porém causei-lhe
Tal susto que desmaiou.
Logo que a vi sem sentidos
Fugi sem outro lhe dar,
Pois beijos sem ser pedidos
Não são coisas pra brincar.
Porém deste beijo ainda
Pouco tive que dizer,
Pois a tal rosa... era linda
E tornou a reviver.
Outra vez, duma morena,
Olhos azuis, cor do céu,
Corpo 'sbelto, mão pequena,
Um beijo me apeteceu.
Pedi-lho, e então por bom modos,
Pedi-lho do coração.
Zombou dos meus rogos todos
E respondeu-me: que nao.
Zombei, como ela zombava
E um beijo, à força lhe dei;
Mas... bem dado ainda não estava
E c'um bofetão o paguei.
Custou-me caro o desejo,
Que mui caro ela o vendeu.
Pagar por tal preço um beijo!
Assim não os quero eu.
Este mais do que o primeiro,
Me deixou fraca impressão;
Quis provar inda um terceiro,
Para não jurar em vão.
Mas não quis fruta roubada,
Que mal com ela me dei ;
Uma dama delicada
Ofereceu-ma... eu aceitei.
Ai que boa fruta era !
Estava mesmo a cobiçar.
Passar a vida quisera,
Tal fruta a saborear.
Mas no meio da colheita...
Da fruta o dono apareceu;
Zelosos olhos me deita:
Se zelava o que era seu!
Vendo o caso mal seguro
Eu logo ali lhe jurei
Restituir até com juro
A fruta que lhe tirei.
E acaso não discordasse,
Não me parecia mal
Que a ele os juros pagasse,
E à senhora... o capital,
Esta sensata proposta
Em fúrias o arrebatou
E, por única resposta,
Pra luta se preparou...
Oiço ainda gabar os beijos,
Dizer deles muito bem,
Mas findaram-me os desejos,
Já sei o sabor que têm.
Júlio Dinis (1859)