Este não era o motivo pela qual eu deveria começar a escrever num fórum, mas este foi o local onde eu imagino que seja o mais adequado para colocar o meu post. Penso que aqui, todos estarão mais receptivos a palavras de dor e a lágrimas que sejam derramadas por um amiguinho de quatro patas.
Faz agora 24 horas e aos poucos eu vou sentindo necessidade de me mexer! 24 horas de dor, de solidão, de amargura e de pura prostação. Sinto-me perdida... não sei o que fazer... a casa está vazia... a almofada na cadeira continua com a marca do teu corpinho, mas tu já não estás lá! Olho e espero ver-te aparecer com aquela lentidão dos velhinhos de 12 anos... mas não vens! Eu sei que não vens, mas gostava de poder acreditar que isso seria possivel!
Lágrimas... é só o que eu tenho como companhia desde ontem! E recordações... boas recordações, mas que fazem doer!
Ainda me lembro, do dia em que te recolhi... no quintal de uma amiga, uma gatinha tinha deixado 2 crias... um macho e uma fêmea... chovia tanto, tanto que além do barulho da chuva, só se ouvia o vosso chorar! Encharcados até aos ossos, chamavam pela mamã gata, que não aparecia... fiquei tão nervosa, que nunca mais consegui prestar atenção às conversas que havia na sala, e a minha atenção estava toda lá fora, na rua... espreitava pela janela a cada 10 segundos e vocês lá estavam! Parecia uma eternidade, mas não foi... e eu não resisti mais e fui buscá-los! Ainda tinham o cordão umbilical e estavam tão frios que eu temi pela vossa vida! Enrolei-vos num casaco e fui para casa... contra todas as expectativas e sem dar ouvidos às criticas dos meus amigos que não entendiam o motivo de eu levar logo 2 gatos, que não íam sobreviver...
Quando cheguei a casa, vocês tinham adormecido, embalados pelo calor do meu corpo enroladinhos naquele casaco. Eu não tinha nada para vos dar... nem experiência!
Apenas amor...
Fui a uma loja de animais e perguntei o que podia fazer... o casal de idade que lá estava não sabia nada dessas coisas de que se fala hoje, sobre leite de substituição... e apenas me disseram para vos manter quentinhos e dar leite de vaca diluido com água, para não ser muito forte! Foi o que fiz... Vocês resistiram à primeira noite, aconchegados no meu corpo, dormiram na minha cama... e eu velei toda a noite... e foi assim durante muito tempo! A minha cama, era a vossa cama... eu o vosso aconchego e vocês a luz da minha vida!
Fui sempre uma pessoa solitária... nunca tive muitos amigos... sempre vivi também um pouco isolada da familia... por isso vocês eram a minha alegria!
No primeiro ano, houve uma morte na familia e eu fui obrigada a deslocar-me à provincia para o funeral, fiquei lá 2 dias... e vocês ficaram em casa onde um vizinha trataria de vos pôr comida e água. O meu coração andava apertado e eu confusa com esse sentimento, atribui apenas ao facto da morte do familiar. Quando cheguei a casa, e meti a chave à porta... tive uma sensação enorme de perda e senti que algo estava errado!
Vocês não vieram... chamei e o silêncio foi a minha resposta! Corri escada abaixo e a vizinha, muito atrapalhada não tinha palavras para me explicar que vocês tinham desaparecido! Nem como tinham desaparecido... apenas me dizia que a casa cheirava a xixi de gato e que ela tinha aberto um bocadinho a janela...

Fechei-me em casa... perdida num mundo de sentimentos contraditórios, sem saber o que fazer nem a quem me dirigir... ninguém me ía entender... uma parva que chorava por dois gatos!!!
Abri a porta das traseiras, já noite e olhei para a escuridão! havia obras por ali... areal imenso e maquinas pesadas... o luar e uma lâmpada eram as únicas iluminações que se viam... apeteceu-me gritar e chamei por vós!
Tareco! e Maria!
Um miado longínquo... respondeu ao meu grito e eu chamei de novo! Não podia estar enganada... eram vocês! Continuei a chamar e aos poucos o som foi ficando mais próximo e eu consegui ver um vulto que se aproximava! Era o meu Tareco... entraste em casa sujo e faminto... mal tratado e ferido... mas voltaste! A gatinha Maria, nunca mais foi vista... no dia seguinte fui às obras e perguntei se a tinham visto mas nada! Durante muitos dias procurei por ela... em vão!
Mas tu, meu gatinho voltaste e durante 12 anos foste o meu companheiro! Tímido e recatado como eu... isolados no nosso mundo... eu casei e tu não perdoaste a intrusão de outro alguém no nosso lar! Nunca aceitaste aquele outro ser na tua vida... apenas o toleravas, talvez por sentires que ele fazia parte da minha! Ao fim de 11 anos voltamos a ficar os dois sozinhos, e com o meu divorcio tu renasceste! Voltaste a dormir na minha cama e a andar sempre atrás de mim... velhinho mas feliz!
Ontem... partiste! Deixaste-me sozinha nesta vida incerta... acompanhei os teus últimos meses de desalento... comecei por te ver perder o brilho, os olhinhos ficaram mortiços e havia um misto de despedida, no miar rouco que me davas... no vet, reagiste com agressividade, nunca gostaste daqueles cheiros e viravas uma fera... felizmente nunca precisaste muito de lá ir, até há 3 dias atrás! Fizeram análises e foram o pior... os rins... o figado... tudo estava tão mau, que a vet disse, que não sabia como ainda estavas vivo!
De repente, surgiu com a ideia de te pôr a dormir... não aceitei! Fugi dali contigo nos braços, nem me lembrei da transportadora! E entrámos em casa cansados e esgotados!
No dia seguinte estavas pior... mal andavas e ao limpar a tua caixinha vi sangue! Sangue pastoso... nas fezes... na urina... pingando pelo chão... chorámos os dois... tu de dor e eu de impotência...
Fui sózinha à vet e ela lá me deu medicação para te aliviar a dôr... mas avisou que ías sofrer e que o melhor era aliviar-te o sofrimento... mas eu não consegui entender isso!
Tratei de ti até ontem... aliviei-te o melhor que consegui, mas ontem percebi que já estavas em sofrimento... deitei-me ao teu lado, pus a tua cabecinha no meu braço, como tu tanto gostavas e olhei-te nos olhos! E vi... uma lágrima! Não sei se era tua, se era minha... mas ela molhou o meu braço e percebi que tinhas que partir!
Ao meu chamamento a Dra. veio... e no meu braço tu adormeceste para sempre... em silêncio! Ficámos assim... não sei quanto tempo, até que te vi partir!
Hoje... o vazio é tão grande que eu não sei o que fazer com ele...
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Peço desculpa, se este não é o local mais indicado para prestar homenagem a um amigo de 4 patas... mas eu precisava tanto de o fazer... em qualquer lado!!!
Carolina.