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Ó... ó... ó forista, onde é que estava no 25 de Abril?
Enviado: domingo abr 24, 2011 8:38 pm
por Tassebem
Parafraseando estes saudosos sketches do Herman José, e com a devida vénia:
http://www.youtube.com/watch?v=6OBBPz7B ... 4241112069
Pois eu tinha 16 aninhos acabados de fazer e vivia em Lisboa, como ainda hoje.
A minha avó, em vez de me acordar para comer as sopas de leite (com Nesquik, que saudades; lá está uma das aplicações do pão duro

) e ir para o liceu, como de costume, acordou-me em grande excitação para eu ir ouvir a telefonia. Parece que há outra intentona, dizia ela (o 16 de Março tinha sido há um mês e pouco).
A minha consciência política, na altura, limitava-se a algumas acções do MAESL no liceu, a comprar uns discos e livros proibidos, a ir ver o «Couraçado Potemkine» a Económicas e fugir quando alguém gritava «Vem aí a PIDE!», mas, há que dizê-lo com frontalidade, ainda percebia muito poucochinho da situação política e do que realmente estava em jogo naquele dia.
Como diziam na rádio para mantermos a serenidade e permanecermos em casa, e como a minha avó não me deixou sair, lá ficámos as duas em casa, de orelhas coladas à telefonia, acompanhando os comunicados com ansiedade e expectativa.
Mau mesmo foi a minha avó não me deixar ir ao primeiro 1.º de Maio. Ainda por cima, eu morava numa transversal da Alameda...

Ouvia o barulho, via o movimento... Mas a minha avó tinha medo que pusessem bombas. Demorei algum tempo a perdoar-lhe isso, e quando me lembro ainda fico na dúvida...
Enviado: domingo abr 24, 2011 8:57 pm
por Chamarrita
Eu tinha 3 anos e meio, e estava a dormir com a minha madrinha, que teria a idade da Tassebem ou talvez fosse um pouco mais velha. Não me lembro de nada. Mas!!!!! FUI À MANIFESTAÇÃO, na avenida ao lado do Parque, em Coimbra, e lembro-me bem de ir sempre às cavalitas de alguém, e de ver toda a gente a gritar e a levantar os braços. Gostei!

Enviado: domingo abr 24, 2011 9:44 pm
por LuluB
Eu tinha 33 anos e trabalhava como revisora no jornal República. No 16 de Março tinha-me renascido a esperança de uma mudança, mas o fracasso desse golpe deixou-me frustrada e deprimida.
Fui acordada à uma da manhã, a mandarem-me ir para o jornal imediatamente, pois "estava uma revolução na rua" e era preciso pôr o jornal nas bancas quanto antes.
Assim fiz, e por entre revisões apressadas de linguados impressos e fugidas até às ruas próximas, assisti a muito do que se passou nas imediações: ao assalto à Censura, que ficava algumas portas abaixo (e no qual participou um sobrinho meu, adolescente na época), estremeci com o som das rajadas disparadas pelo Salgueiro Maia contra as paredes do quartel do Carmo, assisti à captura e acosso de alguns agentes da PIDE no Largo da Misericórdia, ao percorrer das Chaimites e blindados pela Baixa...
...e às quatro da tarde, depois de sair das máquinas o primeiro jornal que ostentava orgulhosamente uma faixa na primeira página dizendo "Este jornal não foi visado pela Comissão de Censura", larguei tudo e fui de vez para as ruas.
Enviado: domingo abr 24, 2011 9:53 pm
por LuluB
O Primeiro de Maio foi o culminar de uma festa que já durava havia uma semana. Ainda tentei participar no desfile, com o meu filho e o meu pai, mas era impossível andar, tal era a multidão e o aperto.
Logo perdi o meu pai de vista, e acabei por desistir de continuar ali, onde só nos cansaríamos. Comecei a tentar sair em direcção a casa, mas sen grande sucesso, não se conseguia furar por entre a multidão que bloqueava carros e ruas. Felizmente, dei de caras com o carro do meu chefe de Redacção, o saudoso Vítor Direito, que nos fez entrar: de qualquer maneira, não conseguiríamos andar, e sempre estávamos melhor lá dentro, sentados, do que aos encontrões ali fora.
Lá conseguimos chegar a casa a meio da tarde, e vimos tudo na televisão. Nunca mais teremos um dia como aquele.
Enviado: domingo abr 24, 2011 9:56 pm
por Arguida
No dia 25 de Abril tinha eu 12 anos (iria fazer 13 em Maio), acordei com uma enorme "gritaria" lá em casa pois a minha irmã mais velha tinha acordado às 8H30 e estava furiosa por não a terem acordado para ir para as aulas..
Eu acordei (pudéra não

) e fui ter à sala, onde estavam as minhas 3 irmãs, a minha Mãe e a nossa vizinha ... a mandar vir com elas todas.
Lá me explicaram que havia uma revolução e a berraria continuou connosco aos pulos.
Quando a minha vizinha saíu, a minha Mãe disse que precisava de falar connosco pois tinha algo de muito grave para nos contar.
Explicou-nos que o nosso Pai estava no Posto de Comando da Pontinha que era o centro das operações e que, se tudo corresse bem, brevemente o iriamos ver. Caso desse para o torto, ele e os outros seriam presos e ... passaríamos a ir visitá-lo à prisão.
Acho que foi o dia mais longo da minha vida. Tinhamos rádios ligados em todas as divisões ... casas-de-banho incluídas.
Quando ao fim do dia ouvimos as notícias de que a revolução tinha "vingado" ... foi um dos dias mais felizes da minha vida. Eram pulos, abraços, beijos... e muitas lágrimas de felicidade.
Ao contrário do que reza a "história" não foi o Otelo Saraiva de Carvalho o último a sair do Posto de Comando, mas sim o meu Pai. Só o voltámos a ver no dia 27 à noite quando apareceu em casa fardado, com uma "espingarda" na mão ... com as balas no bolso.

Vinha dormir umas horitas pois tinha de estar na Cova da Moura (para onde foram transferidas as operações) à meia-noite.
Ainda hoje quando oiço "E Depois do Adeus" e "Grândola Vila Morena" fico cheia de arrepios e com os olhos rasos de lágrimas.
Hoje cá estou na Costa da Caparica, onde vim passar a Páscoa e fico por aqui até amanhã ... para comemorar o 25 de Abril com o meu Pai e tentar animá-lo um pouco pois hoje é uma pessoa muito doente, debilitado e ... muito desiludido com o rumo que os acontecimentos levaram.
Não estou de forma alguma em campanha eleitoral ... mas, se existe pessoa que lutou para nos dar a liberdade, sem pretensões a tachos, promoções ou benesses foi ele. Lutou por acreditar que seria possível um mundo melhor e mais justo. Em 75 pediu a demissão dos cargos que ocupava assim como a passagem à reserva, pois achou que não tinha sido para o tipo de extremismos que sucederam, que tinha feito uma Revolução.

Enviado: domingo abr 24, 2011 10:08 pm
por marianamar
Eu não era nascida, com grande pena... e um pouquinho de inveja dos foristas com histórias tão lindas para contar!...
Mas não esquecerei nem abdico de tudo o que a geração do 25 de Abril conquistou para todos nós. Se não fosse pela revolução... nem poderia dizer com orgulho que sou portuguesa. Nem mulher, que ser mulher era uma coisa muito triste.
Vejo com muita pena que os valores de Abril são cada vez mais esquecidos... principalmente agora. Não somos proibidos de agir, mas somos manipulados. Os direitos conquistados são "anulados" tendo por desculpa a crise. As pessoas queixam-se, mas encolhem os braços, vão indo na corrente...
Amanhã vai haver manif/festa na rua, um pouco por todo o país.
Lisboa, Porto e muitas localidades, eu vou estar em Coimbra, que o gasóleo não dá pra mais... Venham connosco para a rua lembrar aos governantes que o povo ainda não esqueceu o 25 de Abril

Enviado: domingo abr 24, 2011 11:50 pm
por cockinhas
marianamar Escreveu:Eu não era nascida, com grande pena... e um pouquinho de inveja dos foristas com histórias tão lindas para contar!...
Mas não esquecerei nem abdico de tudo o que a geração do 25 de Abril conquistou para todos nós. Se não fosse pela revolução... nem poderia dizer com orgulho que sou portuguesa. Nem mulher, que ser mulher era uma coisa muito triste.
Vejo com muita pena que os valores de Abril são cada vez mais esquecidos... principalmente agora. Não somos proibidos de agir, mas somos manipulados. Os direitos conquistados são "anulados" tendo por desculpa a crise. As pessoas queixam-se, mas encolhem os braços, vão indo na corrente...
Amanhã vai haver manif/festa na rua, um pouco por todo o país.
Lisboa, Porto e muitas localidades, eu vou estar em Coimbra, que o gasóleo não dá pra mais... Venham connosco para a rua lembrar aos governantes que o povo ainda não esqueceu o 25 de Abril

