"No canto onde me encontro só, recordo-me da vida que ficou para trás.
Lembro-me do dia em que me separaram da minha mãe. Estava junto do seu regaço, naquele quentinho que só o verdadeiro amor de mãe pode dar.
Tinha o espaço partilhado com os meus irmãos. Sonhava com os momentos que tínhamos durante o dia – as correrias, o cheiro e sabor do doce leite materno, o consolo das lambidelas sem fim,...
Feliz. Era assim que me sentia. Profundamente feliz.
Num dia como tantos outros, chegou uma senhora. Queria um de nós. Escolheu-me a mim. Tiraram-me de junto da minha família, e levaram-me para longe deles.
Ainda ouço o choro da minha mãe.
Fiquei triste, pela primeira vez de muitas outras que se seguiriam…
Estou num quintal. Olho para a minha futura "mãe". Brinco e corro atrás dela.
Mas sou violentamente impedido de dar mais um passo sequer.
Tenho um fio, parecido com aqueles com que brincava, mas muito mais pesado e grosso. Chama-se corrente e a minha nova "mãe" diz que tenho de ficar com ela em volta do meu frágil pescoço.
Meu Deus, como é pesada e me magoa!
Vejo a sua figura a desaparecer. Foi-se embora. Estou sozinho.
A minha mãe jamais me deixaria ali, sem nada e sem ninguém!
Onde estão os meus irmãos? Porque vim só eu?
Choro, sem parar. Ninguém me escuta. Adormeço de cansaço…
Os dias passam, o choro morre e o sol põe-se.
Tenho fome e sede. Muita sede. Não há leite, não há nada. Já tenho os dentes maiores. Preciso de comer – qualquer coisa serve!
A fome dilacera-me o estômago e contorço-me com dores.
Passa alguém – atiram com comida e falam de mim. Só ouço como têm pena. Apressadamente afastam-se. Estou só de novo. Mas tenho comida.
O sol acorda e a noite desperta e os dias, os meses passam.
Continuo com aquela coisa ao pescoço. Não me consigo mexer. Cheira cada vez pior em meu redor. Que vergonha – sou um menino limpo, mas não tenho espaço sequer para me levantar…
O frio, o vento e a chuva cortam-me o corpo. Tenho dores. Encolho-me o mais possível, procuro manter-me quente. Sinto-me fraco. Já não consigo pronunciar um latido. Não vejo a senhora da comida. A fome devora-me. Sede não tenho, bebo água das poças.
Penso que só queria adormecer, dormir para sempre.
Acordo e vejo flores a meu lado. Levanto a cabeça e cheiro-as. Como as suas fragrâncias me agradam! E os tímidos raios de sol aquecem-me.
Recordo-me da minha mãe e do calor que sentia quando me encontrava junto dela. Pouso a cabeça. Procuro dormir, pois sei que os sonhos virão.
São a única companhia que tenho. E a mais preciosa.
O frio retorna. E o calor. E o frio novamente. Sucedem-se um ao outro e eu aqui…
Não tenho noção de quanto tempo passou. Mas sei que estou maior desde que vim para este lugarejo.
Já não me recordo da vida feliz que tive. Não quero. Sofro ao recordar-me.
Devo ter feito algo de muito mal, algo que levasse a minha mãe a não me querer – senão, qual seria o motivo para este castigo, para este sofrimento gritante mas tão silencioso por que passo?
Alguém se aproxima. Mas vem muito devagar. Será que me levam para um sitio como este ou ainda pior? O que fiz desta vez?!
Pegam-me ao colo. Saio dali. Falam comigo. Aconchegam-me. Choram em desespero. Será que a minha mãe voltou? Não consigo ver bem, só percepciono sombras, mas sinto outra vez o carinho outrora esquecido.
Levam-me a um senhor. Toca e mexe muito em mim. Dizem-me para ter calma, que ele vai tratar-me. Não está nada satisfeito comigo. E só pergunta "Como é possível?!"
Sinto o cheiro de comida e a frescura de água. E limpa! Dói-me muito o corpo, não tenho forças para estar de pé, mas arrasto-me para saciar a minha sede e fome sem fim.
Adormeço. Acordo. Tenho um pano roto debaixo de mim. Está tudo muito escuro. Não sei onde estou – quase não vejo. Ouço a chuva, mas desta vez não a sinto como facas a espetarem-me sem parar consecutivamente. Descansar, é só o que quero.
Ouço vozes. Falam de mim e que me vão tirar dali. Dizem que não tenho condições. Será que vão voltar a colocar-me naquele sítio de castigo?! Tenho medo…
Entra alguém. Dá-me mimos. Entro para uma coisa que anda sem eu me mexer. Deitam-me. É tão confortável! Vou-me embora.
Chego ao meu destino. Estou nervoso. Aproxima-se uma senhora que não conheço. Diz que vai ficar comigo.
É noite. Estou rodeado de conforto, de quentinho, e de comida, muita comida! E água com fartura!
Pega em mim e leva-me a passear!
Que bem me sinto, já me consigo mexer à vontade sem que sinta o peso daquela corrente em cima de mim. Custa-me andar, mas estou tão contente!
Flores, sinto-lhes o cheiro, mas desta vez chego junto delas e toco-lhes com o meu nariz.
Que boa que esta "mãe" é para mim! Lembro-me do que é ser feliz de novo. E já passou tanto tempo…
Desperto com aflição, sinto e ouço o temor em meu redor. Aconteceu algo com a minha nova "mãe"!!!"
A pessoa que adoptou o Tito teve um grave acidente alguns dias após este ter sido acolhido e amado pela família, deixando-a sem possibilidade e mobilidade para cuidar dele e infelizmente, até dela mesma.
Foi acolhido pela PRAVI, encontrando-se em Fat desde Junho de 2007, não havendo qualquer tipo de apoio para as suas despesas e necessidades.
Para que o Tito tenha qualidade de vida (entretanto detectou-se leischmaniose) precisa-se de:
- Ração especial da Royal Canin / mobilidade Saco de 15 Kilos 80 euros
- Caixa de Comprimidos "Consequim" (artroses) 140 comprimidos 60 euros
- Alopurinol
- Ajudas para pagamento de veterinário
Ajudem o Tito!
Tito - Nib: 0033 0000 4530 8483 7880 5"



