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Vamos lá então:
Antes de mais, quero dizer que não começo por citar links e outras fontes em cuja leitura cimentei aquilo que penso, uma vez que dizes, Wasp, que leste ” bastante sobre os cockers”. Eu não li o bastante nem nada que se pareça (além de que nunca sinto que seja o suficiente, estou apenas a começar) mas, como devo ter lido em fontes equivalentes às tuas, e é óbvio que a interpretação de ambos é completamente diferente, vou tentar socorrer-me de exemplos mais comezinhos para ver se seguimos o mesmo raciocínio.
Assim, e citando os nossos últimos posts, temos:
cockinhas Escreveu:(... a raça cocker (e quase todas as outras) não é fruto da selecção natural, como aconteceu com os lobos. Não é um produto da natureza, foi o homem que a criou, quando precisou de um cão de caça com estas características específicas, morfológicas e de temperamento.
Wasp1975 Escreveu: ( ...Na altura em que estava indeciso entre trazer um Cocker ou um Beagle, fiz várias pesquisas sobre as duas raças. Li bastante sobre os Cockers, principalmente sobre a apetência para a caça e do facto da raça em sí já ser pré-idade média. Ora a idade média é bastante anterior ao aparecimento de Criadores "profissionais" (no bom aspecto) e pouco mais se sabe sobre o aparecimento da raça. Consegues provar o que dizes da raça ter sido "orientada" por mão humana? Eu li bastante e não encontrei nada nesse aspecto. No fundo também não me admiro, já que os Persas também foram "orientados" dessa forma. Nota que uso o "Orientar" já que é a própria natureza que cria a raça, a participação da mão humana é só para juntar os dois animais num certo sitio e a uma certa data.
A natureza pode ter criado o primeiro cão (ainda não se chegou a uma conclusão definitiva**), mas foi o homem que criou as raças de cães, e a participação da mão humana na criação das raças é precisamente o oposto de “juntar dois animais num certo sitio e a uma certa data”. No caso dos cockers, não basta cruzar dois exemplares cocker ao acaso, geração após geração, para que a raça permaneça igual. Se se fizer isso, passado algumas gerações, os cockers resultantes, embora continuem a ser exemplares puros, ou seja, da mesma raça, eles pouco se assemelharão aos que conhecemos, tal como estão descritos no estalão.
Provas? Acho que não consegues provar que os cockers que temos em casa sejam fruto da selecção natural. Já as provas de que eles são fruto da selecção humana, (sem aspas, não é “orientadas” por mão humana é (ou devia ser!) seleccionadas por mão humana, plenamente pensada e com premeditação), estão à vista. Mas não vás pelas minhas palavras, pensa no que está, por todo lado, nos cães à nossa volta, e no presente, começando pelos cockers que temos em casa:
O que achas que sucede se deixares a tua Ozzy acasalar, no próximo cio? Se não lhe restringires o acesso só a outro cocker, ela vai acasalar com o primeiro cão que lhe apareça, inteiro, pela frente. Isto sim, seria deixar a natureza agir por si. Se for um beagle (pegando na outra raça que mencionas), os cachorros não serão cockers, pois não?
Bem, é a primeira vez que tento “desmontar” o aparecimento da raça, mas vamos lá, aqui fica o meu contributo, por palavras minhas:
No princípio era o verbo (perdão, o Lobo ), que, por selecção natural, pensa-se, originou várias sub-espécies de Lobo que, por sua vez, terão dado origem a vários “cães ancestrais” (este assunto continua a ser estudado e em debate por cientistas e estudiosos de todo o mundo). Não esquecer que cão e lobo são a mesma espécie. E foram estes cães ancestrais que, ainda não se sabe bem como, deram origem ao cão doméstico. Então, o homem, com o passar do tempo, foi reparando que alguns destes cães se mostravam mais aptos para determinadas tarefas: caça, guarda, etc. Rapidamente percebeu que, dos filhotes destes cães, nem todos tinham a mesma aptidão para caçar (fixemo-nos nesta aptidão, dado ser aquela que um bom cocker inglês, deve ter). rapidamente percebeu que, se apenas deixasse cruzar os dois cães que melhor caçassem, era melhor ajudado na caça e tinha mais comida para dar aos filhos… . Claro que esta é uma maneira simplista de pensar como a “coisa” começou, mas acho que deve ter sido mais ou menos assim que o homem percebeu que podia obter melhores cãs para o ajudar a sobreviver.
Por esta altura, e seguindo o teu raciocínio, ainda estamos “antes da idade média”, altura em que o homem já vinha seleccionando os cachorros mas praticava essa selecção, cada um para seu lado, conforme a necessidade.
Voltando ao cocker, mais recentemente, surgiu em Inglaterra, em 1902, mais precisamente, o primeiro clube da raça. Data desta época o primeiro estalão (não sei precisar a data) que, penso, à semelhança de esforços equivalentes por parte dos amantes de outras raças, se esforçou por definir um padrão para raça cocker, para criar cães uniformes.
A partir daqui o estalão tornou-se um guia para todos os criadores que almejavam obter cães o mais próximo possível do estalão definido. Sem este guia, não é possível obter características uniformes porque, como é sabido, a natureza não gosta nada da uniformidade, gosta sim, da diversidade.
Para conseguir esta uniformidade criaram um registo genealógico (o equivalente ao nosso LOP (Livro de origens Português), sistematização indispensável para analisar os cruzamentos passados, verificar os seus resultados e, com base nesta observação, planear as ninhadas futuras.
Continuou assim até aos dias de hoje, ressalvando actualizações que foram feitas ao Estalão, e que continuam em aberto. Lógico, pois se foi o homem que desenhou o cocker segundo o estalão original, é também livre de o modificar. Se imaginou um cão cujas características o servissem na altura, é natural que o modifique. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” .
Vou ficar por aqui mas não sem antes dizer que não há porque fazer juízos de valor sobre as raças.
Já agora, Wasp, o que é uma “raça XPTO”?
** Nota: Se tiveres curiosidade podes usar o Gervásio , ler os posts do utilizador Fang e a partir dos mesmos, seguir para outras leituras .