eu conheci a égua da minha vida quando estudava na esocla profissional de desenvolvimento rural de Abrantes. estava no curso técnico de gestão equina, logo, precisava de um cavalo.
fui com o meu pai e a minha prima a Foros de Salvaterra, a um senhor que tinha cavalos para venda, aí deparei-me com a minha égua, aquela que se ia tornar a minha grande paixão, uma das minhas melhores amigas! a minha Omega...
Aqui vai o texto que escrevi na altura da despedida...
Carta aberta a um cavalo...
apetece-me escrever qualquer coisa, uma carta de despedida, um texto onda possa dizer o quanto te adoro e as saudades que tenho de ti... voltarei a ver-te? voltarei a encostar a cabeça ao teu pescoço e abraçar-te como se abraça um amigo?
não sei, mas algo me diz que não...
há imagens, cenas que me tenho vindo a lembrar de toda a nossa história juntas, desde o primeiro dia em que nos encontrámos e trocámos um olhar cheio de dúvidas! lembras-te desse dia? quando cheguei á tua baia torci o nariz, eras tão feia!! magrinha, ossos do flanco espetados, garupa descaida, pescoço fininho.... mas depois levantaste a cabeça e olhaste para trás, e aí apaixonei me pelo par de olhos que me olhavam com ar desconfiado!!
disse logo que ficava ctg, já não podia pensar em ser dona ou procurar outro cavalo!
passados dois dias foste-me entregue na escola. tinhas uma feridinha de nada no pescoço (provavelmente do transporte) mas que foi tratada com todo o cuidado. Tinha reservado essa tarde para te instalar numa boxe com metro e meio de aparas e quase um fardo de palha. passei horas contigo, a olhar-te, a fazer te festas, a passear ctg á mão, sem acreditar que finalmente tinha um cavalo meu, uma égua que eu sabia que ia ser fantástica!!
o tempo passou, começámos a evoluir juntas, lembras te dessa altura? aula sim, aula sim mandavas-me ao chão. saías ás cangochas pelo picadeiro fora e lá ia eu direita ao chão!!
assustavas-te com tudo... quer fosse uma pessoa que se mexesse mais depressa, quer fosse um passarinho que levantasse voo á tua frente, quer fosse uma folha de papel ou um saco de plástico a esvoaçar empurrado pelo vento! Mas o teu maior pavor eram os camiões, pavor esse que nunca superaste. tremias que nem varas verdes quando vias um camião ao longe, recusavas te a aproximar deles mesmo que estivessem desligados. uma dessas vezes saiste comigo á carga pelo meio do campo e fomos as duas parar dentro de água!!
mas mais importante que estarmos a evoluir (tu estavas mais musculada, mais bonita, mais bem tratada, mais obediente e eu estava com mais confiança a montar-te, a minha posição a cavalo estava muito melhor, estava muito mais segura. sentia-me tão á vontade a montar-te como se tivesse os dois pés pousados no chão!), era a nossa relação de amizade! eu passava horas ao pé de ti, sentada num fardo de palha á frente da tua boxe, a dar te bocadinhos de cenoura. quando me distraia tu saías da boxe e ias comer erva, mas bastava eu chamar te e tu voltavas!! acima de tudo éramos amigas, se é que uma pessoa e um cavalo podem ter uma relação á qual chamam amizade. eu sei que sim!
o tempo passou, se tinha havido no nosso passado uma altura em que nos chegámos a detestar, essa altura tinha passado. agora eu chegava á escola, abria a janela e dizia-te bom dia! tu respondias-me com uma sacudidela da cauda e continuavas a comer a tua ração. só me davas atenção quando cheiravas a maçã que eu trazia no bolso. então eu abria a porta da boxe e tu davas-me focinhadas, cheiravas os meus bolsos á procura da guloseima da manhã. quando descobrias em que bolso estava começavas a mordiscar. á pala disso fiquem com buracos em vez de bolsos, em vários casacos!
As aulas de equitação corriam bem, eras um espectáculo a saltar, mas teimosa como uma mula! nunca te perdoei ter chumbado na sela 7 por causa daquela ria enorme. mas até isso me passou.
no exame de auxiliar de monitor tivemos a melhor pontuação na prova de ensino e fizemos uma optima prova de obstáculos, fiquei tão contente que te comprei uma saca grande de cenouras, saca essa que acabaste por partilhar com os cavalos dos meus colegas!
adorava todos os minutos que passava contigo, os passeios que faziamos juntas na herdade, ao entardecer, aquela vez na herdade do zambujeiro onde tivemos que fugir de um boi que desatou a correr atrás de nós, as vezes em que andávamos uma tarde inteira a passear sozinhas ou na companhia dos colegas que estavam a estagiar cmg... que saudades Omega!!
conheciamo-nos tão bem uma á outra. a mim bastava me ver te ao longe que reconhecia-te imediatamente. tu levantavas a cabeça assim que ouvias a minha voz!! acho que não havia relação mais especial que a nossa!
Soube hoje que foste para Espanha, foste comprada por um senhor, para o filho mais novo dele ser teu dono. Será que te vão tratar bem? será que o teu novo dono vai passar horas ao pé de ti como eu fazia? será que vai chorar encostado ao teu pescoço por achar que mais ninguem o compreende como eu costumava fazer? será que vai comprar todos os natais uma saca de cenouras com um grande laço vermelho e oferecer ta, como eu costumava fazer? será que estás bem Omega? será que te lembras de mim, do meu cheiro, da minha voz? ou será que tens na tua cabeça apenas a ideia da próxima refeição?
Que duvida tão parva, obviamente que vais ser bem tratada, o teu charme e beleza não permitem que alguem pense sequer em tratar-te mal!!
Espero voltar a ver-te um dia, e que sejas muito feliz onde estás agora!
vou ter muitas saudades tuas minha linda!
Beijão desta tua ex-dona que nunca vai deixar de te adorar e de pensar em ti!!!