Se o que está em causa são lucro de uns e impostos de outros, bem vindos ao mundo real. O que interessa, no fim, é que todos se alimentem e ninguém tenha fome. Interessa-me lá o imposto que paguei. Não é o super nem o estado que está a dar, sou eu. Ou então passamos a ser Robins e roubamos a uns para dar a outros.Quinx Escreveu:Quem sustenta o BA são as pessoas que contribuem. Isso não está em causa.Argay Escreveu:Este tópico é surrealista. Alguém tem noção dos milhares de bocas a que o BA tira a fome?
Para sua informação há outras instituições que ajudam a matar a fome, quando todas as outras, BA incluido, falharam. Não ouve qualquer ruído sobre isso.
O que está em causa, está explicito lá para trás.
A caridade paga imposto
<p>"Se a tourada é cultura, canibalismo é gastronomia"</p>
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Joie2 Escreveu:Quinx Escreveu:O mesmo que a sua opinião e da "xoné" me interessam!!!!Joie2 Escreveu: Isso é para si e o que é que isso (a sua opinião)interessa à Jonet ou a outras como ela? Quem tem prestígio nem quer pertencer ao jet-set (seja lá isso o que for)
("a inveja deve doer, taditos..." como diz e muito bem, o forista acima ).
Quanto ao que está a bold é um assunto; sentimento ou emoção seu...resolva-o. Porque deseja tanto ser bajulada?
Curiosidade: Nada tenho a ver com construtores civis...
Se não interessasse não criticava Não, não é um assunto meu nem tenho que resolvê-lo: não invejo quem se sacrifica pelos outros; pelo contrário admiro-os e lamento-os, quando se poderiam estar nas tintas- Vá lá, deixe-se de críticas e passe a ajudar mais mesmo com com a descrição que tanto apregoa E não me bajule que não tenho nada para dar
Olha, por acaso até era bom ser construtor civil há uns tempos atrás Agora é que tenho a impressão que já faliram todos
<p>the whole man must move together - by não me recordo</p>
Quinx Escreveu:Quem sustenta o BA são as pessoas que contribuem. Isso não está em causa.Argay Escreveu:Este tópico é surrealista. Alguém tem noção dos milhares de bocas a que o BA tira a fome?
Para sua informação há outras instituições que ajudam a matar a fome, quando todas as outras, BA incluido, falharam. Não ouve qualquer ruído sobre isso.
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Tudo explicado Pode-se saber quais são? Se fizerem, de facto, um bom trabalho também podemos ajudar em géneros
Última edição por Joie2 em domingo nov 18, 2012 2:20 pm, editado 1 vez no total.
Ó tias, acalmem-se lá!
Não está em causa a caridade exercida, nem a Sra. Jonet (para utilizar a fórmula de tratamento hoje usada), nem o BA, nem esta ou aquela (ou este ou aquele) pessoa que faça da caridade a sua forma de se promover socialmente.
O que com este tópico se pretendeu foi abrir os olhos para o aproveitamento que da caridade se faz para se enriquecer a si próprio, nada mais. Enriquecimento que, pelo menos na minha óptica, é ilícito e imoral no seu oportunismo. Mas isso sou eu, que até posso ser acusada de extremista neste capítulo.
Agora, o que seria bom e mais proveitoso para todas as tias que aqui vêm defender a caridadezinha era que tirassem os antolhos que lhes estreitam a visão e limitam o horizonte que conseguem abarcar e pensassem um bocadinho mais clara e proveitosamente a respeito da utilidade dessa caridadezinha.
Mata a fome? Talvez mate, mas não resolve os problemas de quem a tem. E isto é que seria importante, mesmo que os hipermercados e outros polvos passassem a ganhar menos.
Não está em causa a caridade exercida, nem a Sra. Jonet (para utilizar a fórmula de tratamento hoje usada), nem o BA, nem esta ou aquela (ou este ou aquele) pessoa que faça da caridade a sua forma de se promover socialmente.
O que com este tópico se pretendeu foi abrir os olhos para o aproveitamento que da caridade se faz para se enriquecer a si próprio, nada mais. Enriquecimento que, pelo menos na minha óptica, é ilícito e imoral no seu oportunismo. Mas isso sou eu, que até posso ser acusada de extremista neste capítulo.
Agora, o que seria bom e mais proveitoso para todas as tias que aqui vêm defender a caridadezinha era que tirassem os antolhos que lhes estreitam a visão e limitam o horizonte que conseguem abarcar e pensassem um bocadinho mais clara e proveitosamente a respeito da utilidade dessa caridadezinha.
Mata a fome? Talvez mate, mas não resolve os problemas de quem a tem. E isto é que seria importante, mesmo que os hipermercados e outros polvos passassem a ganhar menos.
