Sem me basear em qualquer estudo ou estatística, estou plenamente convencido de que a maioria dos donos de cães de companhia gostam deles, fundamentalmente, de forma egoísta e caprichosa. É que gostar ou mesmo amar é uma coisa mas amar com respeito pelo animal é outra coisa completamente distinta.
O mesmo se passa entre as pessoas. Por vezes gera-se um afecto complexo que não se sabe muito bem como deve ser interpretado. Eu diria, em última análise, que o amor é sempre egoísta. Dificilmente é incondicional e desinteressado: amo-te porque de algum modo me retribuis algo.
A grande questão está em avaliar-se se a intensidade do amor depende mais do afecto que damos ou mais do afecto que recebemos.
Nas nossas relações afectivas com os animais de estimação, se estas premissas não forem bem equacionadas, poderemos cair numa relação com eles que flui num único sentido, que se reduz ao nosso reconhecimento de que o cão é muito nosso amigo, muito leal, muito fiel e essas coisas todas. E como ele nunca nos trai e depende incondicionalmente de nós, até podemos abusar da sua paciência e por ex. deixá-lo horas seguidas sozinho em casa ou levá-lo à rua uma vez por dia e depois, então, compensá-lo com umas carícias quando tivermos tempo.
Um dos motivos por que bato sistematicamente na tecla da “humanização” dos cães é que essa tendência está latente nos mínimos pormenores. E um deles é o tratá-los com a mesmo egoísmo, deslealdade e hipocrisia com que as pessoas se tratam entre si.
