Mundo 'caniche'
ALFREDO MENDES
Galgo afegão, setter irlandês, husky siberiano, mastin dos Pirenéus, caniche apanascado, a canzoada pulula por aí envolvida em esmeros médicos, estéticos e alimentares de fazer remoer de inveja imigrantes do andaime ou vendedores de tapetes supostamente persas.
Vida de cão!
Rodeada de luxos, a bicharada de pelagem perfumada conspurca os jardins da cidade durante os passeios higiénicos. Merdalha promovida a danos colaterais, posto alguém desprevenido borrar o calçado e reagir, logo o dono rosna com costumeiro argumento «Não gosta de animais?!». Pronto, um cão-tinhoso, feitio rafeiro, quiçá ladrão ou ladra com mais permissividade às travessuras dos vira-latas nacionais.
Ah, sorte grande para os fifis da moda. Jamais acataram tanto miminho no estado a que isto chegou, bafejados pelo providencial Estado da solidão. É claro, no caos das discussões aziagas vêm-nos com a amabilidade dos irracionais face aos doentes e tristes, raças domésticas que servem de terapia a muitas crianças, guiam cegos, cães de guarda, cães de fila, cães-polícia de fantástica esperteza, só lhes falta falar para enriquecerem o mundo fabuloso de La Fontaine.
Pastores-alemães, da serra da Estrela, de Castro Laboreiro também desfilam nas passerelles públicas; atrás, esbaforido, aos saltinhos, sorriso alarve, o proprietário todo impante, mesmo que o doberman ou pitbull nos fareje as partes, urine nos pneus do automóvel, passe a focinheira sobre o cachorro do pequeno-almoço. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar, comentário do carteiro. «Olhe, há quem durma com eles, coma com eles, lhes beije a boca e apalpe... Bem, badalhoquices.»
Vem ao caso a história de Mindinha, senhora que hoje completa 70 anos. Parabéns. Empregada de limpeza de irrepreensível dedicação, ficou com a incumbência de ao longo do dia também cuidar de um lulu de grande estimação.
Porque a vida é madrasta, Mindinha vinha a pé de Oliveira do Douro até Areosa, coisa de dez quilómetros. Depois, cansada, ela nas arrumações e a patroa, do trabalho, a telefonar «Não se esqueça de lhe dar de comer». O quê? Do melhor que o talho encarna. «Não se esqueça de lhe dar de comer» e... então para mim?, foi cismando. Nem um pão mereço?
Até que um dia Mindinha tomou uma decisão. Lulu de dieta e para casa toca de levar a chichinha regalo do jantar. Certo é a patroa regressar ao lar, rejubilando ao verificar que o lulu devorara tudo do prato. Então...
«Tem de vir mais vezes. Consigo, o pequerrucho nem sequer um ossinho deixa.»
Mundo "caniche" retirado do DN
Moderador: mcerqueira
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Boa Tarde!!!
Este texto fez-me parecer, inventado e retirado de livros de "carochinhas e lobos mãos" e se "não comes a sopa vou chamar o papão e o cão da vizinha" e da educação do "antigo regime".......resumindo, retirado do fundo do baú da ignorancia e inquisição.
Que tristeza!!!!
Bye
Este texto fez-me parecer, inventado e retirado de livros de "carochinhas e lobos mãos" e se "não comes a sopa vou chamar o papão e o cão da vizinha" e da educação do "antigo regime".......resumindo, retirado do fundo do baú da ignorancia e inquisição.
Que tristeza!!!!
Bye
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periquito FALCANITO
Isto é a sério ?
É que me faz lembrar aqueles velhinhos ressabiados a quem a vida correu mal e que procuram, com olhos de lince, razões para protestar contra tudo e contra todos (o mundo tratou-os injustamente
e "hão-de me ouvir !").
Eu conheço um par deles.
Além de se queixarem do governo (quem é que não se queixa ?) queixam-se das crianças que fazem barulho,da vizinha porque deixa o carro mal estacionado, da juventude porque é inconsiderada, da câmara, do serviço nacional de saúde e do mais que apareça.
Em resumo, queixam-se da vida.
Digo isto porque o tom da escrita é o mesmo.
A mim parece-me uma "carta dos leitores".
Um professional da escrita não usa este tipo de escrita meia literária, meio retórica, sobretudo 'de outro tempo'.
Não impede que tenham, pontualmente, razão.
Há de facto um problema de falta de educação cívica mas que está longe de se limitar aos donos de cães - veja-se o trânsito, pe.
E depois gozam imenso com estas históriazinhas, no espírito da vingançazinha sonsa.
Há aqui, tanto na escrita como no espírito, falta de frontalidade.
De se preocupar menos com a forma e mais com o que se quer dizer.
E dizê-lo, de forma clara e objectiva.
É que me faz lembrar aqueles velhinhos ressabiados a quem a vida correu mal e que procuram, com olhos de lince, razões para protestar contra tudo e contra todos (o mundo tratou-os injustamente
e "hão-de me ouvir !").
Eu conheço um par deles.
Além de se queixarem do governo (quem é que não se queixa ?) queixam-se das crianças que fazem barulho,da vizinha porque deixa o carro mal estacionado, da juventude porque é inconsiderada, da câmara, do serviço nacional de saúde e do mais que apareça.
Em resumo, queixam-se da vida.
Digo isto porque o tom da escrita é o mesmo.
A mim parece-me uma "carta dos leitores".
Um professional da escrita não usa este tipo de escrita meia literária, meio retórica, sobretudo 'de outro tempo'.
Não impede que tenham, pontualmente, razão.
Há de facto um problema de falta de educação cívica mas que está longe de se limitar aos donos de cães - veja-se o trânsito, pe.
E depois gozam imenso com estas históriazinhas, no espírito da vingançazinha sonsa.
Há aqui, tanto na escrita como no espírito, falta de frontalidade.
De se preocupar menos com a forma e mais com o que se quer dizer.
E dizê-lo, de forma clara e objectiva.
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DESGOSTANTE
Só me ocorre uma ideia : quem escreveu este texto só pode ser infeliz e frustado.
É que só uma pessoa assim consegue encarar as coisas deste prisma, com todo este azedume
Que horror, antes achar que a vida é um mar de rosas.
Ao menos podemos andar enganados mas felizes ( até ao dia
)


Só me ocorre uma ideia : quem escreveu este texto só pode ser infeliz e frustado.

É que só uma pessoa assim consegue encarar as coisas deste prisma, com todo este azedume

Que horror, antes achar que a vida é um mar de rosas.
Ao menos podemos andar enganados mas felizes ( até ao dia

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Daqui tira-se já uma conclusão. O homem é mesmo um grande frustrado da vida, daqueles que está sempre mal e diz mal de tudo.
O motivo? Muito fácil também:
Nunca teve um cão. Nunca teve um animal que, com o seu carinho, afecto e inteligência, lhe amaciasse o coração. Quem tem um animal nunca mais na vida vai dizer coisas assim porque fica mudado para sempre.
Por isso tudo é que esse senhor está tão escamado... Diz mal porque também nunca experimentou e nunca tentou compreender o que sente uma pessoa que adora os animais.
O motivo? Muito fácil também:
Nunca teve um cão. Nunca teve um animal que, com o seu carinho, afecto e inteligência, lhe amaciasse o coração. Quem tem um animal nunca mais na vida vai dizer coisas assim porque fica mudado para sempre.
Por isso tudo é que esse senhor está tão escamado... Diz mal porque também nunca experimentou e nunca tentou compreender o que sente uma pessoa que adora os animais.
"Os velhos e o lobo mau
ALFREDO MENDES JORNALISTA
Lembro os livros de histórias infantis, a avó, bondosa, embalando ao colo o menino de olhos arregalados para o era uma vez uma princesa encantada, tranças cor de trigo. E com essas fantasias o menino sonhando... sonhando... contos fabulosos que acabavam sempre bem, o menino sonhando com animais que falavam, casas de chocolate e ruas de baunilha.
Era o tempo em que havia tempo e espaço, os avós viviam em casa, ele recordando viagens sem fim enquanto ela ensinava a temperar assados, a fazer compotas, a bordar guardanapos. Agora, pouco, quase nada se fala dos avós cheios de sabedoria e sacos de histórias de embalar, de sonhar... Fala-se da Terceira Idade, preocupação da sociedade, fardo de contas familiares e estatais. Fala-se do crescente envelhecimento da população, da esperança de vida que aumenta e transforma um cidadão de meio século num jovem vigoroso, menos no mercado de trabalho onde calhaus com dois olhos o encara como gravura rupestre.
O peso dos velhaças faz-se sentir nas despesas com lares e centros de dia, assistência médica e medicamentosa. Mas à linguagem fria dos números, é de ficar triste ao reparar nos avós empilhados em misericordiosos acolhimentos colectivos contando histórias de solidão sem casas de chocolate e ruas de baunilha. Sentem-se lixo tóxico, os nossos velhos, a velhacagem os colocou à margem da estrada do progresso, despojados de desejos, despidos de alegrias.
Falta-lhes migalhas de afecto, pingos de amor, ocupações que lhes adocem o inverno escuro. Infelizes, alimentam-se do passado, matam saudades no cemitério das flores de plástico.
A filharada, impotente ou mastigando remorsos, só pelo Natal os vão resgatar e nas rabanadas e nos sonhos os velhos ameigam o convívio, contemplam o presépio, olham o Menino com a mesma ternura com que olham a descendência. De costas voltadas, os netos encantam-se com jogos de guerra, cabeças decepadas e desprezam o cachecol crochetado pela avó. Finda a festa, os velhos devolvidos ao lar levando numa caixinha Tupperware os restos da consoada.
Este o arrastar da Terceira Idade arrebanhada durante as campanhas eleitorais, ou não decidisse juntas de freguesia, câmaras, governos, presidências da República. Quantas vezes, por essas ocasiões, no paul das promessas lhes escancaram portas a reformas chorudas; quantas vezes, por essas ocasiões, recebem na face os beijinhos de quem paulatinamente os votará ao desprezo, às reformas de ***. De quem, parece-me, já esqueceu as histórias de princesas encantadas, tranças cor de trigo. O joio vai à mesa de todos os orçamentos que o lobo mau abocanha."
in Diário de Noticias, 11 de Dezembro de 2002
Esta é uma crónia do tal senhor que devia andar a tomar lítio, talvez lítio não, que o lítio serve para outra coisa, tinha mesmo de ser um antipsicótico, porque quem vê estas coisas no nosso lindo país à beira mar plantada é no mínimo um esquizofrénico com graves alucinações e delírios...
ALFREDO MENDES JORNALISTA
Lembro os livros de histórias infantis, a avó, bondosa, embalando ao colo o menino de olhos arregalados para o era uma vez uma princesa encantada, tranças cor de trigo. E com essas fantasias o menino sonhando... sonhando... contos fabulosos que acabavam sempre bem, o menino sonhando com animais que falavam, casas de chocolate e ruas de baunilha.
Era o tempo em que havia tempo e espaço, os avós viviam em casa, ele recordando viagens sem fim enquanto ela ensinava a temperar assados, a fazer compotas, a bordar guardanapos. Agora, pouco, quase nada se fala dos avós cheios de sabedoria e sacos de histórias de embalar, de sonhar... Fala-se da Terceira Idade, preocupação da sociedade, fardo de contas familiares e estatais. Fala-se do crescente envelhecimento da população, da esperança de vida que aumenta e transforma um cidadão de meio século num jovem vigoroso, menos no mercado de trabalho onde calhaus com dois olhos o encara como gravura rupestre.
O peso dos velhaças faz-se sentir nas despesas com lares e centros de dia, assistência médica e medicamentosa. Mas à linguagem fria dos números, é de ficar triste ao reparar nos avós empilhados em misericordiosos acolhimentos colectivos contando histórias de solidão sem casas de chocolate e ruas de baunilha. Sentem-se lixo tóxico, os nossos velhos, a velhacagem os colocou à margem da estrada do progresso, despojados de desejos, despidos de alegrias.
Falta-lhes migalhas de afecto, pingos de amor, ocupações que lhes adocem o inverno escuro. Infelizes, alimentam-se do passado, matam saudades no cemitério das flores de plástico.
A filharada, impotente ou mastigando remorsos, só pelo Natal os vão resgatar e nas rabanadas e nos sonhos os velhos ameigam o convívio, contemplam o presépio, olham o Menino com a mesma ternura com que olham a descendência. De costas voltadas, os netos encantam-se com jogos de guerra, cabeças decepadas e desprezam o cachecol crochetado pela avó. Finda a festa, os velhos devolvidos ao lar levando numa caixinha Tupperware os restos da consoada.
Este o arrastar da Terceira Idade arrebanhada durante as campanhas eleitorais, ou não decidisse juntas de freguesia, câmaras, governos, presidências da República. Quantas vezes, por essas ocasiões, no paul das promessas lhes escancaram portas a reformas chorudas; quantas vezes, por essas ocasiões, recebem na face os beijinhos de quem paulatinamente os votará ao desprezo, às reformas de ***. De quem, parece-me, já esqueceu as histórias de princesas encantadas, tranças cor de trigo. O joio vai à mesa de todos os orçamentos que o lobo mau abocanha."
in Diário de Noticias, 11 de Dezembro de 2002
Esta é uma crónia do tal senhor que devia andar a tomar lítio, talvez lítio não, que o lítio serve para outra coisa, tinha mesmo de ser um antipsicótico, porque quem vê estas coisas no nosso lindo país à beira mar plantada é no mínimo um esquizofrénico com graves alucinações e delírios...
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periquito FALCANITO
Bem, este senhor corresponde ao perfil que eu tinha imaginado.
Não tenho qualquer dúvida que os velhos são as maiores vítimas do admirável mundo do consumo.
Mundo esse onde só tem valor quem produz ou consome.
Onde os valores da afectividade são reduzidos a marketing (a criança gosta do avôzinho por que ele lhe oferece XXX, o homem gosta da mulher porque ela usa KKK, para se ser amado é preciso gastar YYY, etc.).
Onde a felicidade é o isco, a ratoeira o produto e os ratos somos nós.
Precisam-se de pessoas alertas, conscientes do mundo em que vivem, capazes de ultrapassarem as armadilhas !
Precisa-se de uma cultura da contestaçao !
Da nova contestação.
Não tenho qualquer dúvida que os velhos são as maiores vítimas do admirável mundo do consumo.
Mundo esse onde só tem valor quem produz ou consome.
Onde os valores da afectividade são reduzidos a marketing (a criança gosta do avôzinho por que ele lhe oferece XXX, o homem gosta da mulher porque ela usa KKK, para se ser amado é preciso gastar YYY, etc.).
Onde a felicidade é o isco, a ratoeira o produto e os ratos somos nós.
Precisam-se de pessoas alertas, conscientes do mundo em que vivem, capazes de ultrapassarem as armadilhas !
Precisa-se de uma cultura da contestaçao !
Da nova contestação.