sexta out 05, 2012 4:53 pm
Bom, ReginaVieira, é uma coisa um bocado incompreensível para uma moçoila de agora.
Como introito, começo por dizer que naqueles recuados tempos, refiro-me à década de 50 do século XX, o objectivo da educação das raparigas era (embora já nessa altura houvesse muitas que optavam por uma profissão, como foi o meu caso) torná-las "esposas, donas de casa e mães", isto é, uma espécie de empregadas domésticas só com obrigações e deveres e nenhuns direitos nem remuneração.
Era, basicamente, fazer todo o serviço doméstico, para quando o maridinho chegasse a casa ter tudo num brinquinho, o almoço e o jantarinho na mesa, as pantufas e o jornal do cônjuge a jeito, mesmo ali ao pé do cadeirão para o marquês não ter incómodos porque, coitado, já tinha trabalhado muito e estava exausto, a roupinha lavada e passada a ferro, sendo que as camisas deviam apresentar-se impecáveis, sem pregas no peito nem rugas no colarinho, os putos com o banho tomado e as fraldas mudadas, enfim, por aí.
A "esposa" osculava o marido,quando ele entrava portas adentro, ele fazia-lhe uma festinha no cocuruto, porque as mordomias estavam todas ali à vista e aquilo era amor e uma cabana e bacalhau toda a semana.
O suprasumo da felicidade doméstica.
Não sei se está a ver o esquema.
E as aulas de Economia Doméstica e de Higiene centravam-se precisamente nesses aspectos da felicidade (?) no Lar.
Como tratar de uma casa, pôr a mesa, tanto no dia-a-dia, como se houvesse convidados, limpar o pó, encerar, separar a roupa para ser lavada, à mão, claro, branca para um lado, de cor para outro, cozinhar (havia aulas práticas e eu aprendi a fazer almôndegas e bolo mármore), passajar as meias, costurar, incluindo fazer baínhas e "ajour", como tratar do bebé, cuidados a ter quando ele tinha sarampo ou tosse convulsa, como lavar os biberons e esterilizá-los, as horas em que deveriam ser postos a dormir, como e qual a mobília a escolher, os bibelots e as jarras de flores, os candeeiros, para montar casa (no caso dos recém-casados - a sério, juro) e como governar a casa com o dinheiro que o marido nos dava e com o orçamento que ele fixava, sem ultrapassar um centavo.
Parece que o Vítor Gaspar e Companhia nunca tiveram destas aulas.
Mas sabe, é como tudo.
Eu não gostava, achava tudo aquilo pura perda de tempo, já me bastava ver a minha mãe sempre embrulhada nos afazeres domésticos desde as 6 da matina à meia noite, mas muito coisa ficou e veio a ser útil e não veio mal ao mundo.
E termino, que isto já vai longo.
<p>Au début, Dieu créa l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>