Alice esperou 38 anos para matar o marido

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
sylviaplath
Membro
Mensagens: 80
Registado: terça dez 07, 2010 11:25 pm

sexta mar 11, 2011 7:43 pm

LuluB Escreveu:Quando disse que as vítimas gostam de ser vítimas, não falei por acaso, nem no ar. Gostam, sim, apesar de esse gosto nunca ser admitido nem confessado.
:o que barbaridade. a dependência física e emocional agora é confundida com prazer?
discordo por completo e se procurar literatura sobre violência doméstica irá esclarecer o (pre)conceito, mas por curiosidade como chegou a essas opiniões?

edi(o)t: correcção, citação feita por LuluB e não LuMaria :wink: obrigada pela notificação KavakoSilva
KavakoSilva
Membro Veterano
Mensagens: 597
Registado: quinta fev 17, 2011 10:02 am

sexta mar 11, 2011 8:07 pm

Na época em que estas duas pessoas se casaram, os maridos, legalmente, mandavam nas mulheres, aliás basta ler o 2º parágrafo da notícia, onde diz "Nunca lhe bateu mas vendeu-lhe anéis, fios, pulseiras, propriedades", referindo-se ao primeiro casamento... Propriedades? Roubar anéis e fios para os vender é fácil, mas ele vender propriedades dela só foi possível porque as mulheres não tinham direitos nenhuns, eram quase propriedade privada dos maridos.
aisd
Membro Veterano
Mensagens: 7062
Registado: sexta mai 10, 2002 3:46 pm
Localização: labradora retriever ZORRA
periquito FALCANITO

sexta mar 11, 2011 9:17 pm

Aqui, a dois passos da minha casa, existe uma casinha abandonada - tipo rural, 1 único piso, 1 porta, 1 janela, como se vê no Ribatejo, nas aldeias.
Nesta casinha viveu uma senhora que era proprietária de enormes extensões de terreno - aqui em Oeiras - imaginem o valor...

Casou, por amor, com um tipo que, além de violento, tinha o vício do jogo.
Ele vendeu tudo, não só propriedades, mas joias, pratas e louças, bragal.
Conheci a senhora quando era pequenina e ela já vivia nesta casa.
A minha mãe visitava-a e deixava-lhe dinheiro, pois a senhora vivia da caridade...

Assim, uma grande fortuna foi reduzida à miséria.
O casamento, naquele tempo, era, por defeito, comunhão de bens.
E quem geria esses bens - o homem, que era o chefe de família.
Muitas vezes com resultados semelhantes a este.

Muita gente pensa que os direitos da mulher estão cá desde sempre.
Mas não é verdade.
Foram conquistados passo a passo.
<p>"O auto-convencimento manifesta-se pela falta de cordialidade nas palavras" - Teofrasto</p>
KavakoSilva
Membro Veterano
Mensagens: 597
Registado: quinta fev 17, 2011 10:02 am

sexta mar 11, 2011 9:35 pm

Exactamente. Durante o Estado Novo, por exemplo, uma mulher casada só podia abandonar o país se tivesse uma autorização escrita do marido. Mas nem é preciso ir tão atrás no tempo para encontrar exemplos destes... ainda há poucos anos um juiz atenuou a pena de dois violadores, que violaram duas turistas estrangeiras que passeavam pelo Algarve rural, por estas terem "invadido a coutada do macho latino"... e, ainda há menos tempo, um assassino da mulher com quem vivia também viu a sua pena ser atenuada porque a mulher "deixava esturricar o jantar com frequência".
Netherwing
Membro Veterano
Mensagens: 1695
Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm

sexta mar 11, 2011 11:18 pm

KavakoSilva Escreveu:Exactamente. Durante o Estado Novo, por exemplo, uma mulher casada só podia abandonar o país se tivesse uma autorização escrita do marido. Mas nem é preciso ir tão atrás no tempo para encontrar exemplos destes... ainda há poucos anos um juiz atenuou a pena de dois violadores, que violaram duas turistas estrangeiras que passeavam pelo Algarve rural, por estas terem "invadido a coutada do macho latino"... e, ainda há menos tempo, um assassino da mulher com quem vivia também viu a sua pena ser atenuada porque a mulher "deixava esturricar o jantar com frequência".
que escandalo... isso abre precedentes terriveis. barbaridade... :(
LuluB
Membro Veterano
Mensagens: 5500
Registado: segunda set 28, 2009 2:53 pm

sexta mar 11, 2011 11:37 pm

KavakoSilva Escreveu:Exactamente. Durante o Estado Novo, por exemplo, uma mulher casada só podia abandonar o país se tivesse uma autorização escrita do marido. Mas nem é preciso ir tão atrás no tempo para encontrar exemplos destes... ainda há poucos anos um juiz atenuou a pena de dois violadores, que violaram duas turistas estrangeiras que passeavam pelo Algarve rural, por estas terem "invadido a coutada do macho latino"... e, ainda há menos tempo, um assassino da mulher com quem vivia também viu a sua pena ser atenuada porque a mulher "deixava esturricar o jantar com frequência".
Ao ler este acórdão, fica-se com uma triste perspectiva do que é a mentalidade e formação dos juízes da nossa praça:
...III - Contribui para a realização de um crime de violação a ofendida, rapariga nova mas mulher feita que: a) Sendo estrangeira, não hesita em vir para a estrada pedir boleia a quem passa; b) Sendo impossivel que não tenha previsto o risco em que incorre; c) Se mete num carro, com outra e com dois rapazes, ambas conscientes do perigo que corriam, por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras com comportamento sexual muito mais liberal do que o da maioria das nativas; d) E conduzida durante alguns quilometros pelo agente, que se desvia da estrada para um sitio ermo; e) E puxada para fora do carro e tenta fugir, mas e logo perseguida pelo agente, que a empurra e faz cair no chão; f) Sendo logo agredida por ele com pontapes, agarrada pela blusa e arrastada pelo chão cerca de 10 metros; g) Tentando ainda libertar-se, e esbofeteada, agarrada por um braço e ameaçada pelo agente com o punho fechado; h) E intimidada assim, pelo agente, que lhe tira os calções e as cuecas, não oferece mais resistencia e, contra a sua vontade, e levada a manter relações sexuais completas pelo primeiro; e i) Apos ter mantido, a força, relações sexuais, com medo de que o agente continuasse a maltrata-la, torna-se amavel para com ele, elogia-o, dizendo-lhe que era muito bom no desempenho sexual e assim consegue que ele a leve ao local de destino, onde a deixou.
Portanto, só tiveram aquilo que andavam a pedir, não foi?

Este tipo de argumentos dos juízes só me fazem recuar ao espanto e comentários dos portugueses com e sobre os hábitos das refugiadas da Segunda Guerra Mundial, que iam para a esplanada da Suíça fumar, se sentavam cruzando as pernas e usavam frequentemente o cabelo solto e espalhado, que coisa horrível e ordinária...

Quanto ao caso do marido uxoricida, nem sei como classificar os considerandos dos juízes.

A mulher esturricava o arroz, reduzia a conta bancária do casal a zeros, ia para o café e não dizia ao marido, mostrava a barriga durante uma conversa sobre estética, ou modas, ou lá o que era?

Razões de peso para desculpabilizar o marido que a matou, pois claro. Não se admite tal comportamento numa senhora casada!
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
<p>&nbsp;</p>
<p><strong>Cada vez me conven&ccedil;o mais que h&aacute; pessoas que t&ecirc;m o intestino ligado &agrave; testa.</strong> - "By" algu&eacute;m que tem ambas as coisas no seu devido lugar. :mrgreen:</p>
KavakoSilva
Membro Veterano
Mensagens: 597
Registado: quinta fev 17, 2011 10:02 am

sábado mar 12, 2011 6:14 pm

Chegou a sair e a chegar a casa de noite, a vadia...
Netherwing
Membro Veterano
Mensagens: 1695
Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm

sábado mar 12, 2011 6:45 pm

pois...
MFPJ
Membro Veterano
Mensagens: 604
Registado: domingo set 05, 2010 3:37 pm

sábado mar 12, 2011 7:20 pm

Não li tudo... é uma (típica) história do "levou pancada e foi tratada como lixo durante vários anos... e de repente decide que basta, e mata o marido?"
Está bem que os casamentos de há uns anos eram como que arranjados e a mulher era uma espécie de criada que devia fazer as vontadinhas todas do marido, sendo uma mulher separada uma vergonha, era uma vadia, uma isto e mais aquilo que abandonou o lar :roll:
...contudo, não é justificação para matar alguém, nunca, separava-se e aguentava as consequências de uma má-"escolha" :|

Custa-me é perceber como é que hoje em dia ainda há violência doméstica, e em jovens :o :? Com todo o apoio que há, com as mentalidades mais evoluídas, mesmo assim há quem ainda se deixe manipular e agredir física e psicológicamente por outra pessoa, tendo a possibilidade de acabar com aquiulo a qualquer instante...
Os agressores não têm desculpa, são violentos e não têm respeito pelas pessoas que dizem gostar.
Mas o problema é que as vítimas ou têm pouca auto-estima, auto-confiança, pouca coragem, etc.... e deixam-se ser manipuladas e maltratadas por outrém. É aí que está a raíz do problema.
Não exigirem serem respeitadas.
Última edição por MFPJ em sábado mar 12, 2011 7:23 pm, editado 1 vez no total.
colette
Membro Veterano
Mensagens: 3639
Registado: quarta set 04, 2002 1:49 pm

sábado mar 12, 2011 7:22 pm

LuluB, ela deixava esturricar o jantar todo - não era só o arroz.
Eu acho esta questão do jantar esturricado extremamente grave. Justifica-se plenamente que o cônjuge ofendido trate da saúde ao cônjuge relapso.
O que me dá alguma esperança.
Quem faz a comida cá em casa é o meu marido.
Última edição por colette em sábado mar 12, 2011 7:36 pm, editado 1 vez no total.
<p>Au d&eacute;but, Dieu cr&eacute;a l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>
MFPJ
Membro Veterano
Mensagens: 604
Registado: domingo set 05, 2010 3:37 pm

sábado mar 12, 2011 7:27 pm

LuluB Escreveu:
KavakoSilva Escreveu:Exactamente. Durante o Estado Novo, por exemplo, uma mulher casada só podia abandonar o país se tivesse uma autorização escrita do marido. Mas nem é preciso ir tão atrás no tempo para encontrar exemplos destes... ainda há poucos anos um juiz atenuou a pena de dois violadores, que violaram duas turistas estrangeiras que passeavam pelo Algarve rural, por estas terem "invadido a coutada do macho latino"... e, ainda há menos tempo, um assassino da mulher com quem vivia também viu a sua pena ser atenuada porque a mulher "deixava esturricar o jantar com frequência".
Ao ler este acórdão, fica-se com uma triste perspectiva do que é a mentalidade e formação dos juízes da nossa praça:
...III - Contribui para a realização de um crime de violação a ofendida, rapariga nova mas mulher feita que: a) Sendo estrangeira, não hesita em vir para a estrada pedir boleia a quem passa; b) Sendo impossivel que não tenha previsto o risco em que incorre; c) Se mete num carro, com outra e com dois rapazes, ambas conscientes do perigo que corriam, por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras com comportamento sexual muito mais liberal do que o da maioria das nativas; d) E conduzida durante alguns quilometros pelo agente, que se desvia da estrada para um sitio ermo; e) E puxada para fora do carro e tenta fugir, mas e logo perseguida pelo agente, que a empurra e faz cair no chão; f) Sendo logo agredida por ele com pontapes, agarrada pela blusa e arrastada pelo chão cerca de 10 metros; g) Tentando ainda libertar-se, e esbofeteada, agarrada por um braço e ameaçada pelo agente com o punho fechado; h) E intimidada assim, pelo agente, que lhe tira os calções e as cuecas, não oferece mais resistencia e, contra a sua vontade, e levada a manter relações sexuais completas pelo primeiro; e i) Apos ter mantido, a força, relações sexuais, com medo de que o agente continuasse a maltrata-la, torna-se amavel para com ele, elogia-o, dizendo-lhe que era muito bom no desempenho sexual e assim consegue que ele a leve ao local de destino, onde a deixou.
Portanto, só tiveram aquilo que andavam a pedir, não foi?

Este tipo de argumentos dos juízes só me fazem recuar ao espanto e comentários dos portugueses com e sobre os hábitos das refugiadas da Segunda Guerra Mundial, que iam para a esplanada da Suíça fumar, se sentavam cruzando as pernas e usavam frequentemente o cabelo solto e espalhado, que coisa horrível e ordinária...

Quanto ao caso do marido uxoricida, nem sei como classificar os considerandos dos juízes.

A mulher esturricava o arroz, reduzia a conta bancária do casal a zeros, ia para o café e não dizia ao marido, mostrava a barriga durante uma conversa sobre estética, ou modas, ou lá o que era?

Razões de peso para desculpabilizar o marido que a matou, pois claro. Não se admite tal comportamento numa senhora casada!
Essas mentalidades causam-me arrepios :o ...só me apetece fugir para bem longe delas :|
sofiaabreulopes
Membro Veterano
Mensagens: 11414
Registado: quarta mar 29, 2006 8:19 pm
Localização: Micas Maria, Tobias Manuel, Lolita, *Ratatui* *Tucha Maria*

sábado mar 12, 2011 7:31 pm

para quem quiser aprofundar esta questão, que não é de todo fácil, aqui está uma leitura:

"Homicídio Conjugal", Elza Pais, da INCM
Imagem
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">The little creature said, &ldquo;Dear Lord,</p>
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">There&rsquo;s not one name left for me.&rdquo;</p>
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">The Father smiled and softly said,</p>
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">&ldquo;I&rsquo;ve left you &rsquo;til the end.</p>
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">I&rsquo;ve turned my own name back to front,</p>
<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">And called you Dog, my friend!&rdquo;</p>
<p>&nbsp;</p>
<p><a href="http://chamaram-mesafira.blogspot.com/" ... om/</a></p>
<p><a href="http://www.patavermelha.com/">http://ww ... /</a>&nbsp;
</p>
<p>&nbsp;</p>
VascoV2
Membro Veterano
Mensagens: 1166
Registado: terça dez 14, 2010 10:08 pm
Localização:

sábado mar 12, 2011 7:40 pm

colette Escreveu:LuluB, ela deixava esturricar o jantar todo - não era só o arroz.
Eu acho esta questão do jantar esturricado extremamente grave. Justifica-se plenamente que o cônjuge ofendido trate da saúde ao cônjuge relapso.
O que me dá alguma esperança.
Quem faz a comida cá em casa é o meu marido.
Tem uma piada doida... :roll:
<strong>As verdadeiras conquistas, as &uacute;nicas de que nunca nos arrependemos, s&atilde;o aquelas que fazemos contra a ignor&acirc;ncia </strong>
Responder

Voltar para “Outros Tópicos”