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Chamarrita Escreveu:Garfield2010 Escreveu:
Mas não é só com animais, infelizmente. Quando tive os meus 2 filhos, em alturas diferentes, optei por ficar os primeiros três anos com cada um deles em casa. Não critico de forma alguma quem não tenha essa possibilidade, mas eu tinha e não me sentia bem tanto com o entregá-los bebés a um infantário, quer entregá-los aos avós, que, de ambos os lados criaram filhos, e merecem descanso. Era um risco o conseguir voltar ao mercado de trabalho e em ambas as ocasiões deixei empregos promissores que me permitiriam estar melhor na vida nesta altura, mas achei que tinha de assumir as minhas responsabilidades e tive o privilégio de ver os primeiros passos e ouvir as primeiras palavras de ambos e de os criar à minha maneira sem depender de terceiros. Isto tudo para dizer que, incrivelmente, ninguém que me rodeava apoiou.
A Garfield deve ser eu numa vida paralela, só pode.

Como tenho um lado racional bastante forte (pequenino, mas forte), é possível que a falta de desejo de ter filhos se relacione com a impossibilidade de os educar "à minha maneira" e de viver com eles (e para eles) durante os anos de infância (quando tivesse o estojo de maquilhagem assaltado, ou o rapaz batesse com a porta do quarto, era altura de regressar à minha vida e preparar-me/prepará-los para a chegada da vida adulta e da partida (porque é bom que os filhos queiram partir, assim tenham eles "bagagem"). Acho que apenas uma vez senti vontade de ter filhos, mas foi pura bioquímica

, passou. E fico surpreendida com as pessoas que têm uma vida ocupadíssima se ponha a ter crianças, a partilhar os 4 meses com o parceiro, e rapidamente regressa ao trabalho, começando uma lufa lufa e a falar em tempo "de qualidade", e as crianças, ainda com poucos meses, são entregues a amas ou creches - poucos têm a sorte de ter avós ou familiares por perto que ajudem (eu não teria possibilidade alguma) - e a sociedade que os crie. Não concebo. Mais tarde, apanho estes bebés mais crescidos numa turma de 7º ou 8º ano, e vejo-os "orfãos". Eu não teria um filho para ser "orfão". Depois, penso na pesada "herança": um planeta doente, uma humanidade doente, para além de uma herança genética não muito boa, pelo menos da parte que me toca. Não dá. Quando não se pode, não se pode.
De mim, tem todo o apoio e admiração. A Garfield faz o seu próprio caminho : "se cá dentro me parece bem, faço-o", consciente e corajosa. :)Se a minha vida fosse outra

gostava que fosse como a sua.

Chamarrita, sempre achei que poderíamos ser grandes amigas na vida real, porque temos opiniões semelhantes em muita coisa... Aliás, sempre pensei que a minha vida fosse como a sua. Se me tivesse dito, quando era mais jovem, que casaria e teria filhos, desatar-me-ía a rir. Primeiro porque tenho um feitio tramado, admito, que me faz querer fazer as coisas à minha maneira. Daí ter saído de casa aos 21 anos. Não é que não gostasse ou não goste dos meus pais ou que não tivesse uma vida familiar normal, mas aquela velha história do "enquanto estiveres cá em casa..." começou a encher-me a paciência muito cedo, confesso... Não imaginava dividir a minha existência e ter de prestar contas, no fundo, a uma outra pessoa. Imaginava-me como a Chamarrita: no meio do campo com os meus animais porque realmente dou-me melhor com animais do que com pessoas. Não sou anti-social mas não faço amigos com facilidade, acho as pessoas muito hipócritas, falsas, mentirosas. Enfim, tenho pouca paciência... E depois, além da teimosia, tenho o "péssimo" hábito de não só dizer o que penso, de caras (não digo por trás), o que não granjeia muitos fãs

