
Ou por desanimarem, stress, doença, etc!?
Na sequência do processo “denúncia de maus-tratos no Canil Intermunicipal das Terras
de Santa Maria”, uma delegação da Aanifeira deslocou-se à Serra do Pereiro onde
estão situadas as instalações do canil Intermunicipal para tentar apurar as suas
condições orgânicas e estruturais e acima de tudo verificar o estado geral dos animais
ali alojados.
Tendo como referência os inúmeros canis municipais existentes em Portugal,
nomeadamente nas principais cidades, cujas condições são de tal modo inaceitáveis
que a grande maioria nem sequer está licenciada pela Direcção Geral de Veterinária, foi
com agradável satisfação que pudemos constatar que foram construídas instalações
com capacidade para oferecer condições dignas aos animais que viriam a ser ali
alojados. Podemos assegurar que vimos poucos hotéis caninos com tão boas condições
como este intermunicipal.
Constituído por 50 boxes bastante amplas, com espaço interior e exterior (tendo este
meia sombra e meio sol), bebedouros automáticos, portas nos dois topos da box. A
zona interior é revestida a azulejo e na nossa perspectiva os únicos senãos tem haver
com o chão em cimento que mesmo tendo tratamento (que não nos pareceu ter) e
mesmo com lavagens e desinfecções, acaba forçosamente por acumular detritos e com
a separação entre boxes que não são suficientemente “isoladas” permitindo que os
cães maiores se vejam para a box do lado. Mas são duas situações que poderão
facilmente vir a ser rectificadas. O “caimento” nas boxes para as condutas de
saneamento está bem colocado o que permite com uma mangueira lavar todos os
detritos em poucos minutos.
Os corredores entre as fileiras de boxes também são bastante amplos e houve o
cuidado de colocar as traseiras de uma fileira e a frente de outra voltadas para o
mesmo corredor, evitando assim o “confronto” visual dos animais entre si de box para
box.
Os edifícios de apoio também são amplos e modernamente equipados, apesar de
apenas dispor de equipamento básico. Num dos locais dos edifícios existem jaulas de
contenção que permite lidar com animais mais agressivos e que necessitem de
tratamento de uma forma mais segura e eficaz.
Finalmente um crematório que está manifestamente mal colocado… Este deveria ter
sido construído num perímetro bem distante das jaulas, ainda que reúna todas as
condições de segurança para a saúde das pessoas e animais e apesar de ser um mal
necessário, é algo que deveria ter sido pensado. Acredito que possa ser penoso para
algumas pessoas que lá trabalham ter de efectuar a cremação dos animais, mas para
os animais vivos que ali residem é de certeza traumático. Há provas cientificas que
comprovam que os animais têm percepção de locais onde são feitos os abates e tudo o
que se lhe relacione.
Relativamente ao estado dos animais… A sua grande maioria encontra-se num estado
de saúde física (pelo menos aparentemente, dado que não poderíamos fazer uma
avaliação médica cabal) boa, assim como de boa nutrição. Existem alguns com
patologias visíveis, tais como sarna e subnutrição. Algumas (mais do que seriam
desejáveis) mães com cachorros, umas em muito bom estado, outras com os mesmos
problemas já referidos. Referimos duas situações observadas à médica-veterinária e à
responsável pelo canil que diziam respeito ao número de comedouros (em boxes com 5
ou 6 animais apenas dispunham de 2 ou 3 comedouros) que no nosso entender deverá
ser um por cada cão e estrategicamente colocados para permitir que todos possam
comer; e a outra situação relativa ao acesso à água por parte dos cachorros, dado que
o bebedouro encontra-se a cerca de 50 cms do chão e os cachorros (principalmente os
mais pequenos) não conseguem aceder e o leite da mãe não supre todas as
necessidades líquidas deles.
Em termos de saúde psicológica é que já não poderemos afirmar que se encontram
bem. Poucos foram aqueles que se observaram como estando bem dispostos e com a
alegria que é normal num cão…
Esta é a observação analítica de quem foi lá e esteve cerca de duas horas a observar, a
tomar apontamentos, para agora poderemos tirar as nossas conclusões.
Dada a nossa experiência com a nossa situação que é análoga, salvaguardando as
devidas diferenças, sobretudo orçamentais, o grande problema que existe no canil
Intermunicipal, tal como na Aanifeira, é que este é uma consequência e não a causa!
Não colocamos sequer em causa que um animal que tenha lá entrado nutrido tenha
vindo a perder peso e chegado a um estado de subnutrição alarmante. Já temos
observado isso na Aanifeira e por muito esforço sobre-humano que façamos não
conseguimos inverter o processo. Assim como é “o pão nosso de cada dia” recolher
animais em estado deplorável, também acredito que o canil Intermunicipal o faça. Mas
tudo isto são consequências e não as causas e são as causas que os defensores dos
direitos dos animais, as autoridades, a sociedade civil e sobretudo os políticos e os
governantes (que são quem têm poder para) têm de combater.
Não vamos entrar em lugar comum que é necessário acabar com o abandono e com os
maus-tratos aos animais. Todos nós estamos de acordo com isso! É necessária acção
imediata. Estamos com anos de atraso e o caminho a percorrer é muito, mas muito
longo! É quanto mais andarmos a remar uns para cada lado, mais ficamos no mesmo
local.
O primeiro passo é concentrar esforços para que as coisas comecem a acontecer. E
concentrar esforços não é os defensores da causa animal contra o resto do mundo.
Temos de conseguir criar uma plataforma de entendimento com Médicos Veterinários
Municipais que são quem tem uma “guerra” paralela à nossa; com as autoridades
policiais a quem podemos e devemos recorrer quando presenciamos infracções à lei;
com os cidadãos conscientes do problema e que acham que deve ser feito algo (e são
cada vez mais os que se manifestam); e com os políticos que tendo vontade podem
mudar muita coisa.
A Aanifeira tem proposta muito concretas para que as coisas comecem a mudar
verdadeiramente. Propostas que não exigem grandes orçamentos nem alterações às
leis vigentes. Não que achemos que a lei é a mais adequada, mas é a que existe e
enquanto não conseguirmos fazer cumprir esta lei, jamais avançaremos para uma
outra. É um longo e árduo caminho que estamos dispostos a fazer… resta saber se
mais alguém estará!