ATÉ JÁ QUERIDO PAI ...
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e que assim seja para todos os que precisam de "alivio"
bjinho
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Sinto muito pelo seu sogro, Manela.
Quanto ao resto, fico contente.
Quanto ao resto, fico contente.

«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke
Muito obrigada minha querida Comadre.
Vamos lá a ver qual a posição do hospital. Está nas mãos deles o "assunto" ficar por aqui.
Quanto a nós ... finalmente sabemos a verdade e, sinto que apesar da dor, da raiva, de grandes momentos de desespero, uma espécie de "paz interior".
Infelizmente não voltarei a ter o meu Pai mas, pelo menos, sabemos a verdade.

Vamos lá a ver qual a posição do hospital. Está nas mãos deles o "assunto" ficar por aqui.
Quanto a nós ... finalmente sabemos a verdade e, sinto que apesar da dor, da raiva, de grandes momentos de desespero, uma espécie de "paz interior".
Infelizmente não voltarei a ter o meu Pai mas, pelo menos, sabemos a verdade.

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Sinto muito por tudo o que aqui tem desabafado.
Desejo que a partir de agora a sua dor possa ser de alguma forma apaziguada, já que a saudade, essa aumenta proporcionalmente ao tempo...
Mas é como diz a Sarina, só está à distância de um pensamento...
Um beijinho e força
Desejo que a partir de agora a sua dor possa ser de alguma forma apaziguada, já que a saudade, essa aumenta proporcionalmente ao tempo...
Mas é como diz a Sarina, só está à distância de um pensamento...
Um beijinho e força

Muito obrigada queridas Sarina e Anioska pelas v/palavras. Tal como dizem, a saudade é imensa e em vez de diminuir, aumenta a cada dia que passa. No entanto, apesar da "guerra" que se avizinha, sinto uma paz interior que há muito tempo não sentia.
Sinto que tudo fiz para apurar a verdade mesmo que "oficialmente" não a consiga provar. Sei que o meu Pai teria feito o mesmo caso tivesse sido eu a "partir". Não baixaria os braços e lutaria com todas as suas forças.
Agora é tempo de recuperar energias e tentar aprender a viver sem a sua presença física. Custa tanto ...
Sinto que tudo fiz para apurar a verdade mesmo que "oficialmente" não a consiga provar. Sei que o meu Pai teria feito o mesmo caso tivesse sido eu a "partir". Não baixaria os braços e lutaria com todas as suas forças.
Agora é tempo de recuperar energias e tentar aprender a viver sem a sua presença física. Custa tanto ...

Recebemos o Referencial (Revista da Associação 25 de Abril) em que uma parte da mesma é dedicada ao meu Pai.
Vou transcrever um artigo que foi escrito pelo Vasco Lourenço sobre o meu Pai e, talvez aqueles que não entendem a nossa luta pela VERDADE, ao ler o artigo, consigam perceber o porquê de não desistirmos.
"Era um dos dois membros da Junta de Salvação Nacional que restavam vivos (resta o Mendes Dias, esperemos que por muito tempo). Antes dele haviam falecido todos os membros iniciais, bem como quase todos os que, como o Fisher Lopes Pires, haviam substituído os que evolução do processo revolucionário deitou borda fora da JSN.
Chegou a hora deste militar de Abril, de todas as horas, nos deixar fisicamente.
Depois de tempos de sofrimento físico intenso, depois de retardada a morte, com a vitoria sobre muitas investidas que as doenças lhe fizeram, vimos partir um Amigo, vimos partir um Homem, vimos partir um Militar e um Cidadão de primeira água.
Connosco fica a sua memória, a memória de um Homem íntegro a toda a prova, teimoso na defesa dos valores e princípios que o levaram a envolver-se no Movimento dos Capitães, ele que foi um dos primeiros tenentes-coronéis a fazê-lo, e o levaram ao Posto de Comando no Regimento de Engenharia nº1, na Pontinha, na condução das operações do 25 de Abril de 1974. Onde não se distinguiu apenas pela cor verde com que escrevia os comunicados do MFA, difundidos nessa noite de 24/25 de Abril.
Foi um dos nossos que, apesar de se ter afastado de cargos cimeiros nomeadamente do Conselho da Revolução, por não pactuar com situações que o violentavam, nunca se afastou da acção que os militares de Abril continuaram a desenvolver.
É assim que está na fundação da Associação 25 de Abril, a cuja Direcção virá a pertencer e com a qual continuará a colaborar, até aos últimos dias da sua vida, nomeadamente através de textos que foram publicados n'O Referencial.
O último que nos enviou "Os teimosos Iluminados" é publicado neste número, como estava previsto. Só não contávamos que fosse a título póstumo.
Caro Fisher, partiste amargurado. Mais do que as dores físicas que te atormentavam nos últimos anos de vida, suportavas as dores afectivas que a evolução do teu Portugal, do nosso Portugal de Abril, vinha seguindo. Lidavas mal, como todos nós com o assistir à destruição de tudo o que se conseguiu, com o nosso 25 de Abril!
O que podemos garantir-te é que, os que continuamos vivos, não desistimos, continuamos na luta! Contamos contigo! A tua memória como a de outros companheiros que te antecederam, vai dar-nos força! Temos de vencer, o destino do nosso povo assim no-lo exige!
Um grande, grande abraço
Vasco Lourenço
(Obrigada Vasco Lourenço pela bonita homenagem ao meu Pai)
Como é dito pelo Vasco Lourenço, o meu Pai colaborava com o Referencial escrevendo artigos. Não era por ser o meu Pai mas, escrevia muitíssimo bem.
Nesta Revista está um artigo bastante vasto escrito por ele "Os teimosos Iluminados" (que era uma crítica ao actual governo nomeadamente ao "nosso" 1º Ministro e à Ângela Merkel).
Estão também dois artigos retirados de "Breve História de Uma Vida" (livro escrito pelo meu Pai a nosso pedido em que relata a história da sua vida) que irei também colocar aqui.
Vou transcrever um artigo que foi escrito pelo Vasco Lourenço sobre o meu Pai e, talvez aqueles que não entendem a nossa luta pela VERDADE, ao ler o artigo, consigam perceber o porquê de não desistirmos.
"Era um dos dois membros da Junta de Salvação Nacional que restavam vivos (resta o Mendes Dias, esperemos que por muito tempo). Antes dele haviam falecido todos os membros iniciais, bem como quase todos os que, como o Fisher Lopes Pires, haviam substituído os que evolução do processo revolucionário deitou borda fora da JSN.
Chegou a hora deste militar de Abril, de todas as horas, nos deixar fisicamente.
Depois de tempos de sofrimento físico intenso, depois de retardada a morte, com a vitoria sobre muitas investidas que as doenças lhe fizeram, vimos partir um Amigo, vimos partir um Homem, vimos partir um Militar e um Cidadão de primeira água.
Connosco fica a sua memória, a memória de um Homem íntegro a toda a prova, teimoso na defesa dos valores e princípios que o levaram a envolver-se no Movimento dos Capitães, ele que foi um dos primeiros tenentes-coronéis a fazê-lo, e o levaram ao Posto de Comando no Regimento de Engenharia nº1, na Pontinha, na condução das operações do 25 de Abril de 1974. Onde não se distinguiu apenas pela cor verde com que escrevia os comunicados do MFA, difundidos nessa noite de 24/25 de Abril.
Foi um dos nossos que, apesar de se ter afastado de cargos cimeiros nomeadamente do Conselho da Revolução, por não pactuar com situações que o violentavam, nunca se afastou da acção que os militares de Abril continuaram a desenvolver.
É assim que está na fundação da Associação 25 de Abril, a cuja Direcção virá a pertencer e com a qual continuará a colaborar, até aos últimos dias da sua vida, nomeadamente através de textos que foram publicados n'O Referencial.
O último que nos enviou "Os teimosos Iluminados" é publicado neste número, como estava previsto. Só não contávamos que fosse a título póstumo.
Caro Fisher, partiste amargurado. Mais do que as dores físicas que te atormentavam nos últimos anos de vida, suportavas as dores afectivas que a evolução do teu Portugal, do nosso Portugal de Abril, vinha seguindo. Lidavas mal, como todos nós com o assistir à destruição de tudo o que se conseguiu, com o nosso 25 de Abril!
O que podemos garantir-te é que, os que continuamos vivos, não desistimos, continuamos na luta! Contamos contigo! A tua memória como a de outros companheiros que te antecederam, vai dar-nos força! Temos de vencer, o destino do nosso povo assim no-lo exige!
Um grande, grande abraço
Vasco Lourenço
(Obrigada Vasco Lourenço pela bonita homenagem ao meu Pai)
Como é dito pelo Vasco Lourenço, o meu Pai colaborava com o Referencial escrevendo artigos. Não era por ser o meu Pai mas, escrevia muitíssimo bem.
Nesta Revista está um artigo bastante vasto escrito por ele "Os teimosos Iluminados" (que era uma crítica ao actual governo nomeadamente ao "nosso" 1º Ministro e à Ângela Merkel).
Estão também dois artigos retirados de "Breve História de Uma Vida" (livro escrito pelo meu Pai a nosso pedido em que relata a história da sua vida) que irei também colocar aqui.
Última edição por Arguida2 em terça jan 21, 2014 1:38 pm, editado 1 vez no total.
Aqui vai o 1º texto.
"Naquele tempo o recenseamento dos militares era feitos nas unidades. Eram elas que faziam as relações de eleitores e distribuíam as listas de voto.
Como adjunto do Comando accionei e conferi o recenseamento de todo o pessoal. Dias depois recebi ordem para ir ao Quartel-General da Divisão buscar as listas do almirante Tomás. Assim fiz, e como tinha a relação dos eleitores mandei distribuir as listas por todos os recenseados.
Mas logo veio, por rádio do Ministério, indicação de que era expressamente proibido, nas unidades militares, distribuir listas do Humberto Delgado. Comuniquei o facto ao comandante e não me ralei mais.
Porém, dois ou três dias depois, veio pelo correio uma montanha de envelopes azuis com os nomes dos eleitores. Procurei o meu envelope, abri-o e vi que era a lista do Delgado. Depois procurei os que vinham em nome do comandante e do 2º comandante. E a pergunta apavorada 1º sargento Fragoso (meu auxiliar e amigo). "E agora o que vamos fazer meu Capitão"? Respondi apenas: "Vamos separar por companhias e mandar os envelopes aos eleitores. Sâo correspondência privada que não posso nem quero reter ou desviar".
Depois fui entregar os boletins do Delgado ao comandante e ao 2º comandante que pareceram não se ter apercebido do que se estava a passar, pois receberam-nos sem reagir.
Chegou o dia das eleições e foi tudo votar. Mas logo no dia seguinte o comandante foi chamado ao Quartel-General da Região Militar de Tomar e quando voltou vinha com um ar apavorado e branco como um cadáver. Como é óbvio, fui imediatamente convocado.
- O nosso General está furioso pois o Batalhão foi a única unidade da região em que apareceram listas do Delgado. Como foi isso.
- O meu Comandante sabe perfeitamente como foi pois entreguei-lhe pessoalmente um envelope com o seu nome e a sua lista. Era correspondência privada que eu não podia destruir nem reter.
- Mas o que vou dizer ao nosso General?
- Diga-lhe isso mesmo.
- Mas o nosso General quer saber quem é o responsável, para o punir.
- Diga ao nosso General que o responsável fui eu e se quiser pode punir-me que eu cá saberei reclamar e defender-me.
Não sei como o desgraçado do Cesário Montez se desenvencilhou, mas não veio qualquer punição directa, pelo menos de imediato."
"Naquele tempo o recenseamento dos militares era feitos nas unidades. Eram elas que faziam as relações de eleitores e distribuíam as listas de voto.
Como adjunto do Comando accionei e conferi o recenseamento de todo o pessoal. Dias depois recebi ordem para ir ao Quartel-General da Divisão buscar as listas do almirante Tomás. Assim fiz, e como tinha a relação dos eleitores mandei distribuir as listas por todos os recenseados.
Mas logo veio, por rádio do Ministério, indicação de que era expressamente proibido, nas unidades militares, distribuir listas do Humberto Delgado. Comuniquei o facto ao comandante e não me ralei mais.
Porém, dois ou três dias depois, veio pelo correio uma montanha de envelopes azuis com os nomes dos eleitores. Procurei o meu envelope, abri-o e vi que era a lista do Delgado. Depois procurei os que vinham em nome do comandante e do 2º comandante. E a pergunta apavorada 1º sargento Fragoso (meu auxiliar e amigo). "E agora o que vamos fazer meu Capitão"? Respondi apenas: "Vamos separar por companhias e mandar os envelopes aos eleitores. Sâo correspondência privada que não posso nem quero reter ou desviar".
Depois fui entregar os boletins do Delgado ao comandante e ao 2º comandante que pareceram não se ter apercebido do que se estava a passar, pois receberam-nos sem reagir.
Chegou o dia das eleições e foi tudo votar. Mas logo no dia seguinte o comandante foi chamado ao Quartel-General da Região Militar de Tomar e quando voltou vinha com um ar apavorado e branco como um cadáver. Como é óbvio, fui imediatamente convocado.
- O nosso General está furioso pois o Batalhão foi a única unidade da região em que apareceram listas do Delgado. Como foi isso.
- O meu Comandante sabe perfeitamente como foi pois entreguei-lhe pessoalmente um envelope com o seu nome e a sua lista. Era correspondência privada que eu não podia destruir nem reter.
- Mas o que vou dizer ao nosso General?
- Diga-lhe isso mesmo.
- Mas o nosso General quer saber quem é o responsável, para o punir.
- Diga ao nosso General que o responsável fui eu e se quiser pode punir-me que eu cá saberei reclamar e defender-me.
Não sei como o desgraçado do Cesário Montez se desenvencilhou, mas não veio qualquer punição directa, pelo menos de imediato."
2º Texto
Ora em 1958 havia eleições presidenciais. O General Craveiro Lopes ao terminar o seu mandato, viu-se rejeitado pelo Salazar que escolheu o almirante Américo Tomás como candidato. Tudo bem e calminho. Só que, de repente, surge a candidatura do General Humberto Delgado que, além de obter a desistência a seu favor de outo candidato oposicionista (Dr. Arlindo Vicente) consegue agitar fortemente o país, pondo claramente em causa a tranquila supremacia salazarista.
A perturbação foi grande e o governo resolve organizar estrondosas comemorações em Braga, no célebre 28 de Maio. Calcule-se a minha cara quando, como adjunto do Comando recebo um rádio do célebre ministro Santos Costa. "Nas comemorações do 28 de Maio em Braga todas as unidades militares se farão obrigatoriamente representar pelo comandante ou pelo 2º comandante e por dois oficias. Não havendo voluntários nomeiam-se". Como é lógico levei o rádio ao comandante que era uma autêntica nódoa: o Cesário Marques Pereira Montez. E ele começou logo a decidir.
- Vai o major Ramires (o 2º comandante), vai você.
- Não vou, não senhor.
- Porquê?
- Porque, como oficial, ninguém me pode obrigar a tomar parte em manifestações políticas, ainda por cima em apoio a um regime que não é da minha simpatia.
- Oh Lopes Pires, vá lá.
- Não vou e peço ao meu comandante o favor de não me nomear porque se o fizer eu desobedeço e o Senhor tem de me prender.
- Mas então quem há-de ir?
- Não sei. O problema é seu e por isso é que o Senhor é o comandante.
O certo é que eu não fui mesmo e o "banana" nada me fez.
Naqueles tempos "ferocíssimos" todas as unidades militares eram obrigadas a manter em prontidão a chamada Companhia de Ordem Pública, destinada a intervir na rua se houvesse qualquer perturbação. Isto é: actuaria como polícia.
A dada altura o Humberto Delgado foi a Abrantes fazer um comício que se previa bastante agitado. Logo por azar nesse dia a Companhia de Ordem Pública era a minha, o que não me agradava nada.
Mandei logo pela manhã, atestar as viaturas (duas camionetas GMC e um jeep por pelotão, mais outro jeep para mim e uma ambulância). Mandei formá-las todas em fila na parada e distribuí os lugares que, nas viaturas deveriam ser ocupados por cada homem. Distribuí o armamento, os cunhetes de munições e as rações de reserva, mandei encher todos os cantis com água e combinei o sinal que mandaria soar para que, cinco minutos depois, a Companhia estivesse em ordem de avançar. Estava tudo OK, como se costuma dizer. Depois fui procurar o 2º comandante, o major Ramires (pois o comandante estava em Lisboa em ferocíssimas reuniões) e disse-lhe:
- Meu major, a companhia está pronta a sair. Mas fica já a saber que se vier ordem para ela actuar terá de arranjar outro oficial que a comande pois eu recuso-me a intervir como polícia.
- Oh homem, você não me lixe!
- Não lixo nada, mas fica sabendo que não saio com a companhia.
- Então o que hei-de fazer?
- Se o meu major souber rezar, vá rezando para não vir ordem para a companhia sair. Se não souber ou não quiser rezar, pode mandar-me já prender e ir pensando em quem me irá substituir.
- Você é um "gajo lixado".
- Espero que não, meu major. E vá rezando.
E o homem deve, de facto, ter rezado muito pois, apesar das previsões, não veio ordem de saída e tudo acabou bem".
Estes dois relatos revelam bem a personalidade do meu Pai que era um homem de convicções fortes, sem medos, que enfrentava tudo e todos em defesa dos seus ideais.
Se era "amado" pelos seus superiores? Obviamente que não mas, era respeitado. Pelos seus subordinados, era simplesmente idolatrado.
No dia do seu funeral era o dia da Unidade em Santa Margarida (onde o meu Pai foi 2º Comandante) e foi celebrada uma missa onde foi invocado o meu Pai e o seu falecimento. Já estávamos no crematório, quando nos apareceu um Senhor esbaforido que se atirou em pranto para os nossos braços e explicou-nos que ao ouvir a notícia da sua "partida" veio disparado para Lisboa para se poder despedir do "seu" comandante.
Pena que hoje em dia, existam tão poucos (ou quase nenhuns) com a fibra do meu Pai. Certamente que não estaríamos no "pantanal" em que estamos.
Mais uma vez, muito obrigada querido Pai pelos valores que tão bem nos soube transmitir. Tal como fez com o seu Pai quando ele partiu, também eu irei tentar SEMPRE honrar o meu apelido que é o maior bem que possuo.
Ora em 1958 havia eleições presidenciais. O General Craveiro Lopes ao terminar o seu mandato, viu-se rejeitado pelo Salazar que escolheu o almirante Américo Tomás como candidato. Tudo bem e calminho. Só que, de repente, surge a candidatura do General Humberto Delgado que, além de obter a desistência a seu favor de outo candidato oposicionista (Dr. Arlindo Vicente) consegue agitar fortemente o país, pondo claramente em causa a tranquila supremacia salazarista.
A perturbação foi grande e o governo resolve organizar estrondosas comemorações em Braga, no célebre 28 de Maio. Calcule-se a minha cara quando, como adjunto do Comando recebo um rádio do célebre ministro Santos Costa. "Nas comemorações do 28 de Maio em Braga todas as unidades militares se farão obrigatoriamente representar pelo comandante ou pelo 2º comandante e por dois oficias. Não havendo voluntários nomeiam-se". Como é lógico levei o rádio ao comandante que era uma autêntica nódoa: o Cesário Marques Pereira Montez. E ele começou logo a decidir.
- Vai o major Ramires (o 2º comandante), vai você.
- Não vou, não senhor.
- Porquê?
- Porque, como oficial, ninguém me pode obrigar a tomar parte em manifestações políticas, ainda por cima em apoio a um regime que não é da minha simpatia.
- Oh Lopes Pires, vá lá.
- Não vou e peço ao meu comandante o favor de não me nomear porque se o fizer eu desobedeço e o Senhor tem de me prender.
- Mas então quem há-de ir?
- Não sei. O problema é seu e por isso é que o Senhor é o comandante.
O certo é que eu não fui mesmo e o "banana" nada me fez.
Naqueles tempos "ferocíssimos" todas as unidades militares eram obrigadas a manter em prontidão a chamada Companhia de Ordem Pública, destinada a intervir na rua se houvesse qualquer perturbação. Isto é: actuaria como polícia.
A dada altura o Humberto Delgado foi a Abrantes fazer um comício que se previa bastante agitado. Logo por azar nesse dia a Companhia de Ordem Pública era a minha, o que não me agradava nada.
Mandei logo pela manhã, atestar as viaturas (duas camionetas GMC e um jeep por pelotão, mais outro jeep para mim e uma ambulância). Mandei formá-las todas em fila na parada e distribuí os lugares que, nas viaturas deveriam ser ocupados por cada homem. Distribuí o armamento, os cunhetes de munições e as rações de reserva, mandei encher todos os cantis com água e combinei o sinal que mandaria soar para que, cinco minutos depois, a Companhia estivesse em ordem de avançar. Estava tudo OK, como se costuma dizer. Depois fui procurar o 2º comandante, o major Ramires (pois o comandante estava em Lisboa em ferocíssimas reuniões) e disse-lhe:
- Meu major, a companhia está pronta a sair. Mas fica já a saber que se vier ordem para ela actuar terá de arranjar outro oficial que a comande pois eu recuso-me a intervir como polícia.
- Oh homem, você não me lixe!
- Não lixo nada, mas fica sabendo que não saio com a companhia.
- Então o que hei-de fazer?
- Se o meu major souber rezar, vá rezando para não vir ordem para a companhia sair. Se não souber ou não quiser rezar, pode mandar-me já prender e ir pensando em quem me irá substituir.
- Você é um "gajo lixado".
- Espero que não, meu major. E vá rezando.
E o homem deve, de facto, ter rezado muito pois, apesar das previsões, não veio ordem de saída e tudo acabou bem".
Estes dois relatos revelam bem a personalidade do meu Pai que era um homem de convicções fortes, sem medos, que enfrentava tudo e todos em defesa dos seus ideais.
Se era "amado" pelos seus superiores? Obviamente que não mas, era respeitado. Pelos seus subordinados, era simplesmente idolatrado.
No dia do seu funeral era o dia da Unidade em Santa Margarida (onde o meu Pai foi 2º Comandante) e foi celebrada uma missa onde foi invocado o meu Pai e o seu falecimento. Já estávamos no crematório, quando nos apareceu um Senhor esbaforido que se atirou em pranto para os nossos braços e explicou-nos que ao ouvir a notícia da sua "partida" veio disparado para Lisboa para se poder despedir do "seu" comandante.
Pena que hoje em dia, existam tão poucos (ou quase nenhuns) com a fibra do meu Pai. Certamente que não estaríamos no "pantanal" em que estamos.
Mais uma vez, muito obrigada querido Pai pelos valores que tão bem nos soube transmitir. Tal como fez com o seu Pai quando ele partiu, também eu irei tentar SEMPRE honrar o meu apelido que é o maior bem que possuo.
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- Mensagens: 1380
- Registado: sexta fev 19, 2010 3:16 pm
- Localização: Anny e Max(Cocker Spaniel Inglês), Donny e Jamaica (PDI) e Pudim (coelho anão)
Como já lhe tinha dito, lamentei-lhe a partida do seu ente, seu pai.
Mas quando percebi quem era o mesmo, lamentei em dobro.
É mesmo de lamentar que já não se façam Homens assim...
Mas quando percebi quem era o mesmo, lamentei em dobro.
É mesmo de lamentar que já não se façam Homens assim...
Querido Pai,
Na 3ª farão 7 meses que "partiu". A saudade é imensa mas, apesar de tudo ... finalmente sinto uma "paz" interior que já não sentia há muito tempo. Sinto que tudo fiz para apuramento da verdade ... que demora mas pelo menos, nós já sabemos qual é.
Na 6ª liguei para o DIAP e o seu processo continua em investigação. Oxalá investiguem todos os pormenores ... acredito que sim. Vamos constituir-nos assistentes do processo para o podermos acompanhar. Deveria ser a Mãe a fazê-lo mas, como ela anda adoentada e a participação foi feita por mim, serei eu.
Este tempo de espera é difícil, muito difícil mas, nada é tão difícil como tudo aquilo por que passámos até agora.
Onde quer que esteja dê-nos uma "forcinha" para continuarmos esta "caminhada".
Um beijinho muito grande meu querido Pai ...
Na 3ª farão 7 meses que "partiu". A saudade é imensa mas, apesar de tudo ... finalmente sinto uma "paz" interior que já não sentia há muito tempo. Sinto que tudo fiz para apuramento da verdade ... que demora mas pelo menos, nós já sabemos qual é.
Na 6ª liguei para o DIAP e o seu processo continua em investigação. Oxalá investiguem todos os pormenores ... acredito que sim. Vamos constituir-nos assistentes do processo para o podermos acompanhar. Deveria ser a Mãe a fazê-lo mas, como ela anda adoentada e a participação foi feita por mim, serei eu.
Este tempo de espera é difícil, muito difícil mas, nada é tão difícil como tudo aquilo por que passámos até agora.
Onde quer que esteja dê-nos uma "forcinha" para continuarmos esta "caminhada".
Um beijinho muito grande meu querido Pai ...
Muito obrigada Joie2. Finalmente estou a conseguir encontrar "paz".
Não consigo explicar mas, desde que soube que o DIAP está a investigar o caso e que tinha pedido às partes envolvidas a documentação, assim como lhes enviei por email "alertas" sobre as deturpações que aparecem ao longo da mesma, comecei finalmente encontrar a "paz" desejada e a conseguir fazer o meu luto.
É uma dor muito grande mas está a começar a "acalmar".
Não consigo explicar mas, desde que soube que o DIAP está a investigar o caso e que tinha pedido às partes envolvidas a documentação, assim como lhes enviei por email "alertas" sobre as deturpações que aparecem ao longo da mesma, comecei finalmente encontrar a "paz" desejada e a conseguir fazer o meu luto.
É uma dor muito grande mas está a começar a "acalmar".
Arguida, muita força! tenho andado um pouco distante e sem tempo para ler e responder com atenção, mas não posso deixar de escrever mais umas palavras de apoio a uma amiga , ainda que virtual, que sempre me apoiou!
Ainda bem que finalmente a paz interior está a chegar ao seu coração, espero que o tome de assalto e que daqui para a frente more os bons momentos nesse coração!
Um beijinho grande e muita força!
Ainda bem que finalmente a paz interior está a chegar ao seu coração, espero que o tome de assalto e que daqui para a frente more os bons momentos nesse coração!
Um beijinho grande e muita força!