KavakoSilva Escreveu:Exactamente. Durante o Estado Novo, por exemplo, uma mulher casada só podia abandonar o país se tivesse uma autorização escrita do marido. Mas nem é preciso ir tão atrás no tempo para encontrar exemplos destes... ainda há poucos anos um juiz atenuou a pena de dois violadores, que violaram duas turistas estrangeiras que passeavam pelo Algarve rural, por estas terem "invadido a coutada do macho latino"... e, ainda há menos tempo, um assassino da mulher com quem vivia também viu a sua pena ser atenuada porque a mulher "deixava esturricar o jantar com frequência".
Ao ler este acórdão, fica-se com uma triste perspectiva do que é a mentalidade e formação dos juízes da nossa praça:
...III - Contribui para a realização de um crime de violação a ofendida, rapariga nova mas mulher feita que: a) Sendo estrangeira, não hesita em vir para a estrada pedir boleia a quem passa; b) Sendo impossivel que não tenha previsto o risco em que incorre; c) Se mete num carro, com outra e com dois rapazes, ambas conscientes do perigo que corriam, por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras com comportamento sexual muito mais liberal do que o da maioria das nativas; d) E conduzida durante alguns quilometros pelo agente, que se desvia da estrada para um sitio ermo; e) E puxada para fora do carro e tenta fugir, mas e logo perseguida pelo agente, que a empurra e faz cair no chão; f) Sendo logo agredida por ele com pontapes, agarrada pela blusa e arrastada pelo chão cerca de 10 metros; g) Tentando ainda libertar-se, e esbofeteada, agarrada por um braço e ameaçada pelo agente com o punho fechado; h) E intimidada assim, pelo agente, que lhe tira os calções e as cuecas, não oferece mais resistencia e, contra a sua vontade, e levada a manter relações sexuais completas pelo primeiro; e i) Apos ter mantido, a força, relações sexuais, com medo de que o agente continuasse a maltrata-la, torna-se amavel para com ele, elogia-o, dizendo-lhe que era muito bom no desempenho sexual e assim consegue que ele a leve ao local de destino, onde a deixou.
Portanto, só tiveram aquilo que andavam a pedir, não foi?
Este tipo de argumentos dos juízes só me fazem recuar ao espanto e comentários dos portugueses com e sobre os hábitos das refugiadas da Segunda Guerra Mundial, que iam para a esplanada da Suíça fumar, se sentavam cruzando as pernas e usavam frequentemente o cabelo solto e espalhado, que coisa horrível e ordinária...
Quanto ao caso do marido uxoricida, nem sei como classificar os considerandos dos juízes.
A mulher esturricava o arroz, reduzia a conta bancária do casal a zeros, ia para o café e não dizia ao marido, mostrava a barriga durante uma conversa sobre estética, ou modas, ou lá o que era?
Razões de peso para desculpabilizar o marido que a matou, pois claro. Não se admite tal comportamento numa senhora casada!