segunda fev 25, 2008 8:41 pm
A minha filha foi mordida na cara, quando tinha pouco mais de um ano, por um cão de casa. Além de ter que lidar com a culpa imediata de me ter afastado dela, com o desespero de ver a cara dela completamente ensanguentada sem perceber a extensão dos ferimentos, tive que agarrar no cão, ao colo, e fechá-lo à chave na casa de banho para evitar que fosse morto pelo pai da minha filha. Compreendi o desepero do pai e sobretudo compreendi imediatamente que se alguém ali tinha sido irresponsável e perigoso, fui eu e o pai dela. Foram menos de 2 minutos e ainda hoje acredito piamente que ele não teve a minima intenção de a morder, pelas circunstâncias em que ocorreu. Quanto ao cão, deixou de comer, beber ou reagir a qualquer estimulo (acreditem ou não, virado para uma parede que mais tarde, por piada, baptizamos de muro das lamentações) até eu o levar ao quarto, junto da minha filha, e a deixar abraçá-lo (ele retribuiu com as respectivas lambidelas). Durante o tempo em que ela andou a ser tratada lidei com todo o tipo de comentários, curiosamente o politicamente correcto nunca permitiu a alguém dizer que a culpa tinha sido minha, mas encontrei dezenas de pessoas que viam como única solução (e reposição de justiça) o abate do cão...o castigo. Uma amiga zangou-se a sério comigo por eu permitir que o cão continuasse a viver e, pior ainda, conviver com a minha filha. Até nos separarmos dele, 4 anos depois, ele foi um companheiro, amigo e protector dela e este foi, sem dúvida, um acidente estúpido, fruto da irresponsabilidade dos donos. A minha filha ficou fisicamente marcada, provavelmente para a vida, embora se limite agora a uma pequena cicatriz debaixo do olho. Mas acabam aí as marcas dela...tem agora 7 anos e percebeu a essência das coisas, melhor que muitos adultos "responsáveis". Adora cães e o sonho dela é termos mais um igual ao "agressor" o mais rápido possível, que por acaso não faz parte da lista dos P.P.
Com a partilha desta história pessoal quero apenas dizer que compreendo quem desiste de defender uma raça, de a ter...É verdade que o ser humano, que tem uma potencialidade bestial para realizar pequenos milagres, para nos brindar com a mais brilhante das inteligências, com comoventes sensibilidades, tem também uma facilidade impressionante de se transformar no mais estúpido dos estúpidos quando debita pseudo-conhecimentos...O que é realmente um perigo potencial é ouvir um ser humano falar daquilo que não sabe, mas temos que conviver com a realidade: A maioria das pessoas não está minimamente interessada em compreender o comportamento canino, em separar as àguas e comportar-se com responsabilidade e conhecimento. Sempre foi mais fácil falar do que aprender, estudar e analisar. Partindo deste principio, acredito mesmo que os donos dos "potencialmente perigosos", falo de donos a sério, deixem de ter qualidade de vida com os seus cães e aceito perfeitamente que ninguém tem paciência para "comprar" uma discussão surda, de cada vez que vá passear o seu cão. Eu fui quase insultada por ter um Rottweiler...porquê? Porque aconselhei um senhor a ir tomar um cházinho para os nervos quando ele deu um grito à mulher dele, que teve a ousadia de passar a uns bons 30 metros do cão assassino, que por sua vez estava a cometer a audácia de fazer um xixi...
Pronto, acabo aqui...compreendo quem desiste. Ponto final.