Como alguns sabiam, o meu Pai encontrava-se gravemente doente. Aliás, ele era uma pessoa bastante doente e, desde há dois meses que o seu estado de saúde agravou-se substancialmente.
Não vale a pena entrar em pormenores pois seriam demasiado vastos e técnicos.
Na 3ª entrou em coma e estado terminal. Fomos chamadas de emergência e, contra tudo e todos, foi um valente e mesmo assim, assim conseguiu lutar até ontem.
Partiu rodeado pela Família e, a única consolação que nos resta é que não chegou a sofrer pois o diagnóstico era terrível e nada havia a fazer.
Prestei-lhe uma singela homenagem, escrevendo uma cartinha que foi lida hoje após a missa de corpo presente que gostaria de partilhar convosco.
Aqui fica:
Até já querido Pai,
Pode não ter sido o Marido e Pai perfeito mas, afinal qual de nós é que é perfeito?
Certamente que também não fui a Filha perfeita mas, fui a Filha que sempre o acompanhou nos bons e maus momentos e que daria a vida por si sem pensar duas vezes.
Pode não ter estado muito presente mas, os valores que nos transmitiu, esses sim, foram, são e serão permanentes.
Ensinou-me o significado das palavras LEALDADE, HONESTIDADE, INTEGRIDADE, SOLIDARIEDADE.
Transmitiu-me o seu enorme amor pelos animais e a prova disso está nos meus 3 grandes cãopanheiros que partilham o meu dia-a-dia.
As memórias passam-me diante dos olhos como estivesse a ver um filme, só que este é um filme que não se pode rebobinar. Foram momentos vividos uns bons, outros maus mas, foram todos eles que me tornaram na mulher que sou hoje: a sua Pé como tanto gostava de me chamar.
Aprendi a fazer camas na “ponta da unha” depois de tantas e tantas vezes me ter obrigado a desfazer a minha até ela estar perfeita.
Tentou transmitir-nos a sua vastíssima cultura geral. Era a pessoa mais culta que conheci até hoje e, desculpe se não consegui absorver tudo mas, muita coisa cá ficou.
Conheci museus, monumentos, castelos, tudo através de si. Obrigada por me ter ensinado um pouco da nossa grandiosa história.
O Pai sempre foi um utópico, um sonhador ... o sonho comandou a sua vida e, tal como António Gedeão dizia: O sonho comanda a vida como uma bola colorida nas mãos duma criança.
Por se sempre ter guiado por ideais e não por interesses próprios foi muitas vezes incompreendido e ostracizado mas, a todos aqueles que o votaram ao desprezo, o nosso muito obrigada pois sobrou mais Pai, mais Marido para a Família.
Obrigada por não ter desistido do seu sonho de um dia sermos LIVRES ...
Hoje poucos ligam ao significado da palavra LIBERDADE mas, para mim, é uma das palavras mais belas da nossa língua.
Tinha tanto para lhe dizer mas, chegou a hora de lhe dizer ADEUS e até já. Sim, porque quero acreditar que havemos de nos reencontrar e continuar algures o que ficou a meio cá na terra.
Obrigada meu querido Pai por ter sido quem foi. Obrigada por ter sido o meu Pai.
Obrigada por nos ter dado a LIBERDADE
Obrigada por tudo meu AMOR. ADORO-O e até sempre.
Um beijinho enorme da sua filha Pé
ATÉ JÁ QUERIDO PAI ...
Bonita homenagem, os meus sentimentos...
"He is your friend, your partner, your defender, your dog. You are his life, his love, his leader. He will be yours, faithful and true, to the last beat of his heart. You owe it to him to be worthy of such devotion."
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Manela, obrigada por ter partilhado connosco esta linda e sentida homenagem ao seu pai. Ele continua vivo através de vós, na vossa lembrança e naquilo que vos legou, e oxalá um dia se possam reencontrar.
Um abraço muito, muito apertado. E, quando sentir vontade, regresse à Arca, esta comunidade de pessoas, muitas das quais não se conhecem, mas que acabam por, de certa forma, constituir uma família que sorri com os momentos de felicidade dos outros e compartilha também um sentimento de tristeza nos momentos menos bons. Faz cá falta, ficamos à espera.
Um abraço muito, muito apertado. E, quando sentir vontade, regresse à Arca, esta comunidade de pessoas, muitas das quais não se conhecem, mas que acabam por, de certa forma, constituir uma família que sorri com os momentos de felicidade dos outros e compartilha também um sentimento de tristeza nos momentos menos bons. Faz cá falta, ficamos à espera.
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke