Não gostaria de ter tido as notícias que tive do Xico, nem de ter de as transmitir nesta altura, pois sei que vão deixar algumas pessoas tristes numa altura em que isso é menos desejável. Mas não posso deixar de as dar agora, pois o tempo urge.
O Xico tem continuado no seu quartinho, muito bem, até serem implementados os conselhos que nos foram dados na consulta de comportamento animal a que a sua cuidadora e eu fomos. O problema passava agora, exclusivamente, pela difícil relação entre ele e a gatinha residente, pois em relação à cuidadora e aos seus familiares que frequentavam a casa não havia quaisquer problemas, mostrando-se o Xico um gato sociável e meigo.
Acontece que o Xico, a quem não foi possível, nos últimos dias, dar-lhe a medicação, por ele se recusar a ingeri-la, deve ter ficado alterado e, ontem, esgueirou-se inadvertidamente, atacou a gatinha e deixou-a muito maltratada. Na opinião da professora a cuja consulta fomos, já a opinião que tínhamos tido foi que o Xico teria ciúmes.
Dado o que aconteceu, e com o coração destroçado, a cuidadora não tem alternativa a não ser que o Xico não pode continuar lá em casa. Ainda assim, deu-nos alguns dias para tentarmos arranjar uma solução.
As opções não são muitas, melhor dizendo, são muito poucas, e a única boa seria encontrar-se alguém disposto a acolher o Xico e que não tivesse mais animais. Sabemos que será como achar uma agulha num palheiro, mas não podemos deixar de tentar, dado o que está em jogo.
Deixo uma fotografia do Xico, tirada há alguns dias, quando tudo estava bem e eu estava convencida de que as atribulações do Xico tinham terminado e que ele tinha encontrado o seu lar definitivo. O Xico foi aqui tratado como... eu ia a dizer um príncipe, mas foi como todos os animais deviam ser, como muito carinho, mimo e conforto. Ele não sabia e não sabe o preço que pode vir a ter de pagar pelo que fez. Que não fez por mal, ele estava alterado, tem ciúmes da gatinha e, desta vez, não mediu a força, e a escaramuça teve consequências muito sérias.
Que não fiquem dúvidas de que o Xico não é um gato mau nem agressivo; é um gato que se tornou problemático a partir do momento em que foi abandonado e sujeito a condições que não eram aquelas a que estava habituado, e que muito provavelmente serão as únicas em que poderá vir a ter um comportamento equilibrado, ser feliz e proporcionar felicidade.
O Xico não sabe, mas ele e nós pedimos um milagre.

«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke