Um tópico muito popular no meio de quem lida com cães ou quer comprar um cachorro, são os testes de temperamento. Muitos destes testes pretendem identificar, de uma forma objectiva, características tais como : dominância, instinto predador, medo, e sociabilidade.
Sérias dúvidas foram levantadas quanto à credibilidade e validade preditora destes testes. A presumida imutabilidade do temperamento é um conceito duvidoso, se não falso.
O temperamento do cachorro, incluíndo características básicas tais como nível de dominância e, mais importante, sociabilidade, é surpreendentemente flexível até ao fim do periodo de sociabilização.
Não existem dados que comparem o resultado destes testes com o comportamento do cão depois de adulto. Os resultados destes testes, feitos a um cachorro específico, num dia específico, podem variar muito dos resultados obtidos se o mesmo cachorro for submetido a eles um ou dois dias mais tarde. Os resultados também diferem, frequentemente, entre quem os conduz.
Olhemos para um destes testes : o tempo que um cachorro demora até tomar a iniciativa de se aproximar da pessoa. Cachorros mais inibidos, ou que nem se aproximam, podem mudar radicalmente o comportamento se forem encorajados a aproximarem-se. Sendo assim, até que ponto é que a característica que o teste supostamente mede é fixa ?
Uma grande parte destes testes falha na identificação das características testadas. Por exemplo, uma ninhada de seis cachorros será testada, individualmente, para ver a reacção a um estímulo desconhecido que possa causar medo, como abrir um guarda-chuva de repente. Imaginem que os cachorros um e dois não se assustam minimamente ; abanam a cauda e vão investigar o guarda-chuva. Os cachorros três e quatro assustam-se e depois investigam. Os cachorros cinco e seis assustam-se e nem chegam a aproximar-se do guarda-chuva. O que é que aprendemos sobre o temperamento destes cachorros? A interpretação standard do teste revelaria que os cachorros um e dois são muito equilibrados, os cachorros três e quatro assustam-se com facilidade, e os cachorros cinco e seis são decididamente medrosos.
Mas na realidade, não aprendemos nada sobre os cachorros um e dois, os cachorros três e quatro mostraram reactividade mas excelente recuperação, e os cachorros cinco e seis mostraram reactividade e ausência de recuperação. Os cachorros um e dois nem chegaram a ser testados! Se o teste serve para ver a reacção a um estímulo que provoque medo, então é necessário encontrar um estímulo que o faça. A única conclusão que se pode tirar deste teste é que os cachorros um e dois não têm medo de guarda-chuvas. Continuamos sem saber qual será a reacção destes dois cachorros quando forem submetidos a um estímulo que realmente lhes cause medo. Poderão, muito bem, reagir como os cachorros três e quatro reagiram ao guarda-chuva, ou até como os cachorros cinco e seis reagiram.
Mais interessante ainda, é que tanto a reactividade como o poder de recuperação de todos estes cachorros, podem ser alterados por factores ambientais. Peguem nos cachorros cinco e seis, sociabilizem-nos muito bem, e eles acabarão por se tornar mais equilibrados do que os cachorros três e quatro, se estes forem parar às mãos de donos incompetentes.
Entretanto, os donos dos cachorros um e dois estão perante um potencial problema, porque estão convencidos que têm cachorros muito equilibrados só pelo facto de não terem tido uma reacção de medo do guarda-chuva. Na realidade, a cachorros pouco reactivos não é dada grande oportunidade de desenvolverem a sua capacidade de recuperação, assim como também não se liga muito à necessidade de sociabilização, simplesmente porque parecem não precisar dela ! Isto é um grande erro.
Não nos podemos esquecer do benefício duplo da sociabilização : serve para reduzir a quantidade de situações às quais o cachorro reage com medo, mas também serve para, repetidamente, proporcionar a experiência de primeiro sentir medo e depois recuperar-se de ter sentido medo. O poder de recuperação é uma das características mais valiosas que podemos instilar num cachorro. Cães com temperamentos instáveis adquirem fobias mais facilmente do que cães equilibrados. As probabilidades de um cachorro desenvolver um temperamento instável são muitíssimo reduzidas se o poder de recuperação for instilado cedo, independentemente do cachorro ter sido muito reactivo ( assustou-se com facilidade ) ou pouco reactivo ( não se assustou ) durante o teste.
The culture clash Jean Donaldson.
Teste nos cães jovens
Moderador: mcerqueira
E agora como ficamos? Acreditamos em cão se mete a escrever livros ou quem se dedica a criar e como tal a lidar com cachorros?Pedra Escreveu:
Na minha humilde opinião, considero os cachorros 3 e 4 mais equilibrados.
Isabel

Que indecisão em que eu fico



-
- Membro Veterano
- Mensagens: 5619
- Registado: terça dez 11, 2001 8:41 pm
- Localização: Politicos com anti-rábica em dia
- Contacto:
Qualquer pessoa escreve livros, até o Claúdio Ramos, esse zênite da cultura pastilha elástica cujo objectivo na vida é ser conhecido.
No entanto, como não sei quem é o autor desse livro, vou ignorar.Até porque existe agora no mercado um livro por uma amante de cães sobe dietas... e ela nem nutricionista é...
No entanto, como não sei quem é o autor desse livro, vou ignorar.Até porque existe agora no mercado um livro por uma amante de cães sobe dietas... e ela nem nutricionista é...
Mas é claro. Isso é um cão normalissimo.Pedra Escreveu: Acredita em quem entender.
Eu prefiro um animal que perante um chapeu de chuva a abrir repentinamente e faça barulho, mesmo nas ventas do bicho, seja normalissimo ele mostrar algum receio, mas que imediatamente se atire para a frente para investigar.