Gostei de ler este post

.
Eu tinha dez anos e na minha família a consciência política era zero. Uma das coisas que melhor recordo desse dia é que ninguém me conseguia explicar o que era esse tal de "fascismo" de que toda a gente falava e porque é que não devia ter medo dos militares de espingarda a cada esquina.
Ainda hoje penso que, se não tivesse sido o 25 de Abril o mais certo era eu não ter podido estudar, limitando assim enormemente as oportunidades de escolha na vida.
Enviado: domingo abr 24, 2011 11:59 pm
por dinodane
Eu era muito nova... tinha apenas 3 anos.
Enviado: segunda abr 25, 2011 12:20 am
por AnaCamacho
Pois eu estava a quase a fazer 4 anos (faço a 29 Abril) e lembro-me da minha mãe me colocar em cima de uma cadeira no quarto dela e me calçar umas pantufas e dizer-me “ Estou-te a calçar estas pantufas para poderes correr melhor, porque se acontecer alguma coisa tu foge”.
O meu pai tinha-nos deixado as duas sozinhas e tinha ido para Lisboa para participar no 25 de Abril.
Sei que aquilo me marcou muito, porque nos anos seguintes em dias que por algum motivo de manhã lançavam foguetes, eu lembro-me de ainda estar deitada no meu quarto e pensar que eram tiros e ficava com muito medo e pedia baixinho que não entrassem no meu prédio.
Este meu medo durou alguns anos até que um dia eu ganhei coragem e abrir a persiana do meu quarto e foi quando percebi que aquilo não era tiros mas sim foguetes.
Enviado: segunda abr 25, 2011 2:31 am
por jofelix
Para desanuviar o ambiente, mas que demonstra a época...
No dia 24 de Abril, andava no 1º ano do liceu, que era unissexo.
No dia 25 de Abril, andava no 1º ano do liceu, que era misto.
A minha primeira conquista.
Um abraço
P.S. Off topic: Pensava eu que a LuluB tinha a minha idade, talvez um pouco menos, e afinal... mas olhe que está muito bem conservada, parabéns.

Enviado: segunda abr 25, 2011 8:27 am
por Arguida
jofelix Escreveu:Para desanuviar o ambiente, mas que demonstra a época...
No dia 24 de Abril, andava no 1º ano do liceu, que era unissexo.
No dia 25 de Abril, andava no 1º ano do liceu, que era misto.
A minha primeira conquista.
Um abraço
P.S. Off topic: Pensava eu que a LuluB tinha a minha idade, talvez um pouco menos, e afinal... mas olhe que está muito bem conservada, parabéns.

Jobelix ... ADOREI o post que é extremamente elucidativo do antes e do depois.

Enviado: segunda abr 25, 2011 11:48 am
por mar72
eu não estava... ainda não era nascida...
adorei ler todos estes posts e ver q as coisas mais pequeninas vos marcaram e mostram bem o q significou este dia...
obrigada pela partilha
Enviado: segunda abr 25, 2011 1:41 pm
por colette
Pois eu, no dia 25 de Abril, estava em Luanda.
Olhei para o meu marido e disse: prepara-te. Vamos ter que nos ir embora. E foi o que fizemos. Primeiro, trouxe o meu filho mais velho, já com seis anos, em Junho, para ficar com os tios-avós e a avó paterna. Depois, no Natal, trouxemos os bebés. Em Janeiro de 75, veio o meu marido.
A última fui eu, em Fevereiro. Todos com uma mão atrás e outra à frente.
Enviado: segunda abr 25, 2011 1:52 pm
por mjoaocunha
Eu tinha 15 anos, vivia em Cabinda, foi um dia normal e à tarde qdo o meu Tio nos veio buscar a casa para o passeio q sempre fazíamos disse ter ouvido na rádio ter acontecido qq manifestação na Metrópole.
Foi a 1ª coisa q ouvi sobre o 25 de Abril, não liguei, passado pouco tempo tinha a minha vida virada ao contrário e vim para Portugal em Agosto de 1975 com a minha Avó.
PS. Engraçdo este tópico, até q acabamos por saber as idades umas das outras.

Enviado: segunda abr 25, 2011 2:11 pm
por Terugkeren
Quando as pessoas que fizeram a revolução se mostram desiludidas, e que inclusivamente o Otelo diz que se soubesse o que sabe hoje tinha ficado quietinho, não sei até que ponto o 25 de Abril foi uma Vitória. O antigo regime não era extraterreste e nem sequer estrangeiros. Eram portugueses como todos nós, os mesmos que cá estamos no rectângulo à Beira Mal Plantado. Se eramos mal governados antes, naturalmente continuámos a ser mal governados depois. Aliás, continuamos a govrnar-nos mal. As coisas continuaram todas a acontecer, apenas mudaram os nomes, as táticas e a forma de manipular. Os portugueses continuam a ser os mesmos.
Se melhoraram muitas coisas? É claro que melhoraram, desde Abril de 74 e desde Abril de 75 e desde Abril de 76 e desde Abril de 77...é natural que as coisas melhorem. Não sei se resultaram do 25 de Abril de 74 ou de resultaram da própria mudança dos tempos. Se não tivesse existido o 25 de Abril de 74, acham mesmo que estariamos iguais a 1974 em termos sociais, politicos e económicos?