ontem estava eu a olhar para as prateleiras de livros do meu pai à procura de um livro para secar uma folha de roseira, quando vejo um livro cujo título me deixa curiosa, após ler um pouco fiquei a gostar muito da maneira como o autor fala da humanidade, e dos problemas da civilização e humanidade do ser humano.
Deixo-vos aqui um excerto que simplesmente me fascinou:
“O animal em todos nós”
“ Estamos mal. A procissão vai no adro. A Idade da Pedra não só começou mal como mal começou. Estamos a matar-nos todo uns aos outros. Não percebemos nada. (…)
Somos ainda selvagens. Somos macacos (…) Somos praticamente tão peludos e estúpidos como os chimpanzés. O que nos distingue, tal como os chimpanzés, é a mania de que somos bons.
Estamos atrasados. O nosso atraso não é tecnológico. É civilizacional. (…)
(…) O principal sinal de humanidade é a maneira como os seres humanos tratam os animais. O ser realmente humano seria incapaz de tratar mal um animal. O ser realmente sensível e pensante, carinhoso por sentimento e prestável por sistema, teria a delicadeza da superioridade. Há-de reparar-se que as pessoas e as civilizações mais brutas são as que mais maltratam os animais. É preciso ter um mínimo de humanidade para se ter pena dos bichos. Os bichos não são gente, mas não têm culpa de não ser. Nós temos.
Por enquanto ainda tratamos os animais como os animais que somos. Tratamo-los como eles, caso mandassem nos seres humanos, nos tratariam a nós. Só que pior. Matamo-los, comemo-los, batemo-lhes, abandonamo-los. Tratamo-los como iguais, porque ainda somos iguais a eles. Os animais tratam mal os animais diferentes deles. No dia em que formos superiores cuidaremos deles como deve ser.(…)
(…) O progresso é uma parvoíce. Pelo menos enquanto continuarmos a ser os animais que somos.”
Explicações de Português de Miguel Esteves Cardoso, (Cap.:A única natureza é a humana - O animal em todos nós)