), como, segundo todos os que me rodeiam (de família a chefias), sou completamente transparente, logo, mesmo quando calo, transparece a minha opinião...tal como se estou bem ou mal disposta, etc. Chega a ser aborrecido o não conseguir disfarçar, porque toda a gente sabe se tenho um dia mau...
Nunca senti o tal apelo da maternidade, nunca quis ter filhos e sempre o disse desde muito cedo. Acabei por ser mãe relativamente cedo, aos 24, não foi uma gravidez planeada, demorei umas semanas a digerir a notícia, até porque, como costumo brincar, sou alérgica à gravidez (tenho gravidezes complicadas, com uma brutal perca de peso, que me obrigam a ficar de baixa e sempre com a ameça de internamento), logo, foi tudo muito intenso na altura (hormonas à mistura, muitas crises de choro, aliás foi por isso que fui ao médico lol: chorava que nem uma perdida, o médico começou por pensar que estava deprimida) mas, como já disse antes, acredito que temos de ser responsáveis pelas consequências dos nossos actos, daí o tentar preparar-me para a nova etapa da minha vida que não vale a pena, porque nada nos prepara para sermos pais e eles nascem sem livros de instruções), sempre me valeram as fraldas postas em nenucos para praticar

)), deixei o emprego para acompanhar os primeiros anos dela (toda a gente criticou, incrivelmente, para mim era uma opção óbvia, tendo essa possibilidade), não foi fácil abdicar da minha independência, aprender a ser mãe e a verdade é que deixamos de ter vida, por mais que se diga que não, deixamos de poder sair quando queremos, ler quando nos apetece, levantar quando bem entendemos, a nossa vida gira à volta deles... Ela hoje tem 11 anos e é uma companheirona... Cinco anos depois, um divórcio e um casamento mais tarde (eu não digo que sou complicada?) sabia que o meu segundo marido, apesar de estar com a minha filha desde os 2 anos e de ser como um pai para ela, não há distinção, mas sabia que ele gostaria de ser pai e seria muito injusto não o ser, só porque eu não queria, ainda mais tendo eu já uma filha. Não fui pressionada a isso mas acabei por decidir ser mãe novamente e recomeçar a saga: deixar emprego, chegar ao ponto de só dizer gugu dadá e de bater com a cabeça nas paredes por estar farta de a minha vida girar à volta de fraldas mas compensa, apesar de ter sido novamente criticda, principalmente pela família do meu marido, apesar de a minha sogra nunca ter trabalhado fora de casa, por exemplo, por isso, as pessoas confundem-me tanto, os animais são tão mais simples, não é?)... Apesar disso, tenho alturas que olho para eles e penso "não era nada disto que tinha planeado", mas neste momento, não imaginava a minha vida sem eles. Quando me perguntam quando vem o próximo, digo "nunca" e é mesmo a sério... E concordo com o tudo o que disse, a nossa herança para as próximas gerações é muito pesada e é um dos motivos porque não queria ter filhos, apesar de ser muito emocional, de vez em quando o lado racional aparece e acho que, como a Chamarrita, é mais racional, nos dias de hoje, não se ter filhos (não há tempo, não há dinheiro, não há paciência, o futuro é incerto) mas a vida dá muitas voltas.
Agradeço o elogio mas não me considero corajosa e o "se cá dentro parece bem, faço-o", às vezes causa muita complicação. Por isso considero-me teimosa até à medula e obstinada, isso sim. E nem sempre é fácil quando se partilha a vida com alguém (aí é mesmo complicado), e mesmo no dia a dia mas, pelo menos tenho o consolo de me procurarem quando precisam de uma opinião sincera porque, como o meu chefe diz "mesmo que tentasse mentir não conseguia", claro que isto vai da escolha da gravata por aí fora lol...e nem sempre me deixa numa situação confortável...Acho a Chamarrita bem mais corajosa do que eu, porque assume a sua vida tal como ela é, sem óculos cor de rosa e sujeita ao escrutínio e à censura de todos que lêem as suas opiniões e escolhas de vida. Isso sim, é coragem...
E lá se vai o testamento e o off-topic

...
O Vicente está bem, com uma ligeira irritação numa vista já em tratamento, os olhos são uma zona muito sensível nele, como em todos os Persas aliás, e ficam irritados (apesar das limpezas frequentes diárias) facilmente... Mas deve estas bem amanhã, quem me dera que os nós fossem tão fáceis de tratar. Estou mesmo a considerar tosquiá-lo e "começarmos de novo"...

<p>"Os cães podem vir quando são chamados; os gatos anotam a mensagem e voltam a ligar mais tarde."</p>
<p> Mary Bly </p>