No dia 25 de Abril tinha eu 12 anos (iria fazer 13 em Maio), acordei com uma enorme "gritaria" lá em casa pois a minha irmã mais velha tinha acordado às 8H30 e estava furiosa por não a terem acordado para ir para as aulas..
Eu acordei (pudéra não

) e fui ter à sala, onde estavam as minhas 3 irmãs, a minha Mãe e a nossa vizinha ... a mandar vir com elas todas.
Lá me explicaram que havia uma revolução e a berraria continuou connosco aos pulos.
Quando a minha vizinha saíu, a minha Mãe disse que precisava de falar connosco pois tinha algo de muito grave para nos contar.
Explicou-nos que o nosso Pai estava no Posto de Comando da Pontinha que era o centro das operações e que, se tudo corresse bem, brevemente o iriamos ver. Caso desse para o torto, ele e os outros seriam presos e ... passaríamos a ir visitá-lo à prisão.
Acho que foi o dia mais longo da minha vida. Tinhamos rádios ligados em todas as divisões ... casas-de-banho incluídas.
Quando ao fim do dia ouvimos as notícias de que a revolução tinha "vingado" ... foi um dos dias mais felizes da minha vida. Eram pulos, abraços, beijos... e muitas lágrimas de felicidade.
Ao contrário do que reza a "história" não foi o Otelo Saraiva de Carvalho o último a sair do Posto de Comando, mas sim o meu Pai. Só o voltámos a ver no dia 27 à noite quando apareceu em casa fardado, com uma "espingarda" na mão ... com as balas no bolso.

Vinha dormir umas horitas pois tinha de estar na Cova da Moura (para onde foram transferidas as operações) à meia-noite.
Ainda hoje quando oiço "E Depois do Adeus" e "Grândola Vila Morena" fico cheia de arrepios e com os olhos rasos de lágrimas.
Hoje cá estou na Costa da Caparica, onde vim passar a Páscoa e fico por aqui até amanhã ... para comemorar o 25 de Abril com o meu Pai e tentar animá-lo um pouco pois hoje é uma pessoa muito doente, debilitado e ... muito desiludido com o rumo que os acontecimentos levaram.
Não estou de forma alguma em campanha eleitoral ... mas, se existe pessoa que lutou para nos dar a liberdade, sem pretensões a tachos, promoções ou benesses foi ele. Lutou por acreditar que seria possível um mundo melhor e mais justo. Em 75 pediu a demissão dos cargos que ocupava assim como a passagem à reserva, pois achou que não tinha sido para o tipo de extremismos que sucederam, que tinha feito uma Revolução.
