Formas de tratamento e cortesia nas relações interpessoais
Enviado: domingo nov 15, 2009 1:20 pm
Saudações.
A dado passo, surgiu no tópico dos dois cães de Viseu no subfórum dos Animais para Adopção (http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=72581) a questão das formas de tratamento mais ou menos corteses, noemadamente a utilização do "você".
Por me parecer muito pertinente resolvi abrir este tópico. Acharia interessante alargarmos esta discussão a outros assuntos conexos, como a cortesia que devemos utilizar em geral nas nossas relações com os outros e também nos nossos debates aqui no Fórum.
O pronome pessoal "você" tem muitas formas de utilização. Algumas são correctas, outras não, dependendo do contexto ou da região. A mim sempre me ensinaram que não se deve utilizar o "você" quando estou a falar directamente com outra pessoa, sobretudo se não tenho intimidade com ela, porque é má educação. Sigo essa regra e substituo o "você" por outras formas de tratamento. Por exemplo:
"A senhora dá-me licença que passe?" em vez de "Você dá-me licença que passe?"
"Não acho que o XXX tenha razão" em vez de "Não acho que você tenha razão"
No entanto, já digo aos meus amigos:
"Vocês também vão ao cinema?"
A este respeito permito-me citar, com a devida vénia, uma entrada do "site" Ciberdúvidas com o título "A utilização do pronome pessoal você":
"[Pergunta] A minha questão é simples: [em Portugal] a utilização do pronome pessoal você por um aluno dirigindo-se a um professor revela falta de educação, «é feio»? Por exemplo, na frase «Você pode-me explicar novamente o trabalho?» ou «Professora, você pode chegar aqui?».
A minha pergunta deve-se ao facto de observar grande parte dos meus colegas incomodados quando tratados dessa forma e, sinceramente, não vejo razões para isso.
Provavelmente, por ter vivido muito tempo no estrangeiro, onde tirei o meu curso superior... Contudo, verifico que na televisão o uso deste pronome surge com muita frequência em debates, por exemplo, em que o entrevistador (Judite de Sousa) trata por "você" os seus entrevistados."
[Resposta] É bem verdade que, apesar de ser frequentemente usada hoje em dia em Portugal, a forma de tratamento você gera reacções contraditórias, porque tem interpretações distintas. Aliás, é sintomático o modo como a expressão que está na sua origem, vossa mercê, é definida no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa: «forma de tratamento dada às pessoas que não tinham direito a senhoria; forma de tratamento de cortesia dado [sic] a pessoas de cerimónia».
Ora, por um lado, certas pessoas usam-na para interpelar cerimoniosamente alguém que desconhecem ou que conhecem mal (para evitar tratar essas pessoas por tu) e também para se dirigirem a alguém a quem devem respeito, por exemplo os pais (ex.: «Mãe, você quer ir comigo?»). É nesse sentido que muitos alunos se dirigem aos professores usando o pronome você, a maior parte das vezes porque, no respectivo seio familiar, aprenderam que essa era a forma mais adequada para tratarem alguém com cerimónia.
Por outro lado, há quem não aceite ser interpelado por meio do pronome você, que está associado, como atestam os dicionários, ao tratamento de pessoas «de igual para igual ou de superior para inferior, a nível social, hierárquico ou etário» (Dic. da Academia das Ciências de Lisboa). Para quem encara o tratamento por você como uma falta de respeito para com a pessoa desconhecida (ou hierarquicamente superior) que se pretende interpelar, este pronome implica demasiada confiança e deveria ser substituído por «o/a senhor(a)», «o/a chefe/patrão, etc.» ou, no contexto escolar, «o/a professor(a)».
Tendo em conta as contradições aqui expostas e evidenciadas na própria pergunta (o professor diz ao aluno que usar você é grosseiro, mas este, em casa, ouve a entrevistadora interpelar uma pessoa importante usando você), sugiro que haja compreensão e alguma brandura na eventual condenação desse tratamento por parte de alunos para com os professores."
