quarta out 27, 2004 8:34 pm
Vou então "meter a minha colherada", que penso não vai ser nada de novo, mas é apenas uma opinião mais ou menos apaixonada sobre raças vs srd, com alguma visão "capitalista". Para me interpretarem melhor, começarei por dizer que não sou nem Vet nem criador, ou seja, pertenço à imensa "nuvem" das pessoas que gostam de ter animais.
Eu olho para estas coisas do ponto de vista do mercado, e penso que os "consumidores" de cães se podem dividir em três tipos:
1) Aqueles que precisam do cão para um dado trabalho ou missão
2) Os que encaram a posse de um cão como um factor de "status"
3) Os que pura e simplesmente querem ter um animal de companhia
Para as pessoas que pertencem às classes 1) e 2) nem vale a pena pôr a hipótese de terem rafas. Terá sido porventura a existência dessas pessoas que terá motivado alguns a apurar determinadas características comportamentais e/ou estéticas, às quais hoje chamamos "raças", cuja comercialização (e sucesso) depende, no caso 2), da moda (o que não deixa de ser "criminoso" para os animais que, com o "virar da moda", deixam de ter interesse comercial), e no caso 1) da progressiva substituição que a tecnologia lhes está a fazer.
Exemplo quase dramático deste último caso é o daquele convento na Suiça que está a oferecer São Bernardos porque, imagine-se, já não servem para aquilo que foram criados: encontrar pessoas na neve.
Sem o mercado 1) e 2) não haveria criadores, ou vice-versa, nada tenho contra os criadores, muito pelo contrário, desde que não "criem" aberrações como os cientistas fizeram com a ovelha Dolly, têm todo o direito de apurar características, formar raças, desde que tal seja feito, espero eu (que não conheço os processos utilizados), sem enveredarem por experiências que criem "monstros" que têm de ser abatidos.
E têm igualmente todo o direito de publicitar os prós e contras do que produzem porque, como é óbvio, merecem ser recompensados pelo esforço que tiveram. E como penso também ser óbvio, salvo em casos excepcionais, não é suposto os criadores doarem cães de raça.
Já o mercado 3) me parece o único propenso ao "consumo" de SRD's. Em que percentagem ? Não sei. Provavelmente o factor decisivo será o factor económico, embora no meu caso pessoal não o tenha sido. É geralmente aceite que os cães de raça não são um "tiro no escuro" e que os rafas o são. Mas o que o mercado tipo 3) quer é companhia e carinho, e nesse particular a minha opinião é de que é indiferente a raça do animal.
O que não é indiferente, para o mercado tipo 3), é a deficiente informação que poderá conduzir a um exagerado e injustificado receio por se ter um SRD, ou o custo de um cão de raça.
Ou seja, voltando ao texto original da pergunta inicial da Lara, não podemos comparar dar cães de raça com dar SRD's, dado que é obviamente muito mais frequente (provavelmente numa razão de 1000 para 1) a doação de SRD's do que a doação de cães de raça.
E será mesmo mais fácil dar cães que se parecem com cães de raça do que outros que não se parecem ? A Lara apresentou um exemplo em que sim, era. Mas poderemos daí partir para um caso geral ? Penso que só o podemos fazer se aliarmos a isso o "mercado alvo".
Para concluir, penso que pessoas dos tipos 1) ou 2) não adoptam cães que parecem ser de raça (caso não tenham posses optarão por não ter cão), e que as do tipo 3) usarão os seguintes factores diferenciadores na escolha de um cão:
a) Preço baixo / moderado
b) Parecença com um cão de raça
c) Sexo do animal