Por falar em panteísmo e "conversões", tem piada a forma como as culturas panteístas e/ou animistas encaram a evangelização. Índios brasilieiros fartaram-se de comer padres jesuítas, por exemplo. Na prática do canibalismo, apenas são comidos os seres humanos que valem a pena: os sábios, os corajosos, etc. para um destes índios, fazia mais sentido a evangelização passar pelo estômago: que melhor forma de interiorizar o cristianismo? os ritos, símbolos e rituais não faziam qualquer sentido para eles... E, pelos anos 50, julgo eu, foi descoberta uma tribo de "caçadores de cabeças" na Nova Guiné; claro que os missionários trataram logo de os evangelizar. Ao perguntarem a um desses (ex) caçadores de cabeças o que achavam do cristianismo e de Deus, ele respondeu que dava sempre jeito mais um para ajudar às colheitas!
Creio na predestinação, mas como uma mão cheia de possibilidades, conforme as circunstâncias e as nossas escolhas a cada momento. Tal como explica a teoria do Caos, há sempre variáveis, ínfimas, que alteram tudo; é por isso que a meteorologia não acerta, que a natureza não se comporta de modo previsível para o ser humano, que, a par com as decisões e o livre arbítrio, existe a Sorte, Fortuna, Destino, Fado. Há muitas coisas que nos deixam a pensar, como a história de um pintainho que nasceu com o papo "roto" e não conseguia reter os alimentos, estando, portanto, condenado a uma curta existência; no entanto, o pintainho foi salvo, o papo cosido e previa-se uma existência mais ou menos longa (pelo menos até acabar na panela ou numa grelha qualquer...), mas acontece que pouco tempo depois um tronco deslizou de um molho de lenha, caindo em cima do pintainho e tirando-lhe a vida.
Sorte ou infortúnio, é sempre uma questão de pontos de vista, tal como as moedas, tudo tem duas faces, é escolha nossa encarar a face que menos sofrimento nos provoca. Porque todos os nossos actos se baseiam, fundamentalmente, na obtenção de prazer (satisfação) e na fuga ao sofrimento (dor), e isto partilhamos nós com todos os seres vivos deste planeta e arredores.
Eu costumo dizer, mais por brincadeira do que outra coisa qualquer, que os seres humanos são deuses imortais aprisionados no seu corpo. Toda a matéria perece, e é complicado manter a eternidade num suporte material e finito - daí as grandes angústias da humanidade e a necessidade da religião. No que respeita à Arte, ela mesma fez parte da religião até se emancipar, com o Renascimento; até lá, nenhum artista assinava o seu nome numa obra, porque se considerava apenas o veículo para a mensagem divina.
Como Deus e/ou a Natureza, somos criadores; e, como animais, como seres materiais e perecíveis, somos criaturas. As mensagens contidas nas escrituras sagradas, em quase todas, apontam para o crescimento e a multiplicação dos seres, enquanto continentes e conteúdos. No ser humano, tudo se confunde: precisamos tanto da satisfação das necessidades materiais (animais) como das estéticas e religiosas...
Há poucos seres que infligem mal a si mesmos, e ainda mais raros os que daí obtêm satisfação e prazer. Entre os outros animais, podemos encontrar o suicídio, por exemplo, mas os humanos vão mais além, com práticas de sadismo/ masoquismo que não visam apenas a obtenção do prazer sexual... É como se reuníssemos em nós todos os animais e um pouco mais - essa "centelha", essa alegórica chama que cozeu o barro, o pó e a água de que somos feitos, e que nos permite (ou nos tenta) a igualarmo-nos a Deus ou aos Deuses, ou deuses. Esse fogo, que dominamos e que usamos para construir e destruir, o mesmo fogo que constitui o Inferno judaico-cristão e já existia no subsolo, mesmo muito antes de se (re)saber que a Terra é redonda e o seu interior é fogo puro.
(pergunto-me quem terá dado o nome Terra ao planeta, e porquê, se ainda por cima, aparentemente, há muito mais água do que terra...)
Houve um artista, Hundertwasser, que afirmava que "a linha recta é coisa do Demo". Demo, em termos linguísticos, significa "o que está em baixo". Geometricamente, é o que pertence à horizontalidade e ao que está abaixo dela: a Terra.
E Pitágoras, oh, Pitágoras sabia muitas coisas...

que a Música, a Matemática, a Geometria, são atributos divinos presentes no Homem; e podemos até falar da sabedoria intuitiva dos egípcios e da construção de pirâmides de base quadrada num local onde não havia montanhas...
A linguagem geométrica explica muita coisa. E os números também. Basta olhar para um desenho de Leonardo da Vinci, com um ser humano inscrito numa circunferência, por sua vez inscrita num quadrado, e saber desenhar o pentágono. O nº 5 é o número do Homem.
Eu perdia-me horas aqui...

Acredito na Paciência, na Persistência, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!