Mais uma sem selo:
“Querida madrinha Leonilde,
Já ando para te escrever há algum tempo mas, como sabes, dependo da Tássebem para isso e ela ainda não tinha tido disponibilidade.
Faz hoje duas semanas que me tiraste da rua e vieste aqui pôr, e quero dizer-te que nunca esquecerei esse dia nem aquilo que fizeste e continuas a fazer por mim. A Tássebem tem-me mantido a par.
Como sabes, nos primeiros dias estranhei um bocadinho este novo ambiente. Já há muito tempo que não sabia o que era estar numa casa… e sabes, o que mais confusão me fazia era sentir que havia outros como eu aqui em casa, e eu não sabia se eram amigos ou inimigos e se me viriam incomodar ou comer a minha papinha. Por isso, volta e meia lançava umas bufadelas e umas rosnadelas de aviso. Mas depressa me habituei à presença deles lá fora, e eles à minha, e percebi que a Tássebem não iria deixar que eles entrassem nos meus aposentos.
Passo os dias bem instalado na minha caminha. De vez em quando a Tássebem vem visitar-me, faz-me festinhas e dá-me abraços e beijinhos na cabeça, ajoelhada ao pé da minha caminha, que está em cima de um pufe. Isso é que eu gosto… faço muitos ronrons e às vezes dou a barriguinha para ela fazer mais festinhas. Depois também temos umas brincadeiras, que é assim: à noite, ela tapa-me para eu estar mais quentinho, e aí eu salto logo para o chão. Depois volto a saltar para a caminha, ela tapa-me e eu salto outra vez para o chão, e assim sucessivamente, até eu lhe fazer a vontade e ficar deitado e tapadinho. Às vezes também converso com ela, e outras ela pega-me ao colo e leva-me a ver a rua por detrás das vidraças. Gosto de ver o movimento na rua, os faróis dos carros... e no outro dia vi um cão lá em baixo e, pelo sim pelo não, rosnei-lhe!
Também dou muitas marradinhas nas pernas das cadeiras e, quando estou ao colo, esfrego as minhas bochechas no puxador da janela. Tenho-me portado muito bem, como me recomendaste, e não salto para cima dos móveis nem sujo nada.
Entretanto, comecei a escrever o meu diário e até já arranjei um amigo/correspondente que tu também conheces bem, o Obama.
E pronto, já sabes como vou passando os meus dias enquanto espero por aquele dono que me vai tratar como eu mereço e que nunca me vai abandonar.
E agora, “last but not least”… quero dar-te muitas turrinhas e ronrons de… PARABÉNS! Que contes muitos com saúde e alegria de viver, e continuando a ajudar outros como eu, que nós bem precisamos não só de quem diga gostar de nós, mas que junte os actos às palavras. Eu sei que tu sabes que nós te ficamos eternamente reconhecidos.
Tenho saudades tuas… mas, quem sabe, talvez nos vejamos em breve…
Com amor do teu,
Santaninha”
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke