O nascimento devia de ser uma celebração. Uma celebração à vida, a uns
novos seres virem ao mundo, celebração rodeada de carinhos e gritos de
alegria.
Esse não foi o nosso caso. Nascemos a ouvir gritar, ganir, choros de
angústia e de desespero. Conforme os nossos irmãos nasceram (antes de nós),
foram logo sendo mortos, um a um, perante a aflição da nossa mãe, que
implorava que parassem. Quando nós saímos, resolveram parar, felizmente,
dirão uns,
infelizmente dirão outros. As únicas palavras proferidas pelo humano foram:
Deixa lá ficarem essas. Depois põem-se a andar!
E assim ficámos nós, amadas e protegidas pela nossa mamã, até que atingimos
a idade dos 4 meses.
Já tínhamos esquecido aquelas palavras amargas, já nos pareciam tão
longínquas.
Um dia, fomos dar um passeio. Meteram-nos no carro e a ansiedade aumentava a
cada quilómetro que passava. Onde será que íamos? Ao campo, à praia? O
carro pára. A porta abre-se. Engraçado, nunca nos tinham deixado sair sem
ser de trela. Pensámos nós que seria por já terem confiança em nós, por
saberem que nunca nos afastaríamos dos nossos donos. Entretidas na novidade
dos novos cheirinhos e aromas nem demos conta de nada. Como fomos ingénuas!
Voltámo-nos, à procura deles, mas nada. Avistámos o carro já ao longe. Ainda
corremos, corremos, corremos, mas o carro andava depressa demais e levava
vantagem. Fomos obrigadas a enfrentar a dura realidade de que fomos
abandonadas.
Por ali ficámos e por ali estivemos, até que uma alma caridosa resolveu
alimentar-nos e dar-nos esperança da possibilidade de um novo futuro.
Falaram-nos que ainda existem humanos capazes de nos amar. Se isso for
verdade e nos quiserem conhecer, liguem por favor para os nossos padrinhos, ok?
Temos cerca de 7 meses e não crescemos mais.
91 400 35 34
91 727 84 63
