Poemas e poetas

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
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terça ago 24, 2010 8:52 pm

Muito obrigada a quem partilhou Manuel Bandeira.
<p>&nbsp;Sou respons&aacute;vel pelo que digo, n&atilde;o pelo que os outros entendem - By Ziggyma</p>
<p>Quer lutar comigo pela Net? For&ccedil;a... ESCREVA TUDO EM MAI&Uacute;SCULAS AT&Eacute; QUE ME CONSIGA MATAR!!!</p>
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terça ago 24, 2010 8:52 pm

ANAXÁGORAS

Quando Anaxágoras afirma: Até a neve é negra!
é tomado muito a sérios pelos sábios
pois está a enunciar um «princípio», uma «lei»:
todas as coisas estão misturadas, logo na mais pura neve branca
existe um elemento de negrume.

A isto chamam eles ciência e realidade.
Por mim, chamo-lhe pedantismo mental e mistificação
e coisa absurda pois para nós é branca a neve pura
branca branca e só branca
esplendor belíssimo de brancura no branco
delícia de alma onde os sentidos
conhecem o êxtase.

E a vida é para o êxtase a delícia
o terror e a negra profecia revolta do destino;
depois é a aurora radiosa da delícia renascida
que vem da brancura absoluta da neve ou da lua imóvel.

E na sombra do sol a neve é azul, azul tão sobranceiro
com laivos de campânulas geladas da flor de cila
mas sem sombras nem sinais de luto de Anaxágoras.

D.H.Lawrence
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nicasxi
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terça ago 24, 2010 8:54 pm

Pequeno excerto do poema " Verdade " de um certo Marquês de Sade

Os belos anos vão-se, ela chama por nós;
Dos deuses escarnecendo, ouçamos sua voz:
Pra nos recompensar, seu crisol espera já;
O que o poder tomou, necessidade dá.
Tudo ali se restaura e reproduz também.
Do grande e do pequeno a *** será mãe,
E todos vê iguais seu olhar amoroso,
O monstro e o celerado, o bom e o virtuoso.

Editei para acrescentar:
O Marquês de Sade, escritor maldito pelo seu despudor e desamor pelo " socialmente correcto" , descrente absoluto de tudo , tem tambem boas obras. Apesar da conotação que lhe deram , é muito mais que isso.
Última edição por nicasxi em terça ago 24, 2010 8:59 pm, editado 1 vez no total.
Dedico esta assinatura a quem lhe "acentar" a carapuça :
"Quem nasce lagartixa, nunca chega a jacaré, por muito que se inche .... " By , um amigo muito querido ...



"Dogs are better than human beings because they know but do not tell."
— Emily Dickinson

À espera que os frangos que o Terug, o Paulo Santos e o Zefe andam a virar, fiquem prontos.
... e já agora tambem das courgettes da LuMaria!;)
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terça ago 24, 2010 8:57 pm

À JUSTA

vou por este lado
a vistoriar o historiado

vou por aqui e vou bem
já o dizia a minha mãe

pobre morta é verdade
mas é assim a eternidade

vou depressa antes que anoiteça
e o campo de facto desapareça

e canto esta canção irregular
que é como canta quem anda a vistoriar


Mário Cesariny
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cockinhas
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terça ago 24, 2010 9:02 pm

Retirei o poema do Chico Buarque porque lembrei-me que vêm crianças aqui e relido pareceu-me excessivo.

Mais um poema universal, do "cientista-poeta":


Lágrima de preta

Encontrei uma preta

que estava a chorar,

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar.


Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.


Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito transparente.


Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.


Ensaiei a frio,

experimentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é costume:


Nem sinais de negro,

nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)

e cloreto de sódio.
Última edição por cockinhas em terça ago 24, 2010 9:13 pm, editado 1 vez no total.
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terça ago 24, 2010 9:09 pm

A BASE DE TODA A METAFÍSICA

E agora, meus senhores,
Dir-vos-ei algumas palavras que deverão permanecer no vosso pensamento
e na vossa memória,
Como base e conclusão de toda a metafísica.

(Assim falou aos alunos o velho professor,
Ao encerrar o animado curso.)

Após ter estudado o antigo e o novo, o sistema grego e o germânico,
Estudado e dissertado sobre Kant e Fichte, Schelling e Hegel,
Exposto a sabedoria de Platão e de Sócrates ainda maior que a de Platão,
E maior que a de Sócrates a do divino Cristo à qual longamente me dediquei,
Relembro hoje os sistemas gregos e germânicos,
Observo todas as filosofias, as Igrejas e as doutrinas cristãs,
Mas vejo claramente sob o nome de Sócrates,
Vejo claramente sob o nome do divino Cristo,
O terno amor do homem pelo seu companheiro, a atracção do amigo pelo amigo,
Do esposo pela esposa amada, dos filhos e dos pais,
De cada cidade por cada cidade, de cada terra por cada terra.


Walt Whitman
(1871)
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perapado
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terça ago 24, 2010 9:09 pm

cockinhas Escreveu:
nicasxi Escreveu:Não sei de quem é. só conheço em canção , mas gosto muito...
http://www.youtube.com/watch?v=NVA5ifLis1E&translated=1

Acho que é um poema de Rafael Alberti, que dedicou uma imensidade de poemas a poetas andaluzes.


Obrigada! Nunca cansa...
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terça ago 24, 2010 9:20 pm

PRECE

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!


Fernando Pessoa
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chowista
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terça ago 24, 2010 9:24 pm

Cão
Alexandre O’Neill


Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara-lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.

Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré-fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema…

Sai depressa, ó cão, deste poema!
nicasxi
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terça ago 24, 2010 10:07 pm

E por cão...

Cão como nós

Como nós eras altivo
fiel mas como nós
desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente - ausente
como nós.
Cão que não querias
ser cão
e não lambias
a mão
e não respondias
à voz.
Cão
Como nós.
Manuel Alegre
Dedico esta assinatura a quem lhe "acentar" a carapuça :
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terça ago 24, 2010 10:18 pm

COMO EU NÃO POSSUO

olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei...perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção p'ra me afundar nolodo.

Não sou amigo de nimguém. P'ra o ser
- Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado...Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases doirados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquelo sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.


Mário de Sá Carneiro
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IHaveADream
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terça ago 24, 2010 10:19 pm

Beeem... eu já tenho aqui leitura para três quinze dias... :oops:

Mas, para que não digam que não nos importamos com outros animais, aqui vai:

The Fly

Little Fly,
Thy summer's play
My thoughtless hand
Has brushed away.

Am not I
A fly like thee?
Or art not thou
A man like me?

For I dance
And drink, and sing,
Till some blind hand
Shall brush my wing.

If thought is life
And strength and breath
And the want
Of thought is death;

Then am I
A happy fly,
If I live,
Or if I die.

William Blake (1757-1827)
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terça ago 24, 2010 10:28 pm

Gato que brincas na rua
Fernando Pessoa

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
nicasxi
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terça ago 24, 2010 10:30 pm

E o ex libris dos nossos primeiros anos de escolaridade ? Quem não se lembra deste poema de Augusto Gil ?

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Dedico esta assinatura a quem lhe "acentar" a carapuça :
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terça ago 24, 2010 10:40 pm

II
García Lorca

Yo.
Con el hueco blanquísimo de un caballo,
crines de ceniza. Plaza pura y doblada.

Yo.
Mi hueco traspasado con las axilas rotas.
Piel seca de uva neutra y amianto de madrugada.

Toda la luz del mundo cabe dentro de un ojo.
Canta el gallo y su canto dura más que sus alas.

Yo.
Con el hueco blanquísimo de un caballo. Rodeado
de espectadores que tienen hormigas en las palabras.

En el circo del frío sin perfil mutilado.
Por los capiteles rotos de las mejillas desangradas.

Yo.
Mi hueco sin ti, ciudad, sin tus muertos que comen.
Ecuestre por mi vida definitivamente anclada.

Yo.
No hay siglo nuevo ni luz reciente.
Sólo un caballo azul y una madrugada.
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