sexta set 21, 2012 1:53 pm
É verdade, Sofia, temos muito poucas razões para sorrir. Eu tenho.
Mas, em todo o caso, vou sorrindo sempre.
- Sorrio, apesar das dificuldades, da falta de fundos crónica e de me sobrarem para aí, no mínimo, 15 dias do mês; mas sorrio porque, mesmo assim, ainda vou tendo algum pão para pôr na mesa e os meus animais, embora algo nos falte a nós (mas passamos bem sem os bifes), têm os pratos sempre cheios à hora da refeição... até ver;
- Sorrio, a despeito de ter uma espada de Dâmocles suspensa sobre a cabeça num assunto muito grave que não é para aqui chamado;
- Sorrio, não obstante as muitas e variadas mazelas do meu marido, tantas, que como dizia alguém que conheço, é preciso muita saúde para aguentar tantas doenças – e este ano foi fértil – desde febre da carraça até um quase enfarte passou por uma vasta panóplia de maleitas;
- Sorrio, apesar da trabalheira que os animais me dão – muito, muito trabalho;
- Sorrio quando tenho um livro para ler, mesmo que seja um mau livro ou um que já li 20 vezes;
- Sorrio, porque tenho três filhos e um neto saudáveis e bonitos – mas mesmo que fossem feios, sorriria na mesma, quem o feio ama, bonito lhe parece.
- Sorrio, porque está aí o Outono, a minha estação preferida;
- Sorrio, porque tenho tempo para dar longos passeios com os meus cães;
- Sorrio porque a paisagem é linda, o céu está azul, corre uma brisa, por vezes uma ventania, e não está demasiado calor;
- Rio abertamente e à gargalhada com as brincadeiras da malta de 4 patas, Liza, Vivi, Ernesto, Bárbara, Antónia, Magda, todos ao molho.
- Sorrio, por vezes de modo um tanto ou quanto amarelo, confesso, com a incontinência do Dominó, que tem 40 kgs, e fará 15 anos dentro de três semanas, se lá chegar, o que me faz andar de esfregona aperrada em permanência – era bom para algumas pessoas que “desesperam” porque o minúsculo Chihuahua faz xixi fora do penico;
- Sorrio por ver que as cadelinhas Tess e Nellie, mesmo cegas, encontram o seu caminho; quem me dera poder dizer o mesmo;
- Não sorrio quando algum dos meus cães ou gatos morre, mas também não choro. Penso, apenas, muito racionalmente que, enquanto estiveram comigo, tiveram uma boa e, frequentemente, longa vida e que, se alguma coisa me suceder, será menos um motivo de preocupação, não só para mim mas para quem cá ficar.
- Sorrio por muitas outras coisas, pela fragilidade da condição humana, pelo facto de sermos crédulos, mesmo quando a mentira e a falsidade são óbvias;
- Sorrio, porque, ainda assim, temos esperança e porque há pessoas muito boas e desinteressadas e tenho o privilégio de conhecer algumas;
- E, finalmente, sorrio, porque, para já, estou viva.
Posto isto, apreciado o Balanço e as Contas, o Activo ultrapassa o Passivo, a Situação Líquida é favorável.
Nada mais havendo a tratar, está encerrada a sesão.
<p>Au début, Dieu créa l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>