LuMaria Escreveu:Boa tarde a todos![]()
Apetece-me dissertar sobre cães de cidade e "donos" citadinos. Detesto a palavra dono e não a aplico no dia a dia, mas utilizar a palavra amigo, a minha preferida, talvez fique aqui à toa.
A maioria, grande maioria dos cães, vive sózinho entre 4 paredes das 8 h às 18 horas. Se tiver a casa toda é um lord, o mais certo é ter mais portas fechadas do que abertas.
Às 8 vem 10 minutos à rua para aliviar a bexiga e volta a trote porque o relógio não pára e o pessoal precisa trabalhar. Come, vê os donos sairem et voilá, solidão. Solidão atroz. E as horas para um cão devem parecer intermináveis e o dia deve custar a passar. Chega o dono, que com sorte o leva 10 ou 20 minutos à rua e lá volta para casa. Janta e talvez antes de dormir vá à rua outra vez. Vem a noite, vem o dia e é sempre tudo tão igual. Há animais que desfrutam pelo menos da companhia de outros, mas não são tantos assim. E mesmo a companhia não compensa a solidão a que são submetidos a maior parte do dia.
Juntemos a isto a inaptidão da maioria dos "donos" que nem conseguem ensinar o cão a fazer o xixi no jornal. A maioria das pessoas não se consegue fazer explicar ao cão. No auge do desespero vai aplicando todas as técnicas que ouve e coerência é coisa que não existe. O animal não compreende o dono. Não compreender o dono provoca um afastamento do animal em relação ao dono, um afastamento que nem o dono percebe. Um cão, só confia no seu dono se o entender. Se o meu animal não me perceber não confia em mim.
E esta parte é muito interessante, remete-nos para outro campo, para o campo do "o meu cão arreganhou-me a taxa". Resposta chapa 20, é fácil, o cão quer subir na hierarquia. O meu cão não me deixa tirar o osso, quer subir na hierarquia ou está obsecado. Quer dizer, o meu dono dá-me um osso e a seguir não me deixa em paz? Porque raio me tira o osso? Que treta é esta? Estou feliz com o osso, é meu, se calhar o melhor momento em dias. Mas não, todos querem subir na hierarquia.
Não. Não me parece. Parece-me sim que a relação dono/cão não existe. O cão não compreende o dono, o dono não compreende o cão. O cão, na maioria das vezes, tem medo do dono, porque simplesmente não o entende.
O meu cão ladra em casa, coleira eléctrica, um calmante. Fale com a veterinária. O meu cão roi a pata, persegue o rabo, um calmante, fale com a veterinária. O meu cão come mal, o meu cão isto e aquilo... O meu cão não me deixa mexer no prato. Isso é fácil, tire e ponha o prato até parar de rosnar. Esta teoria é brilhante. Na cabeça do cão que já não entende o dono, este tira põe faz todo o sentido. Só um cão muito burro não percebe.
Quantas vezes já ouvi, não cheires o cócó podes ficar doente. Não cheires o rabo ao cão que nojo. Bolas! Ele é cão. Cheira rabos! Então é nojo ser cão. Oiço destas tangas diáriamente. Há cães que nunca correram, nunca pisaram a relva, não convivem com nada nem ninguém. E falamos de muitos cães, talvez a maioria.
No meio disto tudo, estas regras aplicam-se a cães que vão desde o 1.5 Kg até aos 80 Kg. Cruel. E quanto maior o tamanho, mais cruel a prisão.
Condicionamo-los às nossas vontades sejam elas quais forem. Castramo-los, esterilizamo-los, amputamos-lhes caudas e orelhas. Queremo-los ao nosso lado cheirosinhos e bonitos a portarem-se bem, como lindos meninos! E todos adoram cães e todos os cães são muito felizes, porque têm uma casinha, comidinha boa e até vão ao veterinário com regularidade.
Mas qual cão? Onde está o cão? Se a minha maneira de gostar deles é tresloucada, ainda bem que assim é.
Desculpem o testamento mas eu adoro com paixão o fiel amigo cão!
Muito bem! Subscrevo totalmente
Quanto ao texto do António luís Pacheco considero que está excelente
Os cães são animais e como todos os animais foram criados pela natureza para viverem em liberdade, por outro lado são domésticos o que significa que foram seleccionados pelo homem para viverem perto de nós, logo o ideal é que vivam em liberdade e perto do homem. Muitas raças de cães também foram seleccionadas para trabalho, muitas vezes trabalhos duros e intensos. Estes cães foram-se adaptando, física e psicologicamente, a um tipo de vida que temos que respeitar minimamente caso contrário temos animais desequilibrados e a causarem problemas ao tentarem dar vazão aos seus instintos de caça, de presa de defesa, etc.
É claro que os cães são dos animais que têm melhor capacidade de adaptação e muitos deles (nem, todas as raças) se adaptam à vida num apartamento desde que tenham momentos de escape para os seus instintos e para o excesso de energia.
A vida de apartamento e saída à trela para o xixi é um crime para qualquer animal, muito mais para um cão que é um desportista por natureza. O cão, para além das características específicas de cada raça, é um corredor de fundo um animal errante por natureza e tem necessidade de grandes caminhadas e correrias em liberdade e de preferência em matilha.
Sou um apaixonado por Dogos Argentinos e conheço vários exemplares desta raça, uns de companhia e outros de trabalho, com os quais costumo caçar. Posso-vos dizer que comparar um Dogo de caça com um de companhia (dependendo do tipo de companhia) é como comparar duas raças diferentes. Os Dogos de caça são maduros, muito calmos, completamente equilibrados e não atacam outros cães nem pessoas pois não têm instintos reprimidos. Os Dogos de companhia olham para todos os animais que vêm na rua (incluindo os outros cães) com instinto de caça, se um cão destes se escapa da trela dá-se logo um acidente. Os de caça andam sem trela, em matilha, no meio de mais de 100 cães desconhecidos, muitas pessoa, algazarra e muito barulho; desconhecidos que lhe tiram dos dentes a presa que o cão acabou de caçar e eles não mostram o mínimo de nervosismo ou agressividade.
Os cães são excelentes companheiros, mas não nos esquecemos que dentro de cada cão há um lobo. Se cada um de nós se lembrar disto os cães agradecem.
Caso contrário, o melhor é um peluche, que tem uma capacidade adaptação à moderna vida urbana muito melhor.
Cumprimentos
Francisco Bica