Fico a aguardar os vossos contributos.
A dado passo, surgiu no tópico dos dois cães de Viseu no subfórum dos Animais para Adopção (http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=72581) a questão das formas de tratamento mais ou menos corteses, noemadamente a utilização do "você".
Por me parecer muito pertinente resolvi abrir este tópico. Acharia interessante alargarmos esta discussão a outros assuntos conexos, como a cortesia que devemos utilizar em geral nas nossas relações com os outros e também nos nossos debates aqui no Fórum.
O pronome pessoal "você" tem muitas formas de utilização. Algumas são correctas, outras não, dependendo do contexto ou da região. A mim sempre me ensinaram que não se deve utilizar o "você" quando estou a falar directamente com outra pessoa, sobretudo se não tenho intimidade com ela, porque é má educação. Sigo essa regra e substituo o "você" por outras formas de tratamento. Por exemplo:
"A senhora dá-me licença que passe?" em vez de "Você dá-me licença que passe?"
"Não acho que o XXX tenha razão" em vez de "Não acho que você tenha razão"
No entanto, já digo aos meus amigos:
"Vocês também vão ao cinema?"
A este respeito permito-me citar, com a devida vénia, uma entrada do "site" Ciberdúvidas com o título "A utilização do pronome pessoal você":
"[Pergunta] A minha questão é simples: [em Portugal] a utilização do pronome pessoal você por um aluno dirigindo-se a um professor revela falta de educação, «é feio»? Por exemplo, na frase «Você pode-me explicar novamente o trabalho?» ou «Professora, você pode chegar aqui?».
A minha pergunta deve-se ao facto de observar grande parte dos meus colegas incomodados quando tratados dessa forma e, sinceramente, não vejo razões para isso.
Provavelmente, por ter vivido muito tempo no estrangeiro, onde tirei o meu curso superior... Contudo, verifico que na televisão o uso deste pronome surge com muita frequência em debates, por exemplo, em que o entrevistador (Judite de Sousa) trata por "você" os seus entrevistados."
[Resposta] É bem verdade que, apesar de ser frequentemente usada hoje em dia em Portugal, a forma de tratamento você gera reacções contraditórias, porque tem interpretações distintas. Aliás, é sintomático o modo como a expressão que está na sua origem, vossa mercê, é definida no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa: «forma de tratamento dada às pessoas que não tinham direito a senhoria; forma de tratamento de cortesia dado [sic] a pessoas de cerimónia».
Ora, por um lado, certas pessoas usam-na para interpelar cerimoniosamente alguém que desconhecem ou que conhecem mal (para evitar tratar essas pessoas por tu) e também para se dirigirem a alguém a quem devem respeito, por exemplo os pais (ex.: «Mãe, você quer ir comigo?»). É nesse sentido que muitos alunos se dirigem aos professores usando o pronome você, a maior parte das vezes porque, no respectivo seio familiar, aprenderam que essa era a forma mais adequada para tratarem alguém com cerimónia.
Por outro lado, há quem não aceite ser interpelado por meio do pronome você, que está associado, como atestam os dicionários, ao tratamento de pessoas «de igual para igual ou de superior para inferior, a nível social, hierárquico ou etário» (Dic. da Academia das Ciências de Lisboa). Para quem encara o tratamento por você como uma falta de respeito para com a pessoa desconhecida (ou hierarquicamente superior) que se pretende interpelar, este pronome implica demasiada confiança e deveria ser substituído por «o/a senhor(a)», «o/a chefe/patrão, etc.» ou, no contexto escolar, «o/a professor(a)».
Tendo em conta as contradições aqui expostas e evidenciadas na própria pergunta (o professor diz ao aluno que usar você é grosseiro, mas este, em casa, ouve a entrevistadora interpelar uma pessoa importante usando você), sugiro que haja compreensão e alguma brandura na eventual condenação desse tratamento por parte de alunos para com os professores."
Fico a aguardar os vossos contributos.