Imaginação... ou não...?!!

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
Suesca
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terça out 02, 2012 4:24 pm

A ahahah é uma mulher? :roll:
Podem falar, podem falar, mas a mim o que realmente interessa são os animais...
nandaalmeida
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terça out 02, 2012 4:31 pm

Suesca Escreveu:A ahahah é uma mulher? :roll:
Julgo que sim,pelo menos no profile tem nome de mulher :lol: :lol:
Agora se o é ou não 8) 8) 8) 8)
Sou responsável pelo que escrevo.
Não pelo que entende.
Suesca
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terça out 02, 2012 7:22 pm

Entao pera ai.. Eu pelo menos sendo mulher,o tema violacao faz.me muita impressao e uma grande compaixao pela mulherviolada. Nao foi o caso,mas foi quase.
E olhem que o meu humor é bem estranho,mas nao acho graca gozar com o caso,depois de alguem ter falado no que lhe aconteceu. Mau gosto.
Ahahahahah se tivesses passado por isso aposto qye nao falavas assim.
Podem falar, podem falar, mas a mim o que realmente interessa são os animais...
nandaalmeida
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quarta out 03, 2012 8:10 am

Suesca Escreveu:Entao pera ai.. Eu pelo menos sendo mulher,o tema violacao faz.me muita impressao e uma grande compaixao pela mulherviolada. Nao foi o caso,mas foi quase.
E olhem que o meu humor é bem estranho,mas nao acho graca gozar com o caso,depois de alguem ter falado no que lhe aconteceu. Mau gosto.
Ahahahahah se tivesses passado por isso aposto qye nao falavas assim.
Depende das mulheres 8) 8)
A mim esse tema dá-me vómitos,uma familiar minha foi violada e não consigo explicar, nem entender o que é que ela sentiu,pq simplesmente não o demonstrava :cry: :cry:
Sentia nojo dela mesma,partiu os espelhos da MINHA casa pq simplesmente não se conseguia olhar :(
São coisas muito delicadas,uma palavra mal dita ou mal entendida nestes casos pode ser bastante prejudicial.
Por isso é que eu digo que a Arguida é uma grande senhora e tenho-lhe muito respeito,sei que felizmente não lhe aconteceu nada mas passar por isso...
Eu muito sinceramente eu não conseguia passar por isso. :wink:
Sou responsável pelo que escrevo.
Não pelo que entende.
Rozza
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Nikita
Yoshi

quarta out 03, 2012 9:26 am

Eu nem acredito nem desacredito! Ou seja, se houver algo mais do que aquilo que se vê, tudo bem, cabemos cá todos! Não me vou incomodar com isso.

Também passei por uma experiência muito similar à que descreve o sxmota. Estava a dormir, quando senti passos no quarto. Fiquei aterrada e nem sequer tentei me mexer para acender a luz. Depois senti o colchão, ao lado dos meus pés a baixar, como se alguém tivesse apoiado as mãos na cama. De repente passou! Continuei imóvel e completamente aterrada por uns segundos. Depois quando a mente começou a funcionar e me lembrei que era impossível alguém ter entrado em casa acalmei.
Houve quem me dissesse para mandar benzer a casa, mas nunca quis ir por aí. Acredito mais na ciência e a explicação falada pelo sxmota faz sentido, mas se realmente esteve uma "presença" lá em casa, não me fez mal, para quê incomodá-la?

arguida2, as suas experiências são incríveis. No comments
<p class="fr0">O homem implora a miseric&oacute;rdia de Deus mas n&atilde;o tem piedade dos animais, para os quais ele &eacute; um deus. Os animais que sacrificais j&aacute; vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua l&atilde; e depositaram confian&ccedil;a nas m&atilde;os criminosas que os degolam. Ningu&eacute;m purifica seu esp&iacute;rito com sangue. Na inocente cabe&ccedil;a do animal n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um ter&aacute; de responder. <strong>Buda</strong></p>
Arguida2
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quarta out 03, 2012 10:32 am

Nanda, muito obrigada pelos elogios mas, sem falsa modéstia, acho que bem lá no fundo e em situações limite, somos bem mais fortes do que o que pensamos. Por outro lado. eu sentia que tinha de tentar apanhar aqueles FDP pois, se eu tinha tido uma "estrelinha" que tinha evitado que o pior acontecesse, na semana anterior, uma Senhora não teve a mesma sorte do que eu e, nunca saberei se já havia mais vítimas ou quantas mais poderiam existir se eles não fossem apanhados. Foi tudo isto que me fez andar para a frente.

Em abono da verdade, na altura pensava que o que me tinha acontecido tinha sido um acontecimento levado do extremo e que nada mais grave me poderia acontecer.

Mal eu sabia que o inferno iria começar a cair sobre mim.

Foi terrível o que me aconteceu pois estes FDP não eram o simples ladrão que rouba para comer, para a droga ou para o que quer que seja. Estes fulanos acima de tudo eram VIOLADORES e, como já disse, se para o roubo consigo encontrar justificação, para a violação não consigo de forma alguma.

Eles eram de tal forma “frios” que da 1º vez que a senhora que me ajudou veio à janela e começou a gritar para me largarem lhe disseram: “Cala-te que isto é com ela e não contigo”. A senhora foi para dentro e lembro-me de pensar: “Das duas uma, ou está com medo, ou vai chamar a polícia. Espero que seja a última hipótese”.

Nesse meio tempo, já tinham em poder deles os meus anéis, os brincos e o cordão de ouro que eu trazia, (este último foi parar às mãos deles depois de um deles me dar uma espécie de murro na garganta pois queria arrancar-mo ao que lhe disse que lho dava. Se ele o arrancasse, cortava-me o pescoço todo). Safou-se o relógio Gucci porque no meio daquilo tudo, disse-lhes que era falso e que o tinha comprado na feira da Praça de Espanha.

Foi quando o 1º (o que veio por trás e me fez o garrote no pescoço, me tapou a boca e me arrastou para o beco) me disse: “Isto ainda não acabou. Agora para começar vais fazer-me um b*** e começou a abrir as calças.

Se até aí eu estava em pânico e só chorava a pedir para não me fazerem mal pois todo o assalto foi seguido de ameaças de morte, nesse momento, senti um ódio, uma raiva, uma repulsa crescer em mim e, acreditem que consegui visualizar raízes a romperem o chão e a entrarem-me nas pernas.

Decidi revoltar-me e sabem aquelas descrições que as pessoas quando estão à morte contam, de que a vida lhes passa em frente dos olhos em fracções de segundos? Pois foi o que me aconteceu, mas o que me passou pelos olhos foi o filme daquele assalto.

Em fracções de segundos, visualizei eles a forçarem-me a fazer sexo oral (isto era só o aperitivo), eu a recusar-me, eles a forçarem-me e eu a arrancar-lhe tudo à dentada. De seguida vi-me a ser espancada, a cair a esvair-me em sangue, eles a fugirem, a polícia a correr pelo beco, tentar ver o meu pulso, tentarem apanhar as pulsações na carótida, dizerem “está morta”, cobrirem-me com um lençol e tocarem à campainha a avisar os meus pais. Tudo isto, numa milésima fracção de segundos, que foi quando a senhora voltou à janela a gritar mais uma vez para me largarem que já tinha avisado a polícia.

Nisto eles ameaçaram-me novamente de morte e disseram para lhes dar 10 minutos para fugirem pois se não lhes desse esse tempo, matavam-me.
Eu aterrorizada no meio do beco, eles a fugirem, a senhora a gritar para eu entrar no prédio mas eu em pânico que eles voltassem para trás, me violassem mesmo e me matassem. Não conseguia ver as escadas, a luz … nada de nada.

Foi mesmo o tudo ou nada … não podia ficar no beco pelo que, arrisquei entrar no prédio às apalpadelas e, caso acontecesse o pior, pelo menos já alguém sabia que eu estava ali e a polícia iria conseguir identificar-me e avisar a minha família.

Foram dois anos do mais puro terror. Tinha medo de andar na rua, tinha medo de comer (por causa do murro na garganta) pois tinha medo de sufocar. Partia a comida em pedacinhos mínimos como as anorécticas para não me engasgar e, cada garfada era seguida dum gole de água.

Não conseguia sair de casa sem ser para ir trabalhar e, tudo isto, sempre de táxi. Ir a um centro comercial, cinema, a um bar/discoteca? Só de pensar nisso, era motivo suficiente para ter um ataque de pânico.
Andar de transportes? Como? Tive de mandar um psicólogo àquela parte, pois o fulano teve o “atrevimento” de me dizer que eu tinha de recomeçar a sair/viver e então disse-me, para ir até a um jardim, sentar-me num banco a ouvir os pássaros, apanhar sol. Como? Se eu saía de casa a correr até à praça de táxis? Se andava na rua e o meu pescoço parecia o radar do aeroporto, sempre a andar ás voltas a ver quem vinha atrás, quem ía ao meu lado. Se via alguém atrás de mim ía para o meio da rua, pois preferia ser atropelada a alguém voltar a agarrar-me por trás. Como é que eu me podia sentar num banco do jardim … se eu nem conseguia chegar até ao jardim?

Dizia ele para me meter no autocarro e um dia ía até à paragem seguinte, no dia seguinte andaria duas … como? Se eu estando com os pés firmes no passeio, só de olhar para o autocarro, se este tinha mais do que 5 pessoas, tinha logo um ataque de pânico? Pensei cá para mim … se este gajo é psicólogo e não entende a minha real incapacidade, como é que posso “exigir” que a pessoa comum entenda o meu bloqueio?

Por muita compreensão que haja por parte da família, amigos, etc, estes no seu íntimo pensam que, se nós não reagimos é porque nos falta a força de vontade. Também eu pensaria assim se não tivesse passado por tudo isso. Não é falta de força de vontade, é mesmo uma REAL incapacidade de conseguir ultrapassar esse bloqueio.

O 1º psiquiatra a que fui … ainda foi pior a emenda do que o soneto, pois, em vez de me tentar ajudar a lidar com as minhas obsessões, drogou-me completamente. Para além de “maluca” passei a ser uma toxicodependente autorizada com receita médica passada.

Tive de fazer um desmame brutal daquelas drogas todas e, foi de tal forma violento que nem me aguentava de pé, sentia faíscas a saírem dos meus dedos … tremores como se estivesse a ter convulsões. O psiquiatra que me começou a fazer o desmame daquelas drogas todas (o 2º)só me dizia: “Manela … vamos aumentar um bocadinho a dose pois não vale a pena estar com toda esta sintomatologia … vamos fazer mais devagar. Respondi-lhe: “Nem pense nisso … se tenho de sofrer, sofro tudo de uma vez. Para mim o aumentar um pouco que fosse a dose dos medicamentos que estava a tentar largar, representava uma derrota, um fracasso e, naquela altura … eu não podia fracassar. Tinha a minha vida num farrapo pelo que, tinha de lhe dar um sentido e esse … era ir para a frente e não retroceder.

Fui para este 2º psiquiatra depois de ter ido a um psicólogo (o meu Deus ao cimo da terra naquela altura) e este ter ficado em estado de choque quando me perguntou o que me levava lá. Respondi-lhe: “Como um gesto vale mais do que mil palavras, vou-lhe mostrar o que me traz aqui e nisto, abri a mala e despejei todos os comprimidos com que andava, a minha querida garrafa de àgua. Expliquei-lhe que, mesmo sabendo que não tinha tomado nada num dia, tinha de conferir TUDO antes de sair de casa e, não era capaz de sair sem levar toda aquela parafernália. Por duas vezes esqueci-me de conferir e tive de despejar a mala, uma vez à porta do prédio e outra mesmo na rua.

Perguntou-me o que me tinha levado àquele estado e, quando lhe contei, disse logo que o meu caso era extremamente grave (eu apesar de estar completamente drogada, conseguia ter consciência disso) e que para além do apoio dele, precisava de acompanhamento psiquiátrico que foi o que passei também a ter.
.
Para além destes dois médicos e da Família, sem sombra de dúvida que devo muito da minha recuperação, aliás, devo-a na totalidade no aspecto de hoje em dia conseguir andar de transportes públicos, a uma colega e hoje amiga que foi INEXCEDÍVEL no apoio e no acompanhamento de casa e para casa.

Esta minha colega sabia que eu queria tentar voltar a andar de transportes públicos e então, combinou comigo, encontrarmo-nos à ida e à vinda para andarmos juntas e eu começar a perder o medo.

Foi muito complicado … tinha de meter um ansiolítico debaixo da língua, dar-lhe o braço, levar um lenço à mão para limpar o suor que me escorria, entrar no metro e/ou autocarro e ficar sempre perto das portas e/ou janelas e, caso fosse possível abrir sempre. Como estava mesmo prestes a começar a sentir-me mal lá tinha a minha querida Rosa a dizer-me: “Manela, olha para mim. Não te vai acontecer nada … eu estou aqui contigo … tu és capaz … vais ser capaz”. Foram meses, e meses e meses e, graças a ela, hoje faço a minha vida normal ou pelo menos, praticamente normal. Nunca encontrarei palavras ou gestos para lhe agradecer o que ela fez por mim.

Perante o descrito e, apesar de não ter sido violada (nem consigo imaginar uma situação destas acontecer-me), acreditem que, a castração seria muito pouco para os responsáveis pelo inferno a que eu desci.

Tenho uma “máxima” que por vezes digo: Todos nós somos potenciais assassinos … tudo depende das circunstâncias. Há aqueles que matam por motivos “menores” mas, eu tenho a certeza de que correndo o risco de dar cabo da minha vida, se voltasse a ver estes dois canalhas à minha frente e tivesse uma arma na mão, não hesitaria um segundo que fosse, em lhes limpar o sebo.

Justiça? Qual justiça? Aquela que manda violadores, assassinos, pedófilos de volta para casa? Infelizmente há muito que deixei de acreditar na justiça …
nandaalmeida
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quarta out 03, 2012 10:50 am

Arguida2 Escreveu:Nanda, muito obrigada pelos elogios mas, sem falsa modéstia, acho que bem lá no fundo e em situações limite, somos bem mais fortes do que o que pensamos. Por outro lado. eu sentia que tinha de tentar apanhar aqueles FDP pois, se eu tinha tido uma "estrelinha" que tinha evitado que o pior acontecesse, na semana anterior, uma Senhora não teve a mesma sorte do que eu e, nunca saberei se já havia mais vítimas ou quantas mais poderiam existir se eles não fossem apanhados. Foi tudo isto que me fez andar para a frente.

Em abono da verdade, na altura pensava que o que me tinha acontecido tinha sido um acontecimento levado do extremo e que nada mais grave me poderia acontecer.

Mal eu sabia que o inferno iria começar a cair sobre mim.

Foi terrível o que me aconteceu pois estes FDP não eram o simples ladrão que rouba para comer, para a droga ou para o que quer que seja. Estes fulanos acima de tudo eram VIOLADORES e, como já disse, se para o roubo consigo encontrar justificação, para a violação não consigo de forma alguma.

Eles eram de tal forma “frios” que da 1º vez que a senhora que me ajudou veio à janela e começou a gritar para me largarem lhe disseram: “Cala-te que isto é com ela e não contigo”. A senhora foi para dentro e lembro-me de pensar: “Das duas uma, ou está com medo, ou vai chamar a polícia. Espero que seja a última hipótese”.

Nesse meio tempo, já tinham em poder deles os meus anéis, os brincos e o cordão de ouro que eu trazia, (este último foi parar às mãos deles depois de um deles me dar uma espécie de murro na garganta pois queria arrancar-mo ao que lhe disse que lho dava. Se ele o arrancasse, cortava-me o pescoço todo). Safou-se o relógio Gucci porque no meio daquilo tudo, disse-lhes que era falso e que o tinha comprado na feira da Praça de Espanha.

Foi quando o 1º (o que veio por trás e me fez o garrote no pescoço, me tapou a boca e me arrastou para o beco) me disse: “Isto ainda não acabou. Agora para começar vais fazer-me um b*** e começou a abrir as calças.

Se até aí eu estava em pânico e só chorava a pedir para não me fazerem mal pois todo o assalto foi seguido de ameaças de morte, nesse momento, senti um ódio, uma raiva, uma repulsa crescer em mim e, acreditem que consegui visualizar raízes a romperem o chão e a entrarem-me nas pernas.

Decidi revoltar-me e sabem aquelas descrições que as pessoas quando estão à morte contam, de que a vida lhes passa em frente dos olhos em fracções de segundos? Pois foi o que me aconteceu, mas o que me passou pelos olhos foi o filme daquele assalto.

Em fracções de segundos, visualizei eles a forçarem-me a fazer sexo oral (isto era só o aperitivo), eu a recusar-me, eles a forçarem-me e eu a arrancar-lhe tudo à dentada. De seguida vi-me a ser espancada, a cair a esvair-me em sangue, eles a fugirem, a polícia a correr pelo beco, tentar ver o meu pulso, tentarem apanhar as pulsações na carótida, dizerem “está morta”, cobrirem-me com um lençol e tocarem à campainha a avisar os meus pais. Tudo isto, numa milésima fracção de segundos, que foi quando a senhora voltou à janela a gritar mais uma vez para me largarem que já tinha avisado a polícia.

Nisto eles ameaçaram-me novamente de morte e disseram para lhes dar 10 minutos para fugirem pois se não lhes desse esse tempo, matavam-me.
Eu aterrorizada no meio do beco, eles a fugirem, a senhora a gritar para eu entrar no prédio mas eu em pânico que eles voltassem para trás, me violassem mesmo e me matassem. Não conseguia ver as escadas, a luz … nada de nada.

Foi mesmo o tudo ou nada … não podia ficar no beco pelo que, arrisquei entrar no prédio às apalpadelas e, caso acontecesse o pior, pelo menos já alguém sabia que eu estava ali e a polícia iria conseguir identificar-me e avisar a minha família.

Foram dois anos do mais puro terror. Tinha medo de andar na rua, tinha medo de comer (por causa do murro na garganta) pois tinha medo de sufocar. Partia a comida em pedacinhos mínimos como as anorécticas para não me engasgar e, cada garfada era seguida dum gole de água.

Não conseguia sair de casa sem ser para ir trabalhar e, tudo isto, sempre de táxi. Ir a um centro comercial, cinema, a um bar/discoteca? Só de pensar nisso, era motivo suficiente para ter um ataque de pânico.
Andar de transportes? Como? Tive de mandar um psicólogo àquela parte, pois o fulano teve o “atrevimento” de me dizer que eu tinha de recomeçar a sair/viver e então disse-me, para ir até a um jardim, sentar-me num banco a ouvir os pássaros, apanhar sol. Como? Se eu saía de casa a correr até à praça de táxis? Se andava na rua e o meu pescoço parecia o radar do aeroporto, sempre a andar ás voltas a ver quem vinha atrás, quem ía ao meu lado. Se via alguém atrás de mim ía para o meio da rua, pois preferia ser atropelada a alguém voltar a agarrar-me por trás. Como é que eu me podia sentar num banco do jardim … se eu nem conseguia chegar até ao jardim?

Dizia ele para me meter no autocarro e um dia ía até à paragem seguinte, no dia seguinte andaria duas … como? Se eu estando com os pés firmes no passeio, só de olhar para o autocarro, se este tinha mais do que 5 pessoas, tinha logo um ataque de pânico? Pensei cá para mim … se este gajo é psicólogo e não entende a minha real incapacidade, como é que posso “exigir” que a pessoa comum entenda o meu bloqueio?

Por muita compreensão que haja por parte da família, amigos, etc, estes no seu íntimo pensam que, se nós não reagimos é porque nos falta a força de vontade. Também eu pensaria assim se não tivesse passado por tudo isso. Não é falta de força de vontade, é mesmo uma REAL incapacidade de conseguir ultrapassar esse bloqueio.

O 1º psiquiatra a que fui … ainda foi pior a emenda do que o soneto, pois, em vez de me tentar ajudar a lidar com as minhas obsessões, drogou-me completamente. Para além de “maluca” passei a ser uma toxicodependente autorizada com receita médica passada.

Tive de fazer um desmame brutal daquelas drogas todas e, foi de tal forma violento que nem me aguentava de pé, sentia faíscas a saírem dos meus dedos … tremores como se estivesse a ter convulsões. O psiquiatra que me começou a fazer o desmame daquelas drogas todas (o 2º)só me dizia: “Manela … vamos aumentar um bocadinho a dose pois não vale a pena estar com toda esta sintomatologia … vamos fazer mais devagar. Respondi-lhe: “Nem pense nisso … se tenho de sofrer, sofro tudo de uma vez. Para mim o aumentar um pouco que fosse a dose dos medicamentos que estava a tentar largar, representava uma derrota, um fracasso e, naquela altura … eu não podia fracassar. Tinha a minha vida num farrapo pelo que, tinha de lhe dar um sentido e esse … era ir para a frente e não retroceder.

Fui para este 2º psiquiatra depois de ter ido a um psicólogo (o meu Deus ao cimo da terra naquela altura) e este ter ficado em estado de choque quando me perguntou o que me levava lá. Respondi-lhe: “Como um gesto vale mais do que mil palavras, vou-lhe mostrar o que me traz aqui e nisto, abri a mala e despejei todos os comprimidos com que andava, a minha querida garrafa de àgua. Expliquei-lhe que, mesmo sabendo que não tinha tomado nada num dia, tinha de conferir TUDO antes de sair de casa e, não era capaz de sair sem levar toda aquela parafernália. Por duas vezes esqueci-me de conferir e tive de despejar a mala, uma vez à porta do prédio e outra mesmo na rua.

Perguntou-me o que me tinha levado àquele estado e, quando lhe contei, disse logo que o meu caso era extremamente grave (eu apesar de estar completamente drogada, conseguia ter consciência disso) e que para além do apoio dele, precisava de acompanhamento psiquiátrico que foi o que passei também a ter.
.
Para além destes dois médicos e da Família, sem sombra de dúvida que devo muito da minha recuperação, aliás, devo-a na totalidade no aspecto de hoje em dia conseguir andar de transportes públicos, a uma colega e hoje amiga que foi INEXCEDÍVEL no apoio e no acompanhamento de casa e para casa.

Esta minha colega sabia que eu queria tentar voltar a andar de transportes públicos e então, combinou comigo, encontrarmo-nos à ida e à vinda para andarmos juntas e eu começar a perder o medo.

Foi muito complicado … tinha de meter um ansiolítico debaixo da língua, dar-lhe o braço, levar um lenço à mão para limpar o suor que me escorria, entrar no metro e/ou autocarro e ficar sempre perto das portas e/ou janelas e, caso fosse possível abrir sempre. Como estava mesmo prestes a começar a sentir-me mal lá tinha a minha querida Rosa a dizer-me: “Manela, olha para mim. Não te vai acontecer nada … eu estou aqui contigo … tu és capaz … vais ser capaz”. Foram meses, e meses e meses e, graças a ela, hoje faço a minha vida normal ou pelo menos, praticamente normal. Nunca encontrarei palavras ou gestos para lhe agradecer o que ela fez por mim.

Perante o descrito e, apesar de não ter sido violada (nem consigo imaginar uma situação destas acontecer-me), acreditem que, a castração seria muito pouco para os responsáveis pelo inferno a que eu desci.

Tenho uma “máxima” que por vezes digo: Todos nós somos potenciais assassinos … tudo depende das circunstâncias. Há aqueles que matam por motivos “menores” mas, eu tenho a certeza de que correndo o risco de dar cabo da minha vida, se voltasse a ver estes dois canalhas à minha frente e tivesse uma arma na mão, não hesitaria um segundo que fosse, em lhes limpar o sebo.

Justiça? Qual justiça? Aquela que manda violadores, assassinos, pedófilos de volta para casa? Infelizmente há muito que deixei de acreditar na justiça …
Estou completamente abismada :o :o :o :o Meu Deus...Que horror,só as descrições que fez me deixaram mal-disposta, incomodada...
Arguida,como já lhe tinha dito tenho-lhe um GRANDE respeito,sem falsa modéstia eu não fazia nem metade,acho que a esta hora ainda andava deprimida :cry:
Acho a sua força de vontade maravilhosa.
Foi realmente horrível aquilo que passou,como disse não chegou a ser violada,felizmente.
VIOLADORES para mim eram todos MORTOS,digo isto pq é difícil, muito difícil, conviver com uma pessoa violada.E isso eu sei por experiência própria :(
Quanto a si Arguida já lhe disse tudo o que acho de si e respeito-a bastante como mulher/pessoa :wink:
Sou responsável pelo que escrevo.
Não pelo que entende.
MiCas2011
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quarta out 03, 2012 4:24 pm

:|

...estou sem palavras!!!
:(

Um abraço Arguida...
... Carolina Homenagem ao meu Tareco: http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopi ... highlight=
ambv
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quarta out 03, 2012 8:48 pm

Arguida: você é uma grande mulher e a sua amiga também, porque a soube compreender e a acompanhou até conseguir ultrapassar o trauma daquilo por que passou. Nunca fui assaltada, mas passei por algumas situações traumáticas. Uma das situações não a vou dizer, e só falei dela com muito poucas pessoas da minha intimidade. O segundo foi um acidente grave em que morreu o meu pai e o meu irmão ficou gravemente doente. Digo-lhe que vi o meu pai morrer. E todos os pormenores do acidente estão gravados no meu cérebro, quer queira ou não esquecer, o caso. Posso dizer que tenho medo de andar de carro. Mas não permiti que o medo assumisse o controlo de mim. Mas é quando vou como pendura que as coisas se complicam. E faz-me espécie ver carros a alta velocidade a entrarem nos cruzamentos. Fico arrepiada, e encolho-me toda. Sei quem provocou o acidente, estive com ele, mas não tenho recentimentos. O que lhe aconteceu podia acontecer a qualquer pessoa. Essa pessoa não estava drogada nem tinha bebido. Possivelmente adormeceu e passou para a faixa contrária. Por azar veio contra o carro onde estava. Estive quase dois meses de baixa. o 1º mês não parei, apesar de ter tb ter sofrido fisicamente. Mas tinha que me mexer, visto mais ninguém poder fazer o que eu tinha que fazer. Depois fui-me abaixo: segundo o que disse uma médica, entrei em colapso nervoso. Não conseguia trabalhar, tinha vertigens. Felizmente consegui ultrapassar a crise, mas recuperar completamente durou muito mais tempo. Duas coisas não passam: os pormenores do acidente gravados na minha mente e o medo do que os outros podem fazer.

Viver neste mundo é sempre um perigo. Ando a pé e já tenho passado por muitos sustos, muito por culpa dos condutores que não têm cuidado nenhum na condução em relação tanto a si próprios como tanto para os outros.

Sei que o trauma por que se passa torna-se incapacitante. No meu caso não tomou proporções tão graves com da Arguida. Mas o trauma psicológico fica cá. Pode ir-se atenuando, depois de acompanhamento e aconselhamento adequado. É preciso é encontrar as pessoas certas para nos ajudarem a ultrapassar o que vem depois.

Desculpem este testamento e perdoem qualquer incoerência da minha parte.
MiCas2011
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quarta out 03, 2012 9:02 pm

:(

Nunca pensei que este meu tópico viesse mostrar pessoas tão corajosas!

Os vossos relatos são desabafos de alma que nunca pensei poder ler aqui... eu sofro muitas vezes, mas porque sou fraca... agora vocês"sofrem" porque foram e são fortes!

O meu abraço estende-se a todos vocês que de uma maneira ou outra passaram por experiências traumáticas e dolorosas!
... Carolina Homenagem ao meu Tareco: http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopi ... highlight=
AQuartelmar
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quarta out 03, 2012 10:03 pm

Moral da historia...se sentir coisas estranhas a meio da noite..provavelmente é fome. :lol:
Arguida2
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quinta out 04, 2012 9:49 am

Ambv, não consigo sequer imaginar o seu trauma, a sua dor ... :cry: :cry:

Um beijinho muito grande para si. :wink:

Quanto a ser corajosa, tenho noção de que realmente não sou muito. O que me fez andar para a frente foi o pensar que tinha de lhes deitar a mão e nada mais do que isso.

Fiquei realmente surpreendida com a minha "força de vontade" em lutar para deixar toda aquela medicação mas, também nesse caso, penso que não foi bem a força de vontade. Foi mais o constatar que tinha batido bem fundo do poço e ter pensado que não queria, não podia de forma nenhuma continuar naquele estado. Felizmente tive a sorte de encontrar bons médicos que me ajudaram. Obviamente que o apoio da Família também foi importante e o da minha querida Rosa que tanto e tanto me ajudou. :wink:

Micas, não pense que é uma pessoa fraca. Nenhum de nós é fraco. Por vezes estamos mais fragilizadas e como tal, deixamo-nos ir abaixo o que é natural. Se fosse fraca, não lutaria e desistiria perante as adversidades. Pense nisso ... de fraca não tem nada.

Uma beijoca grande e, muita FORCINHA. :wink: :wink:
nandaalmeida
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quinta out 04, 2012 12:23 pm

AQuartelmar Escreveu:Moral da historia...se sentir coisas estranhas a meio da noite..provavelmente é fome. :lol:
:lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol:
Muita razão :lol: :lol: :lol:
Sou responsável pelo que escrevo.
Não pelo que entende.
botas96
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segunda out 08, 2012 7:07 pm

Micas 2011.

Vou participar também, começando por disser que o cérebro procura sempre padrões. Ilusões de óptica, a própria atenção pode ser manipulada, isso porque a nossa "massa cinzenta" e inconscientemente selecciona só alguns estímulos internos (o que considera mais importante). Não processa tudo que está à nossa volta.
Onde quero chegar é que pode ser muito susceptível ao poder de sugestão, especialmente com cansaço associado, jogo de sombras, roupa, qualquer outra coisa.
Quem é que nunca viu algo depois de olhar algum tempo para os cortinados do duche?
Dito isto, acrescento que deve tomar atenção às reacções do(s) seu(s) animal(ais). Se quiser e se puder, grave o que se passa à noite.
Porque eu não acredito em bruxas mas que elas há, há.
AQuartelmar
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segunda out 08, 2012 7:20 pm

botas96 Escreveu: Quem é que nunca viu algo depois de olhar algum tempo para os cortinados do duche?.
fantasmas lavadinhos ?
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