<p>Olá, eu sou a... Floripes3 que já foi 2. :mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
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Ainda bem que acabou o comunismo... tacanhismo brutal, só em Portugal se mantiveram os dinassauros mas mesmo esses estão a morrer.
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x2Floripes3 Escreveu:Ó tias, acalmem-se lá!
Não está em causa a caridade exercida, nem a Sra. Jonet (para utilizar a fórmula de tratamento hoje usada), nem o BA, nem esta ou aquela (ou este ou aquele) pessoa que faça da caridade a sua forma de se promover socialmente.
O que com este tópico se pretendeu foi abrir os olhos para o aproveitamento que da caridade se faz para se enriquecer a si próprio, nada mais. Enriquecimento que, pelo menos na minha óptica, é ilícito e imoral no seu oportunismo. Mas isso sou eu, que até posso ser acusada de extremista neste capítulo.
Agora, o que seria bom e mais proveitoso para todas as tias que aqui vêm defender a caridadezinha era que tirassem os antolhos que lhes estreitam a visão e limitam o horizonte que conseguem abarcar e pensassem um bocadinho mais clara e proveitosamente a respeito da utilidade dessa caridadezinha.
Mata a fome? Talvez mate, mas não resolve os problemas de quem a tem. E isto é que seria importante, mesmo que os hipermercados e outros polvos passassem a ganhar menos.
Floripes3 quer-me parecer que não veio aqui ninguém defender a caridadezinha.
Defendeu-se e acusou-se sim, certas instituições que, sob o "escudo" da ajuda ao próximo, se promovem socialmente e/ou desviam o que é dado de boa vontade.
Critica-se o BA e quem está à frente dele mas, apesar do que de negativo possa acontecer (desvios), quer-me parecer que é uma obra que fala por si e que ajuda a mitigar a fome a muita gente.
Se acham que a pretensão de todas essas pessoas é a "promoção social" então lamento dizer-vos mas, entre os voluntários que ano após ano lá estão, encontram-se de todos os estractos ... desde a Tia à pessoa mais humilde mas que, apesar de tudo, sente que ainda existem outros em piores condições e cuja forma de ajudar é sendo voluntário.
Experimentem um dia ir lá e, quem sabe, se não irão ficar surpreendidos.
Quanto aos Rotários e para aqueles que dizem que é uma forma de se promoverem socialmente, também por lá não existem só Tios e Tias e, também a obra deles fala por si.
Engraçado que e só como exemplo, dou o Clube aonde a minha Irmã pertence, em que quase todas as semanas promovem acções e, nunca vi nada anunciado quer em jornais quer nas televisões. Devem andar distraídos.
Porque será que mete tanta comichão a algumas pessoas verem outras a ajudarem GENUNINAMENTE a troco de ... nada?.Será que é assim tão difícil acreditarem que felizmente ainda existem alguns que se preocupam com o próximo?
Defendeu-se e acusou-se sim, certas instituições que, sob o "escudo" da ajuda ao próximo, se promovem socialmente e/ou desviam o que é dado de boa vontade.
Critica-se o BA e quem está à frente dele mas, apesar do que de negativo possa acontecer (desvios), quer-me parecer que é uma obra que fala por si e que ajuda a mitigar a fome a muita gente.
Se acham que a pretensão de todas essas pessoas é a "promoção social" então lamento dizer-vos mas, entre os voluntários que ano após ano lá estão, encontram-se de todos os estractos ... desde a Tia à pessoa mais humilde mas que, apesar de tudo, sente que ainda existem outros em piores condições e cuja forma de ajudar é sendo voluntário.
Experimentem um dia ir lá e, quem sabe, se não irão ficar surpreendidos.
Quanto aos Rotários e para aqueles que dizem que é uma forma de se promoverem socialmente, também por lá não existem só Tios e Tias e, também a obra deles fala por si.
Engraçado que e só como exemplo, dou o Clube aonde a minha Irmã pertence, em que quase todas as semanas promovem acções e, nunca vi nada anunciado quer em jornais quer nas televisões. Devem andar distraídos.
Porque será que mete tanta comichão a algumas pessoas verem outras a ajudarem GENUNINAMENTE a troco de ... nada?.Será que é assim tão difícil acreditarem que felizmente ainda existem alguns que se preocupam com o próximo?
Resolver a pobreza do mundo? Tornar todos ricos? Mais vale encarar o mundo como é, não pode haver só ricos, tão básico como não pode haver só felicidade, só saúde, só alegria. Até na natureza se observam as "injustiças" da vida , uma matilha de lobos que prospera e outra a quem tudo de mal acontece. Justiça divina? Karma?
Por esta ordem de ideias, pobre não paga impostos, saúde, acede a tudo a preço de custo ou dado e o mundo inteiro passa a querer ser pobre.
Resolver a pobreza? Começa por não se achar que todos devemos ser ricos.
Por esta ordem de ideias, pobre não paga impostos, saúde, acede a tudo a preço de custo ou dado e o mundo inteiro passa a querer ser pobre.
Resolver a pobreza? Começa por não se achar que todos devemos ser ricos.
<p>"Se a tourada é cultura, canibalismo é gastronomia"</p>
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Há também os que têm capacidade de trabalho, lutaram e venceram e há também, os preguiçosos que acham que tudo lhes é devido. Qual Karma qual quê!
Se o vizinho do lado tem 3 casas, 10 automóveis, nunca teve um dia de férias, foi poupado, teve cabeça, não roubou ninguém, porque carga de água teria que me dar uma das casas e, pelo menos, 1 dos automóveis?
Se o vizinho do lado tem 3 casas, 10 automóveis, nunca teve um dia de férias, foi poupado, teve cabeça, não roubou ninguém, porque carga de água teria que me dar uma das casas e, pelo menos, 1 dos automóveis?
Tudo isso é muito subjectivo. Mas sinceramente, ainda não percebi bem o sentido do tópico. Devem os supermercados abdicar do lucro das vendas para o BA e o estado abdicar do IVA? Porquê?
<p>"Se a tourada é cultura, canibalismo é gastronomia"</p>
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Se abdicassem, davam directamente aos BA e não precisavam de estar as "tias" de saquinho na mão, nos supermercados, à espera do saquito de arroz e da boa vontade de quem dá.
Deveriam abdicar?
Mas a inteligente Floripes, que vê muito mais além, que todos nós, explicará melhor como se deveria fazer.
Deveriam abdicar?
Mas a inteligente Floripes, que vê muito mais além, que todos nós, explicará melhor como se deveria fazer.
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- Registado: segunda jan 30, 2012 12:58 pm
- Localização: os meus e os que estão de passagem
AQuartelmar Escreveu:Ainda bem que acabou o comunismo... tacanhismo brutal, só em Portugal se mantiveram os dinassauros mas mesmo esses estão a morrer.
o que é que isto tem a ver com o tópico?
e quem são esses «dinassauros»?
primos de alguém conhecido?
Ajude A Ajudar!
http://ospeludosdamelinha.blogspot.com/
só sei que nada sei
http://coisasparadizer.blogspot.com/
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só sei que nada sei
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Pronto, para rematar este assunto tão árduo e difícil de entender pelos profissionais da caridadezinha, aqui deixo um texto desse perigoso "dinassauro" comunista primário que é António Lobo Antunes.
Os Pobrezinhos
Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.
Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.
Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)
de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico
- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho
o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros
- O que é que o menino quer, esta gente é assim
e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse
- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar
e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.
Na minha ideia o padre Cruz e a Sãozinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.
Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.
Os Pobrezinhos
Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.
Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.
Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)
de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico
- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho
o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros
- O que é que o menino quer, esta gente é assim
e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse
- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar
e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.
Na minha ideia o padre Cruz e a Sãozinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.
Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.
Última edição por Floripes3 em domingo nov 18, 2012 1:40 am, editado 3 vezes no total.
<p>Olá, eu sou a... Floripes3 que já foi 2. :mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
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- Registado: segunda ago 13, 2012 6:13 am
Tem tudo a ver pesquebrados, os comunistas primários detestam ver as "tias" a ajudar os pobres, para elas, isso é uma perversão visto que somente oc comodistas primários sao pelo povo..por isso é que surgem esses ataques à isabel Jonet da parte do Pc e dos intelectuais de semi direita
A baralha que vai em algumas cabeças é engraçadissíma!
Os "primários" eram os anticomunistas de outros tempos. De "comodistas primários" nunca ouvi falar, mas pensando bem... Até que não está mal achado, não senhor.
Mas pronto, eu emendo o meu post anterior:
...para rematar este assunto tão árduo e difícil de entender pelos profissionais da caridadezinha, aqui deixo um texto desse perigoso "dinassauro" comunista primário que é António Lobo Antunes.
Os Pobrezinhos
Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.
Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.
Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)
de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico
- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho
o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros
- O que é que o menino quer, esta gente é assim
e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse
- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar
e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.
Na minha ideia o padre Cruz e a Sãozinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.
Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.
Os "primários" eram os anticomunistas de outros tempos. De "comodistas primários" nunca ouvi falar, mas pensando bem... Até que não está mal achado, não senhor.
Mas pronto, eu emendo o meu post anterior:
...para rematar este assunto tão árduo e difícil de entender pelos profissionais da caridadezinha, aqui deixo um texto desse perigoso "dinassauro" comunista primário que é António Lobo Antunes.
Os Pobrezinhos
Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.
Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.
Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)
de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico
- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho
o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros
- O que é que o menino quer, esta gente é assim
e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse
- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar
e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.
Na minha ideia o padre Cruz e a Sãozinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.
Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.
<p>Olá, eu sou a... Floripes3 que já foi 2. :mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>