sexta mai 21, 2010 10:40 am
Minhas Queridas Amigas,
Pego da pena para vos dar uma trágica notícia. Hoje, pelas 7 horas da manhã, a ViVi matou um dos meus gatos. O meu querido Tareco, branco e preto, um gatinho amorável, cujo único objectivo na vida era agradar à sua dona: EU.
Apesar da minha pronta intervenção e dos esforços que desenvolvi para o devolver à vida, não consegui salvá-lo. Também, o meu adorável Dominó ainda tentou fazer-lhe a respiração artificial, sem qualquer sucesso. O Tareco entrou em coma e morreu (em minha casa, os gatos e os cães morrem, não falecem. Quem falece é a minha avó, a minha tia e a sogra, claro), sem que o pudéssemos reanimar.
Como compreenderão, minhas boas amigas, depois deste dramático acontecimento, que tanto me está a afectar, não poderei ficar com a ViVi. Como poderia eu ter em casa um animal com este comportamento predatório, um animal capaz de assassinar um semelhante ou nem por isso, como foi o caso ora acontecido? Como poderia eu suportar que a Vi atacasse e eliminasse os meus adorados Dominó e Sansão, as minhas idolatradas Dora, Daisy, Antónia, Chance, Lucy, Nellie, as minhas bem-amadas Timbo, Fortunata Maria aka Naná, Telma, Magda, Doris, as minhas queridíssimas Margarida Lásse, Dalila e Tess? E os meus gatos, por quem nutro um inenarrável afecto, a Loira nº 35, o Francis Blue-Eyes Jardel, o Abelardo Preto Mauzão, a Babá e a Flor Tripata? Sim que seria deles todos com esta fera desenfreada portas adentro?
Por isso, Lu-Maria, tem 48 horas – lá se vai o seu fim-de-semana – para retirar da minha casa esta besta canina. Entretanto, a minha mão justiceira abater-se-á sobre ela. Vai ficar presa no pátio, às intempéries, ao sol, à chuva, aos tornados e aos furacões, sem uma gota de água, sem um grão de ração, mesmo da mais ordinária, atada com uma grossa corrente de 5 cms de espessura e 10 de comprimento, ao estendal da roupa. Nunca mais, enquanto for viva, quero olhar para tal monstro de iniquidade. Não posso, sequer, pensar, em encará-la.
E tu, Tareco, meu maravilhoso gatinho, desde sempre comigo (desde anteontem, acho) descansa em paz. Que a terra te seja leve. E, logo à noite, quando contemplar as estrelas no firmamento, lá estarás tu a acenar-me, mais uma estrelinha no céu, pendurada no arco-íris, caso chova (vê lá se encontras o raio do pote de ouro que está lá enterrado no fundo do dito somewhere, over the rainbow, lá lá, lá, desde tempos imemoriais, para ver se tenho algum lucro com isto tudo). E, dizia eu, lá estarás tu, uma estrelinha na infinita galáxia, a Via Láctea, a acenar-me e dir-me-ás decerto quão ditoso te sentes, porque encontraste lá os teus muitos amigos felinos, que tão grata memória me deixaram, o inesquecível Poldo, a Columbina (essa vaquinha), o Tobias, o Ronnie, o Lokas, e tantos, tantos outros, que lhes perdi o conto.
Em todo o caso, apesar da profunda mágoa, tristeza infinda, ilimitada amargura que este infausto acontecimento me causou, de estar com um nó na garganta, coração apertado, lavada em lágrimas, e do insucesso das minhas (e do Dominó) tentativas de salvamento e reanimação, consegui, para memória futura e para que estas circunstâncias infaustas não voltem a repetir-se, para que aprendamos com os nossos erros, consegui fazer uma reportagem fotográfica, que enviarei, mediante justo pagamento, a quem a quiser.
E, de coração destroçado, me despeço, minha amigas. Por mim, tenho a vida destruída.
Vou ali à copa afogar as mágoas num cafezinho.
<p>Au début, Dieu créa l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>