O meu filho, então um adolescente, precisava de um quispo, pois fazia frio e tínhanos deixado em casa os agasalhos. Assim, entrámos numa loja perto da estação e pedi para ver esses casacos. A empregada, gentilmente, pôs vários sobre o balcão, mas ao ouvir-me falar com o meu filho perguntou-me de que nacionalidade éramos. Quando lhe disse que éramos portugueses, o rosto fechou-se-lhe imediatamente, proferindo um "Ah!" muito seco e breve, e arrebanhou os casacos todos para longe do balcão. Espantada, perguntei-lhe porque tinha feito aquilo e ela acabou por me dizer que era a sua má experiência com os portugueses em França, que eram todos uns ladrões que quando lhe entravam na loja se fartavam de roubar artigos, o que a levava a ser assim desconfiada. E não me queria vender nenhum blusão, mas também não era preciso, porque, como é evidente, eu já não compraria ali nem um botão.
Portanto, e seguindo a opinião da Suesca, nós, os Portugueses, tal como os ciganos, somos todos uns ladrões, não é verdade?
Valha-nos o Santo Ofício!...
