É a economia...

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
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Sasha9
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segunda out 29, 2012 11:57 am

Um texto da autoria de Miguel Sousa Tavares que na minha opinião resume bem a nossa situação!

YALE, CAMPO DE OURIQUE
Miguel Sousa Tavares (in Expresso, 29/9/2012)

«Quando o Governo subiu o IVA de 13 para 23% na restauração, António,
temendo as consequências da subida de preços no seu pequeno
restaurante de Campo de Ourique, resolveu encaixar ele o aumento...

sem o repercutir no preço das refeições. Aguentou até poder, mas mesmo
assim a clientela começou a baixar lentamente: parte dela, que lhe
assegurava umas trinta refeições ao almoço e metade disso ao jantar,
era composta por funcionários públicos, que trabalhavam ali ao lado e
cujos salários e subsídios tinham diminuído, com a medida destinada a
satisfazer as condições do "ajustamento" da economia.

Quando reparou que Bernardo, um cliente fiel e diário, tinha passado a
frequentar os seus almoços apenas três vezes por semana, António tomou
aquilo como sinal dos tempos que ai vinham: sem outra alternativa,
despediu a ajudante de cozinha, ficando apenas ele e a mulher no
serviço de balcão e mesas e, lá dentro, um cozinheiro sem ajudante.
Mas a seguir notou que também Carolina e Deolinda, que vinham almoçar
umas três vezes por semana, agora vinham apenas uma e pouco mais
comiam do que saladas ou ovos mexidos. Em desespero, teve de subir os
preços e Eduardo, um reformado cuja pensão tinha diminuído,
desapareceu de vez. Foi forçado a cortar drasticamente nas compras a
Francisco, o seu fornecedor de peixe, e a atrasar-lhe os pagamentos:
com cinco outros restaurantes, seus clientes, na mesma situação,
Francisco viu o seu lucro reduzido a zero e optou por fechar a sua
pequena empresa e inscrever-se no Fundo de Desemprego.

Mais tarde, quando Gaspar, o ministro das Finanças, anunciou mais um
aumento do IRS e declarou que o "ajustamento" não se faria através do
consumo interno, também Bernardo desapareceu para sempre e, depois de
três meses sentado na sala vazia, dando voltas a cabeça com a mulher e
tendo ambos concluído que já era tarde para emigrarem, António tomou a
decisão mais triste da sua vida, encerrando o restaurante Esperança de
Campo de Ourique e indo os dois engrossar também o rol dos
desempregados a conta do Estado.

Apesar de ter gasto parte, agora importante, das suas poupanças de
anos a anunciar o trespasse, António não conseguiu que ninguém lhe
ficasse com o estabelecimento e não lhe restou alternativa senão
entrega-lo ao senhorio Henrique, para não ter de pagar mais rendas.
Quando desabou, demolidor, o novo aumento do IMI, já Henrique tinha
desistido de conseguir alugar o espaço ou mesmo vender o imóvel: não
pagou e deixou que as Finanças lhe levassem o prédio.

Assim se concluiu, neste pequeno microcosmos económico de Campo de
Ourique, o processo de "ajustamento" da economia portuguesa: vários
trabalhadores reconvertidos a marmita, cinco outros desempregados,
duas pequenas empresas encerradas e um senhorio desprovido da sua
propriedade.

Nessa altura, Gaspar, Rufus e Selassie deram-se conta, com espanto, de
várias coisas que não vinham nos livros: que, apesar de aumentarem
sistematicamente a carga fiscal, podia acontecer que a receita do
Estado diminuísse; que os sacrifícios sem sentido implicavam mais
recessão e a recessão custava mais caro ao Estado, sob a forma de mais
subsídios de desemprego a pagar; que uma e outra coisa juntas não
tinham permitido, ao contrário das suas previsões, diminuir o défice
ou a dívida do Estado; e que o que mantinha o país a funcionar não
eram as grandes empresas e grupos económicos protegidos, nem sequer os
7% de empresas exportadoras, mas sim os 93% de empresas dirigidas ao
mercado interno, que respondiam pela esmagadora maioria dos empregos e
atendiam as necessidades da vida corrente das pessoas comuns.

E, passeando melancolicamente nos jardins de Yale, numa chuvosa manhã
de Thanksgiving, Rufus e Selassie deram com um velho cartaz colado a
uma parede, desde os tempos da primeira campanha eleitoral de Bill
Clinton: "É a economia, estúpidos!”
Enquanto não amamos um animal, uma parte da nossa alma permanecerá adormecida. (Anatole France)
Saturnny
Membro Veterano
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sexta mar 27, 2020 5:26 